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Escapamento, brasas, queimada: quais os efeitos da fuligem para organismo?

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

06/06/2022 04h00

Com a aproximação do inverno, mais recorrente acaba sendo o fenômeno atmosférico da inversão térmica, quando, por causa da descida do ar frio e mais denso próximo ao solo, poluentes ficam retidos nas cidades.

Nessa camada tóxica se concentram gases provenientes de chaminés de fábricas, escapamentos de veículos, podendo ainda engrossá-la as queimadas, já que no inverno o clima é mais seco e venta bastante, o que propaga facilmente o fogo.

Como se não bastasse respirarmos tudo isso, ainda estamos sujeitos a danos oculares e gastrointestinais —e que podem comprometer a saúde como um todo. Os poluentes entram em contato com olhos, vias aéreas e ainda podem contaminar os alimentos que gostamos de consumir, preferencialmente quando em baixas temperaturas, como pães bem tostados, pizzas e churrasco, também consumido no calor.

A fuligem obtida da combustão parcial de compostos como madeira, carvão e petróleo é extremamente tóxica e poluente. Por suas partículas serem muito finas e leves, fica suspensa e pode provocar, quando em contato com o organismo humano, mal-estar, irritação nos olhos, garganta e pele, dor de cabeça, tontura, náuseas, bronquite, asma, pneumonia e até cânceres.

Efeitos no sistema respiratório

Poluição ambiental - Schroptschop/iStock - Schroptschop/iStock
Imagem: Schroptschop/iStock

De acordo com Gustavo Mury, médico pela FURG (Universidade Federal do Rio Grande) e otorrinolaringologista, de modo geral, poluentes e suas grandes concentrações gerados por queimadas, motores de automóveis, indústrias e até mesmo cigarro causam ou agravam problemas de saúde, principalmente relacionados a doenças respiratórias, como ainda podem intoxicar, levando à insuficiência respiratória, a depender da quantidade inalada.

"Causam alterações e danos oxidativos nas células, levando a proliferação de células desordenadas, alterações genéticas e câncer de pulmão e vias áreas", acrescenta Mury. Tem mais.

Segundo ele, amparado por estudos científicos, estão muito mais sujeitos a ter danos causados por uma exposição longa às partículas próprias da fuligem, chamada de carbono negro, pessoas que vivem em áreas de tráfego intenso e profissionais expostos ao tempo.

É o caso de motoristas, trabalhadores de construção civil, vendedores ambulantes, entre outros. Em 2021, pesquisadores do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica, publicaram na revista internacional Environmental Health Perspectives que voluntários muito expostos à fuligem, após cerca de 30 anos, possuem um risco aumentado de câncer em geral em torno de 20% em comparação com os menos expostos e de 30% para câncer de pulmão.

Olhos que ardem e ficam vermelhos

Olho vermelho - iStock - iStock
Imagem: iStock

A sujeirada presente no ar também faz um tremendo mal aos olhos. Além do quadro irritativo, citado no início desta reportagem, podem ocorrer lesões, como ceratites (nas córneas), conjuntivites químicas, além de outros processos inflamatórios.

Com o excesso de poluição, a produção de lágrimas, que agem como lubrificantes naturais da visão, também fica comprometida, gerando secura e facilitando todos os problemas apontados e infecções.

"Isso não significa que todos vão ter (alterações oculares). No caso dos moradores de grandes cidades, como São Paulo, as pessoas já estão adaptadas, mas uma pessoa que não more em ambientes assim terá mais probabilidade de sentir essas condições, principalmente se a qualidade do ar estiver ruim", diz Leonardo Marculino, oftalmologista do Hospital Cema, em São Paulo.

Outro oftalmologista, Otacílio Maia Junior, do Hospital São Rafael, da Rede D'Or, em Salvador (BA), fala sobre os riscos de fogueiras e fumaça: "As partículas geradas pela queima provocam sensação de areia e lacrimejamento, além de vermelhidão, dor, ardor, fotofobia, se aderidas no interior das pálpebras. Em acidentes, a orientação imediata e mais segura é lavar a região com soro fisiológico ou água corrente, sem esfregar, e buscar um serviço de emergência".

Perigos que rondam alimentos

Pizza no forno a lenha - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Não importa se é pão, carne, legume, massa de pizza, uma vez com crostas e fuligem de queimado, já oferecem perigo. Pode ser gostoso, mas contém HPAs (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), e outros compostos, como acrilamida e furano. Substâncias nocivas que, quanto mais carbonizado, escuro e forte o cheiro do alimento, principalmente grelhados ou assados direto na brasa e carvão, maiores suas concentrações e que podem levar a mutações e câncer.

Comer esse tipo de alimento vez ou outra não oferece grandes problemas, mas, com bastante frequência e em porções generosas, sim. Fora o risco relacionado à quentura, aponta Juliana Brasil, estomatologista pelo Hospital Heliópolis e da Clínica de Oncologia Clinonco, ambos em São Paulo.

"O consumo de comidas muito quentes pode alterar o paladar assim como causar lesões nos tecidos, às vezes graves, ficando um alerta para o risco de câncer de boca, faringe e esôfago", explica a estomatologista.

Deixar o alimento esfriar antes de ingeri-lo é muito importante, mas raspar a parte queimada dele não resolve muito. O melhor, quando for preparar algo na brasa, é usar alumínio para envolver e, no fogão, tomar cuidado para não esquecer panelas e assadeiras e a comida pegar no fundo.

Já o uso de forno elétrico ou torradeira não contribui para a formação e retenção de substâncias perigosas, de acordo com um trabalho publicado no periódico Food Chemistry.