Herdeira e criadora de moda

Seu avô fundou a Riachuelo, e Marcella Kanner agigantou a marca: fez parcerias com Versace e Karl Lagerfeld

Dinalva Fernandes Colaboração para Universa
Rafael Roncato/Universa

Responsável por parcerias com estilistas ícones da moda mundial, como Donatella Versace e Karl Lagerfeld, Marcella Kanner, head de Marketing e neta do fundador da Riachuelo, transformou a cara da marca. E fez dela uma gigante. 

Nevaldo Rocha criou o Grupo Guararapes em Recife (PE), em 1956; cerca de vinte anos depois, adquiriu a marca Riachuelo que, hoje, é umas das maiores fast fashion do Brasil: tem ao menos 300 lojas e 40 mil colaboradores em todo o país. A Riachuelo possui ainda um dos maiores pólos fabris das Américas. Marcella trabalhou duro para essa ascensão.

A publicitária, paulistana e de 36 anos, planejou o nascimento dos três filhos de acordo com os projetos da empresa. Chegou a fazer reuniões no hospital para evitar um parto prematuro. “Não relaxei em nenhum segundo, trabalhei loucamente. Não é sustentável ser assim, mas, em alguns momentos, vai ser inevitável. Notícia boa: você vai sobreviver e colher os frutos mais para frente”, diz ela. Nesta entrevista, ela vai te provar porquê.  

Quais foram os seus principais feitos como chefe?
A primeira parceria da Riachuelo foi na década de 1980 com o estilista Ney Galvão. Retomei as parcerias, de forma mais consistente, em 2010 com o Oskar Metsavaht, da Osklen. Mas o marco na minha carreira foi a dupla com a Versace, em 2014. Foram seis meses de negociação, até encontrar pela primeira vez a Donatella Versace. Com o Karl Lagerfeld, o negócio, que se deu dois anos depois, foi mais fácil. Eles sabiam que nós entregaríamos o que eles queriam.

Quais erros cometeu como chefe? E o que aprendeu com eles?
Não consegui passar com cuidado as informações sobre o que eu queria para outras pessoas, especialmente, quando eram jovens ou poucos experientes. Esse meu erro gerava outros, em sequência.

Agora, repasso diretrizes com cuidado e tento ter a certeza que a pessoa as entendeu.

Rafael Roncato/Universa

Na sua área, quais as vantagens que uma chefe mulher leva?
A mulher dá mais valor à história das pessoas.

A mulher valoriza as histórias que as pessoas contam. Uma conversa despretensiosa com chefes mulheres no meio pode render muita coisa boa para a empresa.

Com quem uma chefe mulher pode contar dentro da empresa?
É importante construir pontes com todo mundo. Quem tem bastante contato, consegue achar soluções rapidamente quando um problema estoura. O RH é uma área que ajuda a identificar o que não está bacana em cada departamento. Eu conto muito com eles, e essa relação me fortalece como gestora.

Na sua experiência, mostrar fraquezas ajuda ou atrapalha?
Ajuda. É mais fácil corrigir nossos defeitos quando assumimos as dificuldades.

Arquivo pessoal

Qual a sua estratégia para cuidar bem dos filhos, ter hobbies, namorar e estudar?
Aceito que é tudo bem deixar trabalho para amanhã. Além disso, comecei a jogar tênis. É uma delícia, porque é o momento em que não olho para o celular. Saio pra beber vinho e dar risada com as amigas. Os problemas são muito parecidos no escritório e em casa, e eles ficam mais leves quando divididos. Hoje, tenho mais equilíbrio na vida. Mas, antes, cheguei a planejar meus filhos de acordo com o trabalho. O meu segundo nasceria bem depois da coleção da Versace, mas nasceu só um mês antes porque, com os preparativos, vieram as contrações. Fiz reuniões no hospital, tomando soro na veia.

Enfrentou preconceito por ser mulher ou neta do fundador?
Nunca enfrentei e entendo meus privilégios. Acredito que o fato de 68% da liderança da empresa ser feminina e 90% dos ingressos no programa de trainee serem mulheres me ajudam a não me sentir diminuída. No que diz respeito ao meu avô, foi mais complicado. Quando o encontrava no corredor, desviava. Não queria que soubessem que era sua neta e me tratassem diferente, mas é óbvio que descobriram.

Quando virei trainee, pensava que não era tão competente quanto meus colegas, já que eles haviam passado por um processo seletivo e eu, apenas colocada ali. Porém, quando ganhei três prêmios por excelência, me senti à vontade e minha carreira deslanchou.

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