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Farmacêutica testa vacina contra Alzheimer em humanos; entenda a pesquisa

Estudo, em fase inicial, conta com 26 participantes Imagem: iStock

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

20/11/2021 12h48

No final de outubro, uma vacina contra Alzheimer começou a ser testada em humanos, segundo informou a biofarmacêutica sueca Alzinova AB, responsável pela tecnologia.

De acordo com a empresa, o foco da vacina é atacar o acúmulo anormal da proteína beta amiloide, uma das responsáveis por causar a doença neurodegenerativa e sem cura, que afeta a memória, o comportamento e outras funções mentais de forma progressiva.

Além da beta amiloide, a proteína tau também forma esse depósito anormal. Em um processo natural, as enzimas seriam capazes de "quebrar" essas proteínas e eliminá-las, mas quem tem Alzheimer apresenta um mecanismo diferente.

"Em quem tem a doença, essas proteínas são quebradas em pedaços maiores, que se acumulam e formam as placas no cérebro", explica Gustavo Alves, farmacêutico, doutor em biotecnologia e pesquisador de Alzheimer da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. "Essa vacina vai impedir que a proteína beta amiloide em pedaços maiores seja formada", diz.

Entenda a pesquisa

O estudo com a vacina ALZ-101 será randomizado e duplo-cego (quando o participante e o pesquisador não sabem quem recebeu placebo ou a vacina).

Nesta primeira fase, os cientistas vão avaliar a segurança e a tolerância do medicamento, além da resposta imunológica e biomarcadores associados ao Alzheimer.

No total, 26 pessoas com sintomas iniciais da doença participam desta etapa. Entre elas, uma parte vai receber quatro doses de vacina e a outra, de placebo.

O estudo também vai analisar o uso de duas dosagens diferentes da vacina durante um período de 20 semanas —para testar a quantidade de doses que seria indicada.

O que dizem os especialistas?

De acordo com Paulo Camiz, clínico geral e geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, até o momento, todos os medicamentos testados para reverter sintomas de Alzheimer, quando eles já começaram, falharam. "O que acontece, no máximo, é atrasar a progressão da doença, mas sem reverter o processo", diz.

Com essa busca pela vacina, o médico acredita que a ideia, agora, é tratar as pessoas que apresentam o depósito dessas proteínas no cérebro em fase inicial, sem sintomas da doença. "Nesta pesquisa, os participantes estão em fase inicial. Precisamos acompanhar para ver o que acontece."

Já o pesquisador de Alzheimer da USP vê o estudo de outra forma. Segundo Alves, nos últimos anos, a proteína beta amiloide deixou de ser o foco principal dos estudos relacionados com a doença.

"A ciência é muito dinâmica. Nos últimos 5 anos, muita coisa mudou. A beta amiloide deixou de ter o 'status principal' e a proteína tau ganhou esse destaque. Por isso, há novas pesquisas muito mais focadas na tau", diz.

No entanto, novas tecnologias focadas na doença neurodegenerativa mais frequente que existe na espécie humana são vistas com esperança. Segundo a farmacêutica, os dados do estudo da vacina ALZ-101 estão previstos para o segundo semestre de 2023.

Primeiros sintomas do Alzheimer

A perda de neurônios, a terceira principal característica do Alzheimer, além do acúmulo de beta-amiloide e de tau, leva o cérebro a encolher em algumas áreas. A primeira região afetada é o hipocampo, responsável pela memória e o aprendizado.

Nossas lembranças mais importantes são consolidadas em outra parte do cérebro, e não são implicadas tão cedo. Mas a formação de novas memórias é comprometida.

Dificuldades para resolver problemas ou atividades antes apreciadas também podem se destacar no início, e podem ser interpretadas como ansiedade, desinteresse ou depressão.

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