Elas escolheram a clausura

Mulheres contam como e por que vivem em silêncio -- e sem contato com o mundo -- em nome de Deus

Luiza Souto Da Universa
Juliana Fumero/TV UOL

As religiosas do Mosteiro da Luz, na região central de São Paulo, recebem a reportagem de Universa no locutório, uma pequena sala, na entrada do mosteiro que, por meio de grades de ferro, as separam do mundo.

O lugar onde as irmãs passam a maior parte dos seus dias se chama cela. Elas não veem e não conversam com praticamente ninguém. Horários para dormir e rezar e quantidades de comida e roupa são nada mais que exíguas. E as dez freiras do mosteiro só saem de lá para ir ao hospital, funeral dos pais ou para votar. 

O paralelo dessa rotina com o de uma prisão é, para muitos de nós, imediato. No entanto, para elas, absolutamente equivocado. A vida em clausura, dizem, as deixa “guardadas do mundo”. É uma proteção; não uma prisão.

“Deixei a família em Guaratinguetá (no interior de São Paulo) e a faculdade de enfermagem pelo desejo de me entregar totalmente a Jesus e à Virgem Maria. Tenho uma devoção a ela desde criança, e quis me dedicar ao silêncio total e à clausura”, diz a irmã Cassia Maria da Santíssima Trindade, que tem 36 anos e está há quatro no convento.

Atendendo por nomes religiosos, elas fazem parte da ordem Concepcionista, uma das 24 correntes católicas existentes no Brasil. Acordam às 4h45, fazem sete orações ao dia -- todas direcionadas “aos problemas do mundo” -- e, às 20h, já estão recolhidas. As visitas são feitas por familiares, somente uma vez por mês, e devem ser agendadas. 

Assista a reportagem no vídeo abaixo

Ordens de clausura estão espalhadas por 182 mosteiros pelo país. Uma delas é a das Concepcionistas, que conta com 19 abadias. Há ainda as Clarissas (20), as Passionistas (4) e as Carmelitas Descalças (57). 

A linha das Monjas Concepcionistas, como elas se definem, foi criada em 1484 por Santa Beatriz da Silva, uma nobre portuguesa tornada santa. Elas se caracterizam por viver em clausura, por ter "uma vida contemplativa" e dedicar seu amor à Maria Imaculada. Mas o objetivo é o mesmo: viver em silêncio e oração, em súplicas para o mundo. Atualmente a Ordem conta com cerca de 165 mosteiros e conventos espalhados por 14 países; 75 deles, só na Espanha.  

O número de moças que procuram a vida em clausura, segundo a Igreja Católica, vem aumentando. Madre Vigária do Mosteiro da Luz, irmã Maria Aparecida de São José, afirma que dez religiosas quiseram entrar na abadia este ano, ante as oito de 2017. Um catálogo completo sobre a vida monástica está para sair até o fim do ano pela CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil). No último levantamento, em 2012, as Carmelitas, por exemplo, tinham cerca de mil monjas. Dez anos antes, eram 700.

“Muitas não entendem a clausura. É só para quem tem verdadeiramente vocação. Caso contrário, não consegue. Das dez que entraram, acompanho de perto a vida de três. Elas trazem uma infinidade de problemas quando chegam aqui, por exemplo, dificuldades no relacionamento com a família e depressão. É como se achassem que, no mosteiro, tudo passa”, diz a madre.

Para ter certeza do que querem, as irmãs passam por várias etapas. Uma delas é o "aspirantado", um período de três meses em que estudam a Bíblia e têm conversas sobre a clausura com a Madre Superiora. Nessa etapa usam uma saia azul e blusa branca. A partir daí, a religiosa analisa se as moças têm mesmo vocação.

Depois, elas ficam um ano no "postulantado", período em que vivem, de fato, a clausura, e recebem um vestido azul. Dali, se tornam noviças. Nessa etapa elas recebem o hábito branco e um véu da mesma cor. Também passam a ser identificadas por nomes de santas. Outra das etapas é a 'juniorista', em que ficam mais três anos e recebem véu preto, antes de se tornarem "professas solenes", quando ganham o manto azul, coroa e anel. A partir daqui, se quiserem sair, precisam apresentar um motivo grave. E ao Papa. 

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