Como app de delivery ajudou polícia a encontrar acusado de terrorismo na UE
Adriano Ferreira
Colaboração para o Tilt, em Florianópolis
28/09/2021 17h17
Um homem acusado de ser terrorista do ISIS (braço do Estado Islâmico) foi preso na Europa graças ao seu gosto por kebab e o hábito de solicitar comida pela internet. Tudo aconteceu em abril de 2020, na cidade de Almería, na Espanha.
A polícia contou com dados do aplicativo de delivery Uber Eats (de entrega de alimentos) para localizar o ex-rapper egípcio-britânico Abdel-Majed Abdel Bary (31), suspeito em 2014 de participar de decapitação do jornalista norte-americano James Foley.
Segundo informações do jornal El País, que obteve acesso ao processo judicial, mantido em sigilo até semanas atrás, a operação de captura foi chamada de Altepa. Para chegar até o suspeito, a polícia fez investigações nas redes sociais do argelino Abderrezak Siddiki, 29, identificado como colaborador do grupo liderado por Bary.
Inicialmente, quando a polícia espanhola recebeu informações de que os dois homens poderiam entrar no país, em Almería, por barco, o serviço de vigilância foi acionado para encontrá-los.
Sem ter resultados buscando informações nas fronteiras e na lista de hóspedes de pensões da cidade, a solução foi acompanhar publicações dos investigados nas redes sociais.
Depois de verificar o uso de serviço de delivery nas postagens de Siddiki, os policiais solicitaram ao Uber Eats informações sobre o local das entregas.
As respostas da empresa foram bem detalhadas: às 22h46 houve um pedido do argelino para o The Kebab Shop, no dia 15 de abril de 2020, na rua Ledesma, números 6-14, em Almería.
No dia seguinte, outra ordem pelo app foi realizada às 22h00 para o estabelecimento Makro Döner (que também vende Kebab) com destino à rua Cádiz, números 24-34.
O rastreamento antecipado da próxima entrega levou um agente de polícia para o momento exato do recebimento da refeição, às 14h28 do dia 18 de abril na rua Cádiz. Quando o motoboy chegou ao local, Siddiki apareceu na sacada do edifício.
Na hora de o entregador levar a comida, no saguão de número 20, o investigador se posicionou no segundo andar, e finalmente identificou os homens procurados.
Dois dias após essa "visita", os agentes prenderam no mesmo local os dois residentes e mais um terceiro desconhecido: Kossaila Chollouah, argelino, de 26 anos, apontado como um tipo de "segurança" dos criminosos.
Segundo a reportagem, Abdel Bary está preso na penitenciária de Soto del Real, na região de Madri, e pode ser condenado por participar da organização terrorista. Ele nega. O motivo para sua chegada no país, segundo ele, foi o trabalho em estufas ou colhendo frutas.