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Queda controlada: Nasa revela plano para aposentar Estação Espacial em 2031

A Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) está em órbita desde 1998 - Nasa
A Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) está em órbita desde 1998 Imagem: Nasa

Marcella Duarte

03/02/2022 19h34

A Nasa finalmente anunciou seus planos para aposentar e derrubar a Estação Espacial Internacional (ISS). Em janeiro de 2031, o laboratório orbital deve fazer uma queda controlada, para encontrar seu descanso no fundo do Oceano Pacífico.

Os últimos nove anos de operação, porém, serão provavelmente os mais importantes e atribulados de sua história. A agência espacial norte-americana divulgou, na última segunda-feira (31), as metas finais da ISS:

  • permitir a exploração do espaço profundo;
  • conduzir pesquisas para beneficiar a humanidade;
  • inspirar nossa espécie a alcançar maiores alturas;
  • liderar e incentivar a cooperação internacional;
  • ajudar a indústria privada de voos espaciais dos EUA a ganhar mais impulso.

"A Estação Espacial Internacional está entrando em sua terceira e mais produtiva década, como uma plataforma científica inovadora em microgravidade", disse Robyn Gates, diretor da ISS.

A Estação teve seu primeiro módulo lançado em 1998 e, após outros 42 lançamentos, ficou pronta para receber a primeira tripulação, dois anos depois. Desde novembro de 2000, nunca esteve desocupada, hospedando continuamente tripulações rotativas de astronautas. Até hoje, 51 pessoas de 19 países diferentes já viveram lá.

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Laboratório orbital já recebeu 51 astronautas de 19 países
Imagem: Nasa

Como vai ser o funeral

A vida da ISS era inicialmente prevista para terminar em 2015, mas este prazo foi sendo prorrogado pela Nasa e seus parceiros internacionais. Após mais de três décadas em órbita, ela já estará muito antiga, com riscos de segurança e alto custo de manutenção. Falhas, como rachaduras e vazamentos, já têm sido encontradas —e algumas são impossíveis de se reparar no espaço.

O plano agora é que as atividades continuem normalmente até novembro de 2030, quando ela completará 30 anos de ocupação ininterrupta. Depois do Ano Novo, a estação será derrubada na Terra.

Mas é um processo controlado e seguro: ela vai realizar manobras precisas, para cair no local mais remoto do Oceano Pacífico, chamado Área Inabitada do Pacífico Sul (SPOUA) ou "Ponto Nemo". Serão utilizados seus próprios propulsores e também naves auxiliares para dar "empurrõezinhos".

A ISS é um laboratório científico de 4.044 toneladas, 73 metros de comprimento e 109 metros de largura, orbitando a Terra a 400 quilômetros de altitude, voando a uma velocidade de 7,66 quilômetros por segundo (cerca de 27 mil km/h). Mas ela não cairá assim inteira no mar.

Quando reentrar em nossa atmosfera, a pressão fará com que ela seja despedaçada e queimada, devido ao forte calor e energia do atrito com o ar. Inclusive, em alguns lugares do planeta será possível vê-la no céu como se fosse um meteoro brilhante.

Por ser tão grande, algumas partes devem resistir ao processo e afundar no oceano. Entre o leste da Nova Zelândia e o norte da Antártida, o Ponto Nemo é o local do planeta mais distante de qualquer costa, e se tornou um verdadeiro cemitério aquático para centenas de detritos espaciais nas últimas décadas.

A data exata ainda não foi definida, e dependerá de fatores como a atividade solar. As últimas tripulações irão recolher equipamentos, experimentos e desconectar os módulos, para que a estação se desintegre mais facilmente na reentrada.

Substituto da ISS

A Nasa não irá construir uma nova ISS. Neste período de transição, a agência tem encorajado projetos comerciais na órbita da Terra. Em dezembro de 2021, ela investiu um total de US$ 415 milhões em três empresas —Blue Origin (de Jeff Bezos, fundador da Amazon), Nanoracks e Northrop Grumman—, que lideram a corrida para construir suas próprias estações espaciais privadas.

Um outro acordo, com a Axiom Space, prevê o lançamento de módulos privados para a ISS a partir de 2024. Quando ela encerrar as atividades, esses módulos irão se separar e formar uma nova estação privada. Assim, a pesquisa orbital pode de alguma forma continuar —a Nasa poderá "alugar" postos nela, assim como faz com os lançamentos terceirizados da SpaceX.

"O setor privado é técnica e financeiramente capaz de desenvolver e operar destinos comerciais na órbita baixa da Terra, com a assistência da Nasa. Estamos ansiosos para compartilhar as lições aprendidas e a experiência de operações, para ajudá-los a desenvolver destinos seguros, confiáveis e com bom custo-benefício no espaço", disse Phil McAlister, diretor de operações comerciais da Nasa.

Manter a Estação Espacial Internacional é muito caro para o governo dos Estados Unidos. Sem ela, a agência poderá se dedicar a planos mais ambiciosos, como a exploração do espaço profundo e missões tripuladas a Marte, planejadas para a década de 2030. "A economia é estimada em aproximadamente US$ 1,3 bilhão em 2031, chegando a US$ 1,8 bilhão até 2033", afirma a agência em relatório.

A China, que foi banida da ISS por motivos de "segurança nacional" dos EUA, já lançou o primeiro módulo de sua própria estação espacial. Chamada Tiangong, deve ser finalizada e começar a operar até o final de 2022.

Já a Rússia, segundo país mais ativo da ISS, porém historicamente rival dos EUA, declarou que deixará o projeto em 2025 e também planeja construir sua própria estação espacial, que pode ser lançada em 2030.