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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Falta de ar? Veja o que pode ser a razão da sua dificuldade de respirar

Ter falta de ar é a queixa de três em cada dez pessoas que procuram ajuda especializada Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

26/12/2023 15h14Atualizada em 28/12/2023 13h57

A expressão "de tirar o fôlego" é usada quando se deseja descrever um estado de admiração e surpresa. No âmbito da saúde, porém, ter falta de ar é um sintoma considerado altamente angustiante e assustador. Dá para entender o porquê.

A dispneia (termo médico que corresponde à sensação) é definida pela American Thoracic Society (ATS) como uma experiência de desconforto ao respirar que combina diferentes sensações, varia em intensidade e decorre da interação de fatores relacionados ao funcionamento do corpo e das emoções, além de situações ambientais e sociais.

Ter falta de ar é a queixa de três em cada dez pessoas que procuram ajuda especializada. Apesar de ser um problema comum, o desafio dos médicos é descobrir o significado, para o paciente, dessa descrição. A dificuldade é que cada pessoa interpreta esse incômodo de forma muito pessoal.

Como o sintoma é descrito

Os especialistas no assunto dizem que a maioria dos pacientes se refere a esse mal-estar como um cansaço, que também pode ser descrito como:

  • Dificuldade para respirar;
  • Sensação de afogamento (asfixia);
  • Obstrução na garganta;
  • Necessidade de maior quantidade de ar;

Saiba entender os sinais

Há um entendimento generalizado de que a falta de ar é só aquela intensa dificuldade de respirar, um episódio agudo que pede visita imediata ao pronto-socorro. É importante saber que já é sinal de que alguma coisa está errada —quando você sente um cansaço leve —como aquele que aparece ao subir uma escada ou ladeira —, e não apenas quando tem algo mais intenso.

A mecânica por trás da sua respiração

Para que você consiga respirar e se manter vivo, seu corpo possui um sistema (respiratório) composto pelo nariz, boca, garganta (faringe), a área de fonação (laringe), epiglote e traqueia. Essa se divide em túneis (brônquios), que são encarregados de levar o ar para dentro dos seus pulmões.

Em geral, pensa-se que os pulmões são como balões, mas, na verdade, eles se parecem mais com uma esponja. Abaixo deles há um músculo chamado diafragma. É ele o encarregado de ajudá-lo a colocar o ar para dentro e para fora.

O pulmão também possui alvéolos —pequenas estruturas parecidas com cachos de uva que permitem a movimentação do ar e sua distribuição pelos vasos sanguíneos.

O sangue é oxigenado a partir dos pulmões, circula por meio das veias pulmonares até alcançar o coração. Daí, ele é bombeado para todo o seu corpo. Muitas doenças podem atrapalhar esse processo, levando à falta de ar.

As várias causas

Frequentemente o problema se relaciona à falta de condicionamento físico e não a uma enfermidade. Nesses casos, a inclusão de uma atividade física na rotina traz de volta o fôlego perdido.

Além do sedentarismo, outros fatores externos podem se relacionar à dificuldade de respirar. Confira:

  • Infecções ou obstruções As mais comuns são resfriados e gripes, causados por vírus ou bactérias que levam ao entupimento nasal e à coriza, bem como à sinusite (inflamação nos seios da face) e faringite (inflamação na garganta) --trazendo a sensação de não respirar bem.
  • Poluição Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que todos os anos, no mundo inteiro, morrem 7 milhões de pessoas (o que equivale a toda população do Paraguai) devido às partículas de ar poluído que penetram nos pulmões. A poluição não é só externa: dentro de casa, o uso de produtos de limpeza, acúmulo de poeira, tinta de parede, tecnologia e até alguns tipos de combustível usados para cozinhar (carvão, querosene etc.) podem atrapalhar o bom funcionamento dos seus pulmões.
  • Toxinas A exposição a componentes como o tabaco causa lesões pulmonares irreversíveis.

Com exceção do tabagismo, a solução do problema é mais fácil. Tratadas as inflamações das vias respiratórias, a sensação desaparece ou é controlada. Quanto à poluição, a menor exposição a ela pode resolver o assunto se não houver diagnóstico de uma doença avançada.

Causas médicas

A falta de ar tem outras origens, que são classificadas como causas médicas: são as doenças do sangue (hematológicas), do sistema nervoso (neurológicas), dos pulmões, do coração e as psiquiátricas.

Imagine que uma pessoa teve anemia após uma perda aguda de sangue, ou devido a uma menstruação abundante, uma úlcera de estômago ou um acidente. "Ou pode ser que esta perda tenha sido lenta e progressiva, consequência da deficiência de ferro, ou de um câncer no intestino", exemplifica o médico Marco Aurélio Janaudis, clínico geral da Sociedade de Educação Médica e Humanismo (Sobramfa). Aí, a reclamação vai sempre ser o cansaço.

Algumas doenças neurovegetativas podem levar a engasgos e, consequentemente, à dificuldade para respirar. Outras, mais raras e que provocam fraqueza da musculatura também. É o caso da síndrome de Guillain-Barré, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e miastenia grave, que afetam o diafragma, músculo responsável pela respiração.

Na lista das possibilidades inclui-se, ainda, a apneia obstrutiva do sono —um distúrbio associado ao ronco e que leva à interrupção da respiração durante o repouso noturno, causada por um obstáculo na garganta ou nas vias respiratórias, o que dificulta a passagem do ar.

Quando a origem é o coração

Apesar de a dispneia ser um sintoma de vários tipos de doenças, o que mais se vê no dia a dia é a sua relação com doenças do coração e do pulmão. Em pessoas com idade entre 50 e 60 anos, ela se relaciona à pressão arterial ou sequelas de um infarto do miocárdio, sem contar a doença de Chagas.

Já entre pessoas mais velhas, com idade entre 70 e 80 anos, a falta de ar é mais frequente e se deve ao endurecimento natural do coração, o que leva à insuficiência cardíaca. Aqui, o órgão vai perdendo a capacidade de relaxar e ocorre um aumento da pressão interna.

Uma bomba em ação

Para entender melhor, imagine o coração como a bomba de água de um carro que trabalha distribuindo o líquido para resfriamento do motor. No caso do órgão, o sangue é aspirado do pulmão, vem para o coração e a partir dele é distribuído para todo o corpo. Se existe algum problema —como hipertensão arterial — a pressão dentro do coração aumenta e a dispneia aparece.

E atenção: não confunda esse quadro com a pressão arterial. O problema aqui é a pressão diastólica final (PD2), que dificulta a passagem do sangue do pulmão para o coração. O resultado é uma maior concentração de líquido no pulmão, o que leva à falta de ar.

O que você pode sentir, nesses casos, é uma dificuldade para respirar depois de uma atividade física. Com o passar do tempo, essa sensação se apresenta com maior frequência até que, mesmo em repouso, o incômodo se manifesta.

Como é feito o diagnóstico cardíaco

Ao perceber que a falta de ar não passa, a melhor coisa a fazer é procurar um médico. Diante dele, lembre-se de relatar todos os detalhes do que sente.

Afinal, a consulta começa com uma conversa e ela pode revelar coisas importantes que o especialista precisa saber: até mesmo uma gripe, um resfriado ou uma infecção podem alterar o funcionamento do seu coração.

Na sequência, o exame físico poderá mostrar sinais como maior pressão da veia do pescoço, aumento do fígado e inchaço nas pernas, que são pistas de uma insuficiência ou problema cardíacos.

Veja os exames que o médico pode pedir:

  • Eletrocardiograma Averigua a presença de alguma alteração na atividade elétrica do coração;
  • Radiografia do tórax Mostra um eventual aumento do volume do órgão ou uma congestão pulmonar;
  • Ecocardiograma Avalia a estrutura e o funcionamento do coração por meio de ultrassonografia;
  • Cateterismo Verifica se há entupimento na veia.

O que esperar do tratamento

A terapia dependerá de cada caso. Geralmente, os medicamentos usados são os inibidores de enzima de conversão da angiotensina, betabloqueadores, inibidores de aldostorena e diuréticos, todos indicados para ajudar o coração a trabalhar melhor.

Os cardiologistas garantem que, quando o diagnóstico e tratamento são benfeitos e estabelecidos, o desconforto desaparece e a vida volta ao normal.

Isso porque o arsenal terapêutico disponível é bastante farto, mas o resultado dependerá do traquejo médico e de sua atualização, além da cooperação do paciente. A ordem que você deverá obedecer é controlar a pressão arterial, tomar o remédio corretamente, fazer exercícios e perder peso.

Muita vez, antes da falta de ar, podem vir outros sinais que são desprezados: "Na cardiologia, os pacientes não temem adoecer. O paciente acha que aquilo que sente decorre do fato de não ter dormido bem, que comeu algo que fez mal, ou que a culpa é do envelhecimento. Na realidade, é o coração que está falho", explica Fernando Augusto Alves da Costa, o diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Quando a causa é uma doença pulmonar

Problemas nos pulmões e nas vias respiratórias chamam-se doenças pulmonares, e a falta de ar é sempre o sintoma que aparece especialmente durante a realização de atividade física.

A dispneia relacionada a essas doenças se classifica como:

  • Restritiva Se relaciona à perda de elasticidade dos pulmões e eles não conseguem se expandir durante o processo respiratório;
  • Obstrutiva É a causada por uma resistência à passagem do ar.

A dificuldade de respirar pode, ainda, ser do tipo aguda: aparece de repente, como em uma crise de asma que requer uma ida ao pronto-socorro. Ou crônica, que permanece ao longo do tempo (como a apneia do sono).

Doenças pulmonares mais comuns

A asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) são as principais causas do problema. A fibrose pulmonar idiopática também é uma possibilidade, mas em um grau menos frequente.

Entenda melhor as enfermidades respiratórias que causam falta de ar:

  • Asma e bronquite São as causas mais comuns da falta de ar. Trata-se do estreitamento das vias respiratórias, geralmente de origem alérgica. Manifestam-se desde a infância e duram a vida inteira. Poeira, pó, odores, mudança de tempo e fumaça de cigarro podem desencadeá-las ou agravá-las.
  • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) É o bloqueio das vias respiratórias e, portanto, da passagem do ar causada por uma bronquite crônica ou uma destruição das células dos pulmões, conhecidas como alvéolos (enfisema), e cuja causa principal é o tabagismo.
  • Fibrose pulmonar idiopática Embora seja menos frequente, essa doença faz que o pulmão perca sua elasticidade. Não possui causa definida. Entretanto, cigarro e refluxo gastroesofágico estão relacionados.
  • Câncer de pulmão Como o tumor está situado dentro do órgão, a falta de ar ocorre de maneira crônica.

O que esperar da consulta com o pneumologista

O médico Mauro Gomes, chefe da equipe de Pneumologia do Hospital Samaritano de São Paulo, adverte que "nem sempre a procura por ajuda acontece com a rapidez desejada. Mas a consulta, em si, é simples", garante. O especialista vai ouvir sua história e fazer um exame físico.

Veja os testes que ajudarão a descobrir como andam os pulmões:

  • Espirometria Para avaliar como o pulmão está funcionando;
  • Radiografia do tórax Mostra lesões mais grosseiras do órgão;
  • Tomografia computadorizada Investiga lesões mais específicas e menores;
  • Exames de sangue Check-up sanguíneo;
  • Testes de alergia Por meio da análise do sangue, busca-se detectar anticorpos relacionados a ácaros, poeira, animais, fungos ou alimentos;
  • Exames mais específicos Para os casos de suspeita de câncer e fibrose, e é necessária uma biópsia.

Como é feito o tratamento

Ele também é personalizado, especialmente porque cada doença pede um medicamento específico, além de mudanças de hábitos e ambientais. Podem ser usados corticoide por inalação (anti-inflamatório); broncodilatador e antifibrótico.

Quando a causa são as suas emoções

A falta de ar comum nos transtornos de ansiedade é sempre vivenciada como um sintoma de extremo desconforto. Nessas horas, além do intenso incômodo, há uma tensão muscular importante. Essa reação inclui o que os médicos chamam de ativação visceral: um estado de alerta que prepara todo mamífero para uma fuga ou luta. Os pés e mãos ficam suados, a temperatura da pele cai e ela empalidece.

Situação mais comum: ataque de pânico

A "fome de ar", chamada pelos americanos de air hunger , é o principal sintoma do ataque de pânico. Alguns teóricos entendem que tal reação é uma espécie de alarme de sufocação do cérebro.

Os suspiros são frequentes, como se fosse necessário testar o gás carbônico do local em que a pessoa está. Por isso, elas não toleram lugares fechados e abafados.

O que você também pode sentir

Em uma crise, todos os sintomas acontecem em menos de 10 minutos e têm a duração de meia hora. Além da falta de ar, outras sensações se manifestam:

  • Tontura;
  • Formigamento intenso;
  • Ondas de frio e de calor;
  • Aceleração do coração;
  • Sensação de morte iminente;

Como é feito o diagnóstico

Uma vez descartadas as principais causas da falta de ar que são as doenças cardiológicas e pulmonares, e presentes os demais sintomas acima descritos, um episódio de ansiedade pode explicar o sintoma. Mas o diagnóstico não é uma tarefa fácil.

O fato é que, diante desse conjunto de sintomas, muitos pacientes procuram o pronto-socorro pensando que se trata de um infarto.

Se você tem asma ou DPOC, tem maior probabilidade de ter uma crise de pânico do que a população em geral. Foi o que concluiu um estudo da Universidade de Sidney (Austrália): quem sofre dessas doenças respiratórias possui 10 vezes mais chances de ter um evento de pânico.

O que esperar do tratamento

Os cuidados começam com o uso de pequenas doses de antidepressivos específicos. Tão logo as crises reduzam, parte-se com a terapia de exposição, onde o paciente enfrenta —gradual e lentamente — as situações que desencadearam o quadro: usar o elevador, andar de ônibus etc.

Exercícios físicos, sensações que dão tontura também fazem parte dos estímulos que buscam devolver à pessoa a vida de antes. "Costumamos dizer que, no pânico, o paciente é como uma cebola. Quando você a corta, ela é cheia de anéis. Conforme pioram os sintomas, o indivíduo vai parando tudo até que não sai mais de casa por medo de passar mal. Do mesmo modo, a recuperação se dá assim: um anelzinho por vez", explica o médico Márcio Bernik, coordenador do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq- FMUSP).

O uso do medicamento se dá por cerca de um ano, e caso o paciente possa fazer terapia cognitivo comportamental (TCC), a chance de uma recaída é bem menor. A boa notícia é que, em 98% dos casos, a resposta ao tratamento é positiva.

O que você pode fazer para prevenir a falta de ar:

  • Troque soluções caseiras por atendimento médico;
  • Procure um cardiologista se o sintoma aparecer ao subir escada ou durante a relação sexual;
  • Não demore para buscar ajuda, quanto mais cedo descobrir o que acontece, maiores serão as chances de melhora;
  • Avise seu cardiologista sobre eventual uso de medicamento quimioterápico. Um de seus efeitos colaterais é a falta de ar;
  • Evite usar anti-inflamatórios sem orientação de um médico. Eles podem afetar a forma como funcionam coração e rins;
  • Vá ao pronto-socorro ao sentir dor no peito, falta de ar, cansaço e mal-estar no estômago. Pode ser um infarto (ataque do coração);
  • Controle a pressão e o diabetes;
  • Pratique atividade física adequada para a sua idade;
  • Reduza o consumo de sal;
  • Atenda a orientação médica para o tratamento. No caso da asma, se ela for devidamente tratada, o paciente pode ter uma vida normal;
  • Livre-se do cigarro e evite fumar dentro de casa;
  • Capriche na faxina doméstica. O acúmulo de móveis e coisas espalhadas desencadeia crises de asma;
  • Mantenha os ambientes ventilados, livres de poeira, mofo e umidade;
  • Prefira travesseiros de espuma e siga as instruções do fabricante para a sua lavagem e secagem. Os de penas podem levar ao endurecimento dos pulmões ou à pneumonia alérgica;
  • Evite ter animais de estimação em casa como cachorro, gato e pássaros;
  • Desconfie de notícias sobre bombinhas para asma. Elas não causam dependência. Esclareça todas as suas dúvidas com o seu médico;
  • Observe seus filhos se você tem crises de ansiedade ou pânico. A chance de eles apresentarem o problema é altíssima. O pico da manifestação acontece entre os 15 e 25 anos, geralmente na época do vestibular;
  • Procure não ignorar a ansiedade de separação das crianças, o medo de seus pais serem sequestrados, se perderem ou se acidentarem. Estes são sinais de que, na idade adulta, o transtorno de pânico pode aparecer. Isso não evita a doença, mas evita complicações.

Fontes: Fábio Henrique de Gobbi Porto, neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e dos Hospitais Sírio Libanês e Hospital Israelita Albert Einstein (SP); Fernando Augusto Alves da Costa, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), doutor em ciências pela USP, diretor do Instituto Paulista de Doenças Cardiovasculares (IPDC) e médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP); Márcio Bernik, médico psiquiatra e coordenador do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP; Marco Aurélio Janaudis, clínico geral da Sociedade de Educação Médica e Humanismo (Sobramfa); Mauro Gomes, pneumologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, diretor da comissão de Infecções da Sociedade Paulista de Tisiolologia e Pneumologia (SPPT) e chefe de equipe de pneumologia do Hospital Samaritano de São Paulo.

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