Tamanho é documento?

Nem sempre. Experimentamos os principais jeans do país e provamos que nem todo 40 é igual... Entenda por quê

Marcela Duarte Colaboração para Universa

Você é daquelas pessoas que odeiam a tarefa de comprar uma calça jeans? Saiba que não está sozinha. Muitas pessoas têm problema com isso, e a falta de padronização dos tamanhos no Brasil agrava essa dificuldade. Afinal, quem nunca se viu em um provador com uma calça muito maior -- ou muito menor -- do que o seu tamanho?

Numa tentativa de retratar esse problema e entender por que acontece, a Universa foi ao Shopping Eldorado, em São Paulo, onde há várias lojas de moda, de fast-fashion a marcas estrangeiras. Para haver parâmetro de comparação, buscamos um modelo semelhante de calça jeans no mesmo tamanho: número 40, modelagem regular, com cintura média ou alta e sem ou com menos de 1% de elastano.

Optamos por usar no teste apenas calças sem ou com pouquíssimo elastano, pois as mais elásticas acabam servindo -- o que varia é o caimento, já que algumas ficam mais justas que as outras. Para que o resultado fosse o de uma experiência de compra de verdade, o teste foi realizado sem a repórter se identificar aos vendedores. 

As marcas escolhidas para o teste: Calvin Klein, C&A, Forever 21, M.Officer, Renner e Zara, numa amostra que contempla lojas de perfis, faixas etárias e preços bem diferentes. Confira o que aconteceu nos provadores:

Na Calvin Klein, a numeração é a mesma usada no exterior. Por isso, a repórter pediu à vendedora o número 40, e a vendedora trouxe o 28. “A calça serviu bem nas pernas, ficou confortável, sem ficar justa ou solta demais. Mas a cintura ficou muito grande, e eu não compraria esta calça porque teria de fazer um ajuste enorme.”

O que diz a Calvin Klein

"Os tamanhos são informados na própria peça, tanto a numeração americana quanto a referente brasileira. O que pode acontecer é uma variação nas modelagens que podem apresentar cinturas mais altas, pernas mais largas ou estreitas e assim por diante. Isso varia o caimento da peça", justificou a marca à Universa, e informou ainda nunca ter tido problemas com contestação de tamanhos e seguir o padrão internacional da Calvin Klein Jeans.

Na C&A, tinham tantos modelos com elastano que a repórter teve de pedir ajuda a um vendedor, que lhe trouxe uma calça sem elastano. "A calça ficou ótima! Só um pouquinho grande na cintura, mas que é um problema que costumo enfrentar. Se eu realmente estivesse procurando uma calça, provavelmente compraria esta e faria duas pences na cintura."

O que diz a C&A

"Desenvolvemos uma tabela própria de medidas, que foi elaborada após realização de pesquisas de medidas de corpos em diferentes regiões do país. Nos orgulhamos em vestir clientes pelo Brasil todo e poder proporcionar uma modelagem que atenda às preferências do brasileiro."

Na Forever 21, também foi necessário pedir ajuda a um vendedor para encontrar uma calça regular e que não tivesse elastano. A repórter experimentou a única que se encaixava no que tinha sido estabelecido. “O tamanho ficou ok, um pouquinho grande na cintura. Mas achei que esse modelo, apesar de ser o mais reto da loja, ainda era muito ajustado na perna, marcando bem o joelho e salientando o quadril.”

O que diz a Forever21

A marca foi procurada e informou que não se manifestaria para a reportagem.

Na M. Officer, o único modelo de calça sem elastano, com cintura no lugar e regular era bootcut (mais aberta na batata da perna). "O tamanho 40 era enorme, muito grande na cintura e ainda solto no quadril. Cheguei a provar a 38, que também ficou grande."

O que diz a M.Officer

A reportagem entrou em contato pelo telefone com a marca, solicitou falar com a assessoria de imprensa, mas foi orientada a enviar um e-mail, para o qual não houve retorno.

Na Renner, a repórter encontrou um modelo de jeans regular (na etiqueta chamado de Reto Conforto) na arara de liquidação. “As pernas e o quadril ficaram bons, mas um pouco grande na cintura. Acho que estaria no limite do que eu tentaria ajustar na costureira.”

O que diz a Renner

"Não há uma norma orientativa que padronize as medidas para roupas femininas no Brasil. A Renner usa uma tabela própria. A empresa tem uma equipe interna de modelagem trabalhando constantemente para atender às clientes em seus diferentes estilos e biótipos, por meio do conceito de lifestyle associado a cada marca própria."

Na Zara também foi difícil encontrar um modelo sem elastano. Apesar de não ser um modelo básico por causa do abotoamento diferente, o modelo atendia aos requisitos. “O caimento dessa calça ficou ótimo, coisa que é muito difícil para mim.”

O que diz a Zara

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Zara, mas não teve retorno.

Difícil achar tamanho certo? Norma de roupas femininas vão para consulta

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), responsável pelas normas de padronização no Brasil, está no processo final de elaboração de uma norma de medidas para o corpo feminino. A superintendente do Comitê Brasileiro de Normalização dos Têxteis e do Vestuário, Maria Adelina Pereira, informou que o projeto está em vias de seguir para a consulta nacional no site da ABNT. E qualquer pessoa ou empresa poderá votar.

Maria Adelina explicou que o principal objetivo da norma é a vestibilidade, ou seja, mostrar ao consumidor quais as medidas de corpo determinada roupa atende. "Uma blusa deve indicar a medida do busto ou tórax para a qual a modelagem foi realizada. Mesmo numa compra via internet, a pessoa mede seu corpo e consegue definir que tamanho lhe serve.”

A NBR para roupas femininas vai abranger do tamanho 34 ao 64, mas isso também deve mudar. "Esses códigos ainda são usuais no mercado, mas a meta é que as pessoas adquiram roupas pelas medidas do seu corpo, e não por um número que no passado representava a medida da largura da roupa”, disse Maria Adelina. Além das mudanças nos corpos, com o uso de tecidos que têm elasticidade não faz mais sentido que o tamanho esteja relacionado com a largura da peça, e sim com a medida do corpo para o qual foi feita.

Atualmente o que existe é uma tabela de medidas para o corpo feminino, a NBR 13377, de 1995, um documento genérico e que apresenta padrões referenciais para a moda masculina, feminina e infantil — as partes que se referem a roupas masculinas e infantis já foram substituídas pela NBR 16060, de 2012, e pela NBR 15800, de 2009. Falta apenas a norma para roupas femininas, que estava prevista inicialmente para 2012. A NBR 13377 havia sido feita com base em uma recomendação da ISO, entidade que coordena padronizações, que aponta que as medidas de roupas deveriam ser proporcionais aos biótipos de cada país. No Brasil, o número da calça feminina é a metade do comprimento do quadril subtraída de 8 (ou seja, para quem tem 96 cm de quadril o tamanho seria o 40).

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