Poluição do ar está ligada ao aumento do risco de demência, diz estudo
Do UOL VivaBem, em São Paulo
24/09/2018 19h56
A poluição do ar é um fator de risco conhecido para doenças respiratórias e cardíacas, mas sua relação com problemas neurodegenerativos ainda não estava clara para a ciência.
Para esclarecer isso, um estudo publicado no periódico BMJ Open usou estimativas cuidadosamente calculadas do nível de poluição do ar em Londres e avaliou possíveis ligações com novos diagnósticos de demência. A pesquisa conclui que pessoas que vivem em áreas com taxa elevada de certos poluentes correm um risco 40% maior de desenvolver doenças.
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Os cientistas utilizaram registros anônimos de saúde de pacientes do Data Link Research Clinical Practice Research (CPRD) --que coleta informações desde 1987. Foram escolhidas 131.000 pessoas com idade entre 50 e 79 anos em 2004 e que não tinham diagnóstico de demência.
Com base nos códigos postais residenciais dos pacientes, os pesquisadores estimaram sua exposição anual aos poluentes do ar --especificamente dióxido de nitrogênio (NO2), material particulado fino (PM2,5) e ozônio (O3) -- bem como a proximidade de tráfego nas ruas e rodovias.
A saúde dos participantes foi então monitorada por uma média de sete anos, até um diagnóstico de demência, morte ou mudança para outra cidade, o que ocorresse primeiro.
Durante o período de acompanhamento, 2181 pacientes (1,7%) foram diagnosticados com demência, incluindo Alzheimer.
Os diagnósticos de demência foram associados a alto nível de poluição. Aqueles que viviam em áreas com taxa elevada de NO2 correram um risco aumentado de 40% de serem diagnosticados com demência. Um aumento similar no risco foi observado para maiores níveis de PM2,5.
Essas associações foram consistentes e não poderiam ser explicados por fatores já conhecidos, como tabagismo e diabetes.
Este é um estudo observacional e, como tal, não pode estabelecer causa, e os resultados podem ser aplicáveis apenas a Londres. Os pesquisadores também não conseguiram obter exposições em longo prazo, o que pode ser relevante, uma vez que a doença de Alzheimer pode levar muitos anos para se desenvolver.
Os cientistas ainda apontam que muitos fatores podem estar envolvidos no desenvolvimento da demência, cuja causa exata ainda não é conhecida, e embora existam vários caminhos plausíveis para os poluentes do ar chegarem ao cérebro, como eles podem contribuir para a neurodegeneração não é claro.
"No entanto, a poluição do ar relacionada ao tráfego tem sido associada ao pior desenvolvimento cognitivo em crianças pequenas, e a exposição significativa continuada pode produzir neuroinflamação e alterações nas respostas imunes inatas do cérebro no início da idade adulta", afirma a equipe.
A conclusão do estudo é que, mesmo que o impacto da poluição do ar fosse relativamente modesto, os ganhos de saúde pública seriam significativos se a redução de fato tiver um impacto na redução das chances de demência.