Coronavírus: conversa normal pode espalhar gotículas a até 2 m, diz estudo
Bruna Alves
Do VivaBem, em São Paulo
29/09/2020 13h38
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e da Universidade de Montpellier, na França, mostrou que uma conversa normal, que temos diariamente com outras pessoas, cria um fluxo de ar cônico, semelhante a um jato, que rapidamente carrega gotas minúsculas da boca de uma pessoa para até 2 metros de distância.
Com a facilidade de disseminação do novo coronavírus, os pesquisadores alertam para possíveis transmissões em conversas comuns. "Não é apenas perto da sua cabeça, está na escala de metros", disse Howard Stone, professor de Engenharia Mecânica e Aeroespacial na Universidade de Princeton.
Os cientistas ainda não conseguiram identificar totalmente os mecanismos de transmissão da covid-19, no entanto, pesquisas recentes indicam que pessoas sem sintomas podem infectar outras por meio de gotículas quando falam, cantam ou riem.
Por isso eles queriam entender como o material exalado por um alto-falante médio pode se espalhar rapidamente em um espaço interior.
Como foi feito o estudo?
- O trabalho examinou o fluxo de partículas em um espaço interior sem boa ventilação;
- Usando uma câmera de alta velocidade, eles filmaram o movimento de uma névoa de minúsculas gotículas iluminadas por uma folha de laser, na frente de uma pessoa que falou várias frases diferentes adjacentes à folha;
- As frases variaram de afirmações curtas como "vamos vencer o vírus corona" a canções de ninar;
- As frases foram selecionadas para incluir sons diferentes que afetam fluxos turbulentos na exalação de um alto-falante.
E quais foram as conclusões?
Os pesquisadores concluíram que conversas normais em ambientes internos, como escritórios por exemplo, podem espalhar o material exalado pelo menos até 1 metro de distância e pode chegar a 2. Já as conversas mais longas têm potencial de espalhar o vírus por uma distância maior.
"Se você falar por 30 segundos em voz alta, vai projetar o aerossol a mais de 1,80 m na direção de seu interlocutor", afirma Stone.
Além disso, os resultados mostraram que sons "plosivos" como 'P' criam ventos fortes de ar na frente do alto-falante, enquanto uma conversa comum cria uma sequência desses ventos fortes.
Contudo, os cientistas ressaltaram que não são especialistas em saúde pública, e não estão fazendo recomendações médicas, mas consideram importante as autoridades levarem em conta o movimento aerodinâmico dessas partículas geradas apenas pela fala, pois trata-se de um fator importante para a propagação direta do vírus.
"Isso certamente destaca a importância da ventilação. Especialmente se você tiver uma conversa longa", finaliza Stone.