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Seu filho repetiu na escola? Saiba como ajudá-lo a encarar o novo ano

É possível ajudar seu filho a encarar o desafio de passar de ano Imagem: iStock

Claudia Dias

Colaboração para Universa

15/01/2020 04h00

Falta pouco para começar um novo ano letivo. Para parte dos estudantes, porém, ele tem pouca novidade e muitos desafios. Tratam-se de crianças e adolescentes que foram reprovados no semestre passado e, agora, precisam de atenção especial dos pais e professores. Sim, se seu filho ou sua filha está nessa situação, você vai precisar dedicar algum tempo para ele ou ela.

O tratamento, no entanto, não é igual para todos. De acordo com a neuropsicóloga Deborah Moss, especialista em psicologia do desenvolvimento, há dois contextos diferentes. Em um deles está o estudante esforçado, que deu o seu melhor e, ainda assim, não atingiu o resultado esperado. Em outro cenário estão aqueles que simplesmente não se comprometeram com os estudos.

"Uma criança que teve muita dificuldade, mas se esforçou bastante tem que ser valorizada", diz a especialista. Para essa turminha, o recomeço pode ser visto como uma oportunidade para superar dificuldades que atrapalharam a aprendizagem.

Já, do aluno negligente, deve ser exigida, sobretudo, uma nova postura mais comprometida diante dos estudos. "Isso porque a reprovação é consequência de uma atitude, não de uma dificuldade ou de alguma limitação", afirma. Nesses casos, é preciso que o filho fique ciente de que tudo, a partir de agora, é reflexo do comportamento dele.

Em ambas as situações, os pais podem abordar os sentimentos envolvidos e dar lições que os estudantes levam para a vida, tratando aspectos positivos e negativos da circunstância. O apoio, neste recomeço, é essencial em qualquer cenário.

Atitudes motivadoras funcionam mais

Um aluno não reprova de uma hora para outra. O desempenho ruim costuma ser revelado durante todo o ano letivo e, por isso, a reprovação não pode ser vista como uma surpresa na vida dos pais.

"Quando ocorre, é importante que a família e a escola estejam totalmente alinhadas com relação aos fatores motivadores da repetência", aponta Marcella Bianca, neuropsicóloga do Instituto do Cérebro.

A conversa em família é necessária para compreender quais as dificuldades o aluno encontrou naquele ano e, a partir dessas informações, buscar solução?es para ajudá-lo. Também é importante mostrar quais são as vantagens reais de estudar e transpor essa etapa do ensino. Entre a bronca e o suporte, Marcella garante que as atitudes motivadoras são bem mais efetivas.

"Após compreender os motivos que levaram à repetência, é importante buscar resolvê-los. Em muitos casos, pode ser uma dificuldade de compreensão, de atenção, visual ou até mesmo uma inquietude mental e motora. Pode se tratar também de um transtorno do desenvolvimento, intelectual ou de aprendizagem", diz. E, em todos esses casos, a criança merece ajuda.

Castigo, não. Compensações, sim

Diante de uma reprovação, há pais e mães que, preocupados com a situação, apelam para normas muito rígidas e castigos. Os especialistas, no entanto, aconselham a adotar outra abordagem. Uma forma de incentivo é propor algumas metas e, diante do desempenho, conceder ou não alguns benefícios.

Por exemplo, a criança ganha o direito de jogar videogame depois de estudar um número pré-determinado de horas. Assim pode ser feito também com saídas para baladas só concedidas diante de boas notas ou bom comportamento e por aí vai?

"Esse tipo de atitude pode ser muito útil. Se a única responsabilidade do aluno é estudar e, mesmo assim, ele não está correspondendo ao esperado, é preciso cortar alguns direitos", diz Leonardo Chucrute, professor e diretor do Colégio e Curso Progressão.

Ensinar à criança e o adolescente sobre o reflexo de suas ações e a importâcia de obedecer regras e limites é essencial. Pode ser útil, neste processo, utilizar estratégias compensatórias em que o aluno ganha ou perde (elogios, benefícios, presentes, por exemplo) de acordo com os seus atos. "Isso tem maiores resultados do que o simples fato da punição", afirma a neuropsicóloga Marcella.

Para Chucrute, o mais importante é incentivar o aluno a levantar a cabeça e seguir em frente. É fundamental, neste momento, fazê-lo refletir. "É hora de motivar, dar a mão e dizer 'vamos juntos, estou aqui com você, vamos criar um planejamento' - ou seja, buscar uma estratégia para que a criança ou o adolescente consiga obter êxito no próximo ano".

Autoestima em xeque

Outro ponto importante é que o aluno reprovado corre o risco de ter a autoestima afetada, sobretudo vendo os amigos avançarem na vida escolar e ele ficando para trás. "O olhar de desapontamento e de decepção dos pais também é algo muito impactante", comenta Deborah Moss.

Por isso, o suporte dos responsáveis diante do recomeço é importante. "O aluno que foi reprovado precisa de um voto de confiança", diz.

Tal atitude pode motivar a criança a mudar de comportamento em relação aos estudos. E, nesse caso, a reprovação escolar acaba se tornando uma oportunidade de amadurecimento.

"Ele já está vivendo a consequência de ter que fazer tudo de novo enquanto os amigos avançam. Mais do que bronca, o segredo é aproveitar essa experiência como um aprendizado para a vida", afirma a neuropsicóloga.

Ajudar não é fazer

Para o novo ano, os pais que não participaram ativamente da vida escolar do filho podem e devem estar mais próximos, tanto do estudante, quanto da escola. Isso porque, se houver novos deslizes nos primeiros meses, é possível corrigir a rota e ajudar o filho a conseguir a aprovação.

Os pais também devem se mostrar mais presentes em casa. Pode estudar com os filhos? Sim, desde que isso não signifique fazer as atividades por ele, seja para adiantar o processo ou para que vejam como é feito. O adequado é ajudar o estudante a descobrir as respostas, estimulando-o a raciocinar e se tornar independente.

Conversas diárias sobre a escola também são recomendadas. "O papel do pai e da mãe é fazer as perguntas básicas - 'E aí, o que você aprendeu?', 'Como está na escola?', 'Como foi o seu simulado?' -, é olhar as notas, conversar com ele. O filho precisa ver que os pais estão preocupados com ele", diz Leonardo.

Quando criança é nova demais

É possível que a criança não evolua no currículo escolar por causa da idade e da dificuldade de acompanhar os colegas mais velhos, caso tenha sido matriculada precocemente.

Neste caso, cabe aos pais mostrarem a ela qual foi o motivo pelo qual decidiram segurá-la mais um ano na mesma série, para que não sinta que ficou para trás, nem foi reprovada. Vale mostrar que esta é uma chance de conseguir avançar em relação ao aprendizado e uma oportunidade de conhecer novas crianças.

"É interessante falar que ela agora vai ser a mais velha da sala e buscar também os pontos positivos dessa reprovação, reforçando o fato de que os amigos que foram para outra série continuarão sendo amigos, tudo para que ela se sinta estimulada", orienta Deborah Moss.

Como ajudar mais

Não seja imediatista, nem parta para as repreensões exageradas
Broncas intensas, castigos severos e atitudes ríspidas não ajudam porque podem provocar efeito contrário. O estudo torna-se uma punição, algo ruim e associado ao conflito familiar.

Incentive constantemente
Tente observar algo de bom que seu filho ou sua filha esteja fazendo e elogie. Ainda que sejam pequenas coisas. Mostre que está feliz com o avanço.

Não faça comparações com outros colegas
Cada ser humano tem seu tempo e ele deve ser respeitado. Só compare o desempenho da criança com ela mesma, mostrando como ela melhorou, por exemplo, em relação ao ano anterior.

Mantenha o diálogo aberto, sobretudo quando o tema é a vida escolar
Procure se informar sobre as tarefas de casa, a socialização com os colegas e os professores, as dificuldades.

Mantenha contato constante com a escola
Pais e mães de crianças que repetiram de ano precisam entendem sobre o método de ensino da escola, o plano pedagógico e os programas que a instituição oferece. Além disso é preciso obter dos educadores relatórios sobre o desempenho da criança.

Busque ajuda de especialistas caso seja necessário
Crianças com dificuldade auditiva, visual ou transtornos cognitivos precisam de ajudas extras. Não dá para contar apenas com professores e os pais. Nesses casos, é preciso acompanhamento de profissionais especializados.

Estabeleça combinados
Combinar de forma clara, expor as regras, explicar os motivos e não voltar atrás no que foi acordado é uma conduta que estimula o aluno. Sempre que o combinado não for cumprido, é importante realizar as consequências (cortar o direito ao viodegame, por exemplo) e explicar, de forma coerente, a conduta. Sem brigas, é claro.

Faça uma retrospectiva do ano que passou e reflitam juntos sobre o que poderia ter sido diferente
Muitas vezes, dessa reflexão surgem ideias de novas condutas. Além disso, é um momento para estabelecer ou estreitar vínculos.

Pense em novas estratégias pedagógicas e metodológicas
O modo que foi seguido no ano que se passou não funcionou, então é preciso pensar em ações diferentes e incluir o aluno nesse novo projeto de estudo.

Fontes: Deborah Moss, Leonardo Chucrute e Marcella Bianca

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