Estação Espacial: diretor russo diz que vai interromper parceria com EUA
Marcella Duarte
Colaboração para Tilt, em São Paulo
04/04/2022 13h34
A Rússia ameaçou encerrar a cooperação com outras nações, em especial com os Estados Unidos, na Estação Espacial Internacional (ISS), até que todas as sanções comerciais e econômicas contra o país sejam removidas. As relações ficaram estremecidas com países da Europa e com os Estados Unidos diante da guerra contra a Ucrânia, que já dura mais de um mês.
O diretor da agência espacial russa Roscosmos, Dmitry Rogozin, anunciou a insatisfação do país liderado pelo russo Vladimir Putin no Twitter. Nas publicações, ele mostrou ofícios que ele teria recebido da Nasa (agência dos EUA), da ESA (europeia) e da CSA (canadense). Pelas respostas, ele concluiu que as sanções, que chama de ilegais, não serão removidas.
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"O objetivo é matar a economia russa, mergulhar nosso povo no desespero e na fome e deixar nosso país de joelhos", escreveu Rogozin.
Ele acrescentou que a Roscosmos, em breve, determinará uma data para interromper a participação da Rússia na Estação Espacial, numa cooperação que já dura 24 anos.
A ISS tem um segmento russo e um norte-americano, onde os tripulantes convivem livremente. Um lado depende do outro: a energia para funcionar e o suporte de vida é fornecido pelos EUA; os motores para manter a estação em órbita e fazer manobras necessárias são da Rússia.
"O chefe da Nasa, senador Nelson, o chefe da Agência Espacial Europeia, Josef Aschbacher, e a chefe da Agência Espacial Canadense, Lisa Campbell, responderam ao meu apelo exigindo o levantamento das sanções contra várias empresas na Rússia", criticou Rogozin.
Na carta atribuída a Nasa, a agência afirma que "os EUA continuam a apoiar as cooperações espaciais governamentais internacionais, especialmente as atividades associadas à operação da ISS com a Rússia, Canadá, Europa e Japão."
"As novas e existentes medidas de controle de exportação continuam a permitir a cooperação, com operações contínuas e seguras da ISS", completou.
A CSA também afirmou, segundo a publicação do diretor russo, que pode "garantir que o Canadá continua a apoiar o programa ISS e está dedicado a suas operações seguras e bem-sucedidas".
Já o chefe da ESA disse que consultará os países-membros da agência para avaliação.
Polêmicas com Dmitry Rogozin não são de hoje
Em fevereiro, o diretor já havia reagido aos bloqueios impostos pelo presidente norte-americano Joe Biden, logo após a invasão da Ucrânia. Ele chegou a insinuar que a estação espacial poderia cair na Terra sem o envolvimento da Rússia — visto que a tecnologia do país é responsável por manter a posição e a orientação da estação no espaço.
24 anos de cooperação
A ISS é o principal laboratório na órbita da Terra. Ela é fruto de uma longa e bem-sucedida parceria entre EUA e Rússia, que já dura mais de duas décadas, desde 1998. Um símbolo da diplomacia pós-Guerra Fria, que nunca foi abalada por conflitos geopolíticos, como a invasão da Crimeia. Até agora, porém.
No momento, há sete pessoas a bordo: Kayla Barron, Raja Chari e Thomas Marshburn, astronautas da Nasa, o alemão Matthias Maurer, da ESA, e os cosmonautas russos Sergey Korsakov, Oleg Artemyev e Denis Matveev —que chegaram na estação espacial há apenas duas semanas, já em meio à guerra na Ucrânia.
A ISS deve ser aposentada em janeiro de 2031, quando será derrubada controladamente no Oceano Pacífico, e a Nasa declarou na semana passada que gostaria de estender a cooperação com a Rússia até lá.
Em uma eventual saída russa, acredita-se que a Nasa conseguiria manter o laboratório orbital por meio de parcerias com empresas privadas, como a própria SpaceX, de Elon Musk, e a empresa Northrop Grumman. Contudo, o caso ainda é bem delicado.