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"Mulheres querem respeito, não assédio", diz chefe de segurança do Tinder

Tracey Breeden, head de segurança e defesa social do Match Group Imagem: Divulgação

Ana Bardella

De Universa

14/08/2021 04h00

Há um mês, o Tinder lançou no Brasil um recurso intitulado "Central de Segurança" — um espaço, dentro do aplicativo, no qual os membros podem tirar dúvidas e receber dicas e informações sobre o tema. A ferramenta já existia em outros países, mas o Brasil foi a primeira região da América Latina escolhida para recebê-la.

O recurso foi criado em parceria com ONGs brasileiras, tais como o Mapa do Acolhimento (voltada para mulheres vítimas de violência doméstica) e a FONATRANS (cujo objetivo é propor políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida de transexuais e travestis). Agora é possível ser direcionado para o site destas e de outras organizações direto pelo app. Além disso, entre os novos materiais disponíveis estão guias sobre como lidar com situações de assédio e sobre consentimento.

A seguir a norte-americana Tracey Breeden, chefe de comunicação e defesa social do Match Group, marca criadora do Tinder, fala sobre os principais anseios femininos no aplicativo:

A Central de Segurança já existia em outros países, mas não no Brasil. Como foi trazê-la para cá?

Trabalho com o Tinder há cerca de 9 meses. Antes, estava na Uber, que também lançou um recurso semelhante. Entendo que sempre que se expande algo internacionalmente, é importante absorver as nuances locais, aproveitar os recursos regionais, para garantir a relevância para aquela região específica ou país. Por isso, antes do lançamento no Brasil, trabalhamos com ONGs locais.

Trouxe para o Tinder a minha missão, que está muito enraizada na ideia de que devemos priorizar mulheres e grupos tradicionalmente marginalizados. Eu viajei para vários locais do mundo e me encontrei com mais de 300 grupos de mulheres. Estive no Brasil e em toda a América Latina a fim de entender quais são os problemas enfrentados. Sei que a central de segurança é uma ferramenta importante e que devemos ter recursos disponíveis para nossos usuários, mas ela é apenas um componente de uma estratégia maior. Porque, quando você aborda a segurança, ela deve ser multifacetada.

Quais são os principais medos das mulheres que usam o Tinder?

Não importa se dentro de um aplicativo de namoro ou fora dele, a segurança é sempre uma prioridade para nós. É algo em que pensamos mais, temos ela em mente antes de sair de casa. Virou uma parte do nosso dia a dia, do nosso subconsciente. O que percebo é que, neste tipo específico de plataforma, as mulheres desejam respeito. Não queremos ser assediadas, desejamos uma interação respeitosa.

Costumo dizer que a segurança não é apenas uma questão física. Para as mulheres, ela passa por saber que estamos protegidas de abusos, discriminação e danos psicológicos e emocionais. Queremos que as pessoas com quais nos relacionamos sejam reais e autênticas.

O assédio online é uma das nossas principais preocupações. Por isso é importante fornecer ferramentas como o videochat, além capacitar as pessoas com informações e dicas, como ter cuidado ao compartilhar dados pessoais.

As mulheres também querem controle, quem ser capazes de fazer escolhas relacionadas a segurança, como bloquear alguém — um ex ou alguém que as assediou — e interromper uma comunicação inadequada ou hostil.

Muitas de nós temos dúvida se um assédio aconteceu ou não. Na dúvida, é melhor denunciar?

Eu sempre digo que é melhor denunciar. É verdade que o assédio está tão enraizado na nossa cultura que temos uma tendência a nos perguntar se realmente foi um assédio. É uma experiência à qual muitas de nós já estamos até acostumadas. Mas não conheço uma mulher que nunca tenha sido assediada. Nunca conheci.

Por isso gosto do recurso "Isso te incomoda?", oferecido pelo Tinder. Ele dá mais segurança para a pessoa. É como se a desconfiança dela de que algo estava errado fosse confirmada por uma tecnologia, que pede para que ela detalhe o que aconteceu. Vimos os relatos subirem mais de 40% através desse recurso. Muitas pessoas não sabem que podem (ou como fazer para) denunciar, então esta acaba sendo uma via.

Resumindo: sempre digo que sim, é importante relatar, mesmo na dúvida, porque dessa forma também podemos agir e responsabilizar o outro pela sua forma de interagir. Esse, aliás, é outro ponto que temos testado e analisado: como dar as advertências, como educar os usuários? Há uma oportunidade para realmente educar quem está do outro lado.

Depois que uma denúncia é feita no Tinder, ela é analisada por um sistema automatizado ou por seres humanos?

Pode acabar em ambos os caminhos. Depende se a pessoa reporta no aplicativo ou no site, mas sempre são gerados relatórios, que são revisados. Dependendo da gravidade, eles são revisados de maneira muito mais rápida. Se a denúncia for de algum tipo de assédio ou agressão, a conta é imediatamente removida a fim de ser analisada. Existe uma ação imediata.

E quanto à população LGBTQIA+? Quais os seus principais receios no Tinder?

É impossível entender os medos dessa população sem ouvi-la — e especialmente no Brasil temos esse esforço para aprender mais sobre quais são as suas preocupações, seus medos. O que posso dizer é que, dentro desse espaço, os medos são os mesmos de todos os dias: o de serem discriminados ou de serem maltratados. Nosso papel é tentar resolver isso da maneira mais adequada possível.

Em relação à segurança, existe alguma preocupação específica das brasileiras quando estão usando o app?

Pela minha experiência, as questões tendem a ser semelhantes de um país para o outro. Certamente existem lugares mais perigosos do que outros e temos que entender os motivos, mas muito disso é sistêmico. Quando o assunto é segurança da mulher, percebo que a violência gera violência — é uma epidemia global. Sou apaixonada por essa área porque entendo que em pais algum do mundo as mulheres são imunes ao que vemos acontecer na sociedade. Por isso é tão importante o esforço das empresas para mantê-las seguras.

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