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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Há um tipo de terapia em que o paciente fala e o terapeuta não diz nada?

Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

05/01/2024 04h00

No trabalho terapêutico, a linguagem verbal tem papel fundamental, pois é por meio dela que se estabelece uma relação de confiança, compreensão e colaboração entre o profissional e o paciente. Por mais que muitos achem que o terapeuta fique falando, indicando qual caminho de pensamento seguir, nem toda linha terapêutica funciona dessa forma.

Desenvolvida pelo psicólogo americano Carl Rogers, a abordagem centrada na pessoa é uma linha terapêutica humanista que valoriza a experiência subjetiva do sujeito e o seu potencial de crescimento, mas sem que o terapeuta interfira ou direcione o processo. Nesse método, o profissional escuta e reflete o que o paciente diz, mas sem julgar, interpretar ou concluir algo.

O objetivo é facilitar o autoconhecimento e a autoaceitação, respeitando o ritmo do paciente e sua experiência.

Há também a terapia lacaniana, baseada nas ideias do psicanalista francês Jacques Lacan. Ela é famosa por manter o silêncio no processo terapêutico, informa Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria.

"Na terapia lacaniana, o terapeuta busca ao máximo não fazer interrupções, para não influenciar o que o inconsciente do paciente quer externalizar, o seu processo de contato consigo mesmo e de evolução interior", explica Scocca. Segundo o psiquiatra, nessa linha o paciente precisa deixar que todas as suas impressões venham à tona durante a sessão, sem ter seu raciocínio lógico e subjetivo prejudicado.

Vale saber que, no geral, a linguagem verbal não é o único recurso que o terapeuta pode utilizar para auxiliar o paciente. O especialista pode recorrer a técnicas e ferramentas específicas de sua abordagem teórica, como o uso de imagens, jogos, desenhos, tarefas táteis e expressivas, que podem estimular criatividade, imaginação, habilidades e levar à resolução dos problemas do paciente.

Autistas, por exemplo, que podem ter dificuldades na linguagem verbal, podem interagir melhor de outras formas. Portanto, a linguagem verbal é importante, mas não é a única para o trabalho terapêutico. É preciso considerar os aspectos individuais, culturais e situacionais de cada paciente e adaptar a comunicação de acordo com as suas necessidades e preferências.

Terapeuta deve falar?

O papel do terapeuta não é dar conselhos ou dizer o que o paciente deve ou não fazer, mas ajudá-lo a encontrar as suas próprias respostas e soluções. Ele também não é juiz ou crítico, mas um facilitador e apoiador do processo de autoconhecimento e mudança. Assim, não há resposta para quando a fala do paciente deve ser pontuada, nem hora definida.

"Entretanto, com base na escuta, observação e percebendo que há muita relevância no que o paciente está apresentando, o psicólogo pode pontuar sua fala, para que reflita sobre", explica Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS. Essa intervenção deve ser feita com respeito, sem julgamentos ou imposições, compreendendo o ponto de vista do indivíduo.

Às vezes o psicólogo também pode ficar em silêncio, mas isso não significa que ele não esteja prestando atenção ou que não se importe, diz Scocca. O silêncio tem várias funções, como dar espaço para o paciente se expressar, explorar novos assuntos e permitir ao terapeuta que analise suas emoções, comportamentos e o compreenda para saber como trabalhar com ele.

E se o paciente requer feedback?

O paciente não deve se preocupar ou se sentir frustrado se o terapeuta não diz nada ou não faz nenhum apontamento. Mas, na dúvida, pode perguntar a ele o que está pensando ou o que espera, para esclarecer qualquer dúvida ou mal-entendido. Também pedir para que explique como funciona sua abordagem teórica, antes de aceitar o tratamento, complementa Busin.

"Existe uma tendência a não respondermos diretamente e dar logo um aconselhamento. É importante tentar implicar o paciente na circunstância, às vezes, devolvendo-lhe a pergunta. Podemos ajudar no processo de esclarecer o que o bloqueia para a tomada de decisão, mas decidir é algo que exige um processamento mental complexo, com múltiplas influências, tanto próprias, do paciente, quanto sociais", esclarece Felipe Mota, psiquiatra e professor da Afya Educação Médica de Fortaleza (CE).

Se necessitar de conselhos, mas não obtiver, não se deve forçar o terapeuta a dizer algo, afinal as opiniões e os valores pessoais dele podem ser diferentes e não devem ser misturados. Nesse caso, o melhor a se fazer é tentar entender o motivo pelo qual se busca por orientação externa, ou ter uma conversa íntima com familiares e amigos. Além disso, estar disposto a se abrir, ouvir, inclusive opiniões contrárias, questionar-se e querer se transformar.

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