Descobrindo o HIV

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Tratamento e Vida plena

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Indetectável

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Preconceito

São necessários informação, testagem e acolhimento para combater o HIV e seus estigmas

Longe de ser uma sentença de morte, como foi considerado na década de 80, o HIV é um vírus com o qual milhares de pessoas convivem, sendo muito presente no cotidiano brasileiro.(3) Há estimativa aproximada de mais de 920 mil pessoas vivendo com HIV no país (4) e, no mundo, esse número sobe para 38 milhões, com 67% tendo acesso ao tratamento antirretroviral (TARV), de acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).(1)

É possível estimar o impacto que a pandemia de Covid-19 teve no diagnóstico do HIV e no volume de exames realizados através da comparação dos nove primeiros meses de 2019 e 2020. Nesses períodos é possível observar uma queda de 26% no número de PVHIV que realizaram o primeiro CD4 ou CV antes do início da TARV, e uma diminuição de 20% no número de PVHIV que iniciam a TARV.(4)

Com testagem, início de tratamento precoce e boa adesão aos medicamentos antirretrovirais, o vírus se torna indetectável no organismo - a chamada carga viral indetectável. Isso significa mais qualidade de vida para quem convive com o HIV e chances quase nulas de transmissão do vírus para outra pessoa por via sexual. Com boa adesão ao tratamento antirretroviral, diminui-se as chances de transmissão da mãe para o filho durante a gestação ou no nascimento.(5)

O dia a dia das pessoas que vivem com HIV e estão em tratamento é igual ao de pessoas sem HIV, com as mesmas recomendações de saúde: alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e acompanhamento médico periódico. E embora a diferença na rotina seja apenas a responsabilidade de realizar o tratamento com medicamentos, ainda há estigmas sociais a serem quebrados (5).

A vida com HIV

Segundo a infectologista Romina Oliveira, a recomendação nacional de tratamento para todos, o chamado 'tratamento precoce', feito logo em seguida ao diagnóstico, é responsável pelos bons resultados em melhoria de qualidade de vida e sobrevida aumentada para pessoas vivendo com HIV (PVHIV).(5) "Hoje em dia é considerada uma doença crônica estável", afirma.

Com todas as iniciativas, o Brasil segue rumo à meta 90-90-90 da ONU, que prevê um futuro em que: 90% das pessoas vivendo com HIV saberão que têm o vírus; 90% receberão terapia antirretroviral ininterruptamente; 90% de todas as pessoas recebendo terapia antirretroviral estarão indetectáveis.(5)

O preconceito em relação às pessoas que vivem com o vírus ainda existe, e é justamente isso que o comunicador Lucas Raniel, 28, quer mudar. Por meio de postagens em seu perfil no Instagram e no Youtube, ele procura esclarecer seus seguidores sobre os mitos e as verdades da convivência com o HIV.

Há sete anos, Lucas descobriu que vive com HIV. A provável transmissão aconteceu através de uma relação sexual sem preservativo depois de uma festa de faculdade. Ele começou então a sofrer com doenças oportunistas, até que um médico decidiu pedir uma série de exames de sangue, entre eles o teste de HIV.

"Estou indetectável, vivo minha vida tranquilamente. Faço absolutamente tudo o que eu quero fazer, tudo o que uma pessoa que não vive com HIV faz. Mas a minha liberdade anda junto com a responsabilidade, todo mundo deve fazer gerenciamento de riscos", afirma ele, que a cada seis meses realiza um check-up médico no SUS.

A vida é tão diferente hoje que pessoas mais jovens, quando recebem o resultado reagente para HIV, falam logo que não é o fim do mundo, que vão tomar o medicamento e que ficará tudo bem. Mas não são todos, ainda há muito estigma, especialmente dentro de casa. As pessoas não falam sobre sexo ou sobre prevenção.

Lucas Raniel

Lucas Raniel, Comunicador

Deu positivo

Um dos mitos que rondam o HIV é o de que quem convive com o vírus, necessariamente, desenvolverá AIDS, e isso não é verdade. Após a testagem e diagnóstico de infecção pelo HIV, seguindo o tratamento correto, a pessoa pode tornar-se indetectável. Indetectável é o mesmo que intransmissível, ou seja, a pessoa que vive com HIV não transmite mais o vírus por via sexual.(5)(6)

Podemos ver o reflexo da importância do tratamento da pessoa vivendo com HIV, quando vemos que de 2013 (ano da implementação do tratamento para todos) a 2018, o Brasil apresentou uma queda de 16,8% na taxa de novos casos e 22,8% na taxa de mortalidade das pessoas que vivem com HIV.(7)

A condição de viver com HIV pode ser mantida sem desenvolver a AIDS (doença). Esse cenário tão promissor existe, principalmente, quando o diagnóstico é o mais precoce possível, com estabilidade clínica e sem sinais de infecções oportunistas, como tuberculose e meningites.

Romina Oliveira

Romina Oliveira, Infectologista

A maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se na faixa de 20 a 34 anos, com percentual de 52,7% dos casos.(7) No mundo, cerca de 5,5 mil mulheres de 15 a 24 anos contraem o HIV a cada semana, de acordo com o relatório mais recente do UNAIDS.(1)

A escritora Thais Renovatto, 37, tinha 30 anos quando contraiu HIV. A transmissão aconteceu por relação sexual sem proteção com um namorado. "Ficamos juntos pouco mais de um ano e ele ficou doente, teve uma pneumonia e depois outra. Ficou internado, cada vez pior, até que precisou ser entubado. Quando a família viu que ele não ia mais acordar, resolveram me contar que ele tinha AIDS no estágio terminal. Eu fiz o teste e descobri."

Tive sintomas, mas achava que estava mal por causa da pressão do trabalho. A gente transava sem camisinha, eu tomava anticoncepcional e, na ignorância, nunca pedi uma série de exames para ele. Fazendo as contas, uns 60 dias depois que tiramos a camisinha eu comecei a ficar doente, minha resistência caiu muito, tive várias doenças juntas.

Thais Renovatto

Thais Renovatto, Escritora

Thais iniciou o tratamento alguns meses depois do diagnóstico e segue à risca as orientações médicas até hoje. Isso possibilitou que ela atingisse a carga viral indetectável e pudesse realizar o desejo de gerar um bebê e ser mãe. "Os médicos me orientaram sobre uma série de protocolos que eu teria que seguir, e seguindo tudo nós reduziríamos a quase zero a chance de transmitir HIV para os bebês."

Ela e o marido, Rodrigo, que é sorodiferente (ele não vive com HIV), são pais do João, 3, e da Olivia, 2. A história da família foi retratada por Thais no livro 5 anos comigo. "Sempre avaliei minha vida como bastante normal. Eu vivo bem com HIV. O acolhimento é primordial para a aceitação, porque acho que se eu fosse excluída pelas pessoas que eu mais amo, com certeza não teria escrito um livro ou feito absolutamente nada. Eu tive essa experiência, mas muita gente não tem, os pais viram as costas, os parceiros abandonam."

O relatório do UNAIDS de 2020 aponta que, globalmente, o risco de infecção pelo HIV é 13 vezes maior para pessoas trans.(1) Um estudo recente realizado pela Fiocruz mostra que as taxas de infeccção por HIV foram muito altas em travestis e mulheres trans no Brasil, sendo a maior delas encontrada em Porto Alegre, onde 65,3% das pessoas estudas apresentavam HIV e a menor delas em Curitiba, onde esse número é de 19,7%.(14)

Mais do que estatísticas, as mulheres trans representam suas próprias histórias. Entre elas, a carioca Jacqueline Rocha Côrtes, de 60 anos. Jacque, como gosta de se apresentar, é uma das referências no universo de mulheres transexuais que vivem com HIV e hoje é representante do Movimento Latino-americano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+).

"Sou uma mulher transexual redesignada. Me descobri uma menina por volta dos 5 anos de idade, sem a consciência dessa descoberta. Porque uma criança não tem um pensamento racional de entender o que se passa com ela", conta. Já era adulta quando leu em uma revista, na sala de espera por atendimento odontológico, uma reportagem sobre transexuais e descobriu que se encaixava.

Após uma série de gripes e pequenas infecções, descobriu o HIV aos 34 anos. O ano era 1994 e o tratamento era bastante diferente do que é hoje, com diversos efeitos colaterais. A taxa de mortalidade por AIDS ainda era alta e ela foi encaminhada para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde foi uma das primeiras pacientes da terapia antirretroviral.

Foi logo depois da morte do Cazuza, todo mundo morria, pouco se sabia sobre a AIDS. Perguntei ao médico quanto tempo eu tinha e ele disse que a prática tinha mostrado que a média era entre seis e 18 meses. Meu mundo caiu.

Jacqueline Rocha Côrtes

Jacqueline Rocha Côrtes, Representante do Movimento Latino-americano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+)

Jacque passou por um período de depressão e o apoio da família foi fundamental. Através de uma amiga, começou a frequentar o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), que abriu as portas para seu trabalho como ativista e militante em prol das pessoas que vivem com HIV. Fluente em inglês e professora da língua, viajou o mundo como representante do Brasil no UNAIDS.


Contrariando as antigas previsões médicas, Jacque já convive com o vírus há 26 anos e teve sua vida retratada no documentário "Meu nome é Jacque", de Angela Zoé. O horizonte de possibilidades é o mesmo de qualquer indivíduo: amor próprio, autocuidado, um casamento feliz e uma vida plena junto aos filhos.

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