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Como cientista da Nasa usa dados para se antecipar a deslizamentos no RJ

A geofísica Dalia Kirschbaum coordena o departamento de Resposta a Desastres da Nasa Imagem: Divulgação

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em São Paulo

06/09/2020 04h00

Muitos de nós lembramos de missões no espaço e a possibilidade de vida em outros planetas quando alguma notícia da Nasa surge. Mas você sabia que a agência espacial norte-americana também tem pesquisas voltadas para minimizar os impactos de catástrofes naturais na Terra? E uma delas usa o Rio de Janeiro como laboratório há três anos.

A geofísica norte-americana Dalia Kirschbaum coordena o departamento de Resposta a Desastres da Nasa, que toca estudos para compreender e antecipar perigos ambientais, como deslizamentos de terra causados por chuvas. Em entrevista a Tilt quando participou em agosto da Hacking Rio Talks, evento de tecnologia e empreendedorismo, a pesquisadora afirma que pesquisas nessa área são poderosas e podem ajudar a salvar vidas.

Segundo Kirschbaum, que também é chefe do laboratório de ciências hidrológicas do centro Goddard Space Flight da Nasa, o trabalho usa dados de satélites e modelos matemáticos para monitorar os impactos de desastres naturais em vários lugares do mundo, e o Brasil é um deles.

Em uma parceria firmada em 2015 com a prefeitura do Rio de Janeiro, a Nasa passou a oferecer a sua metodologia para a gestão pública perceber como a cidade pode ser afetada pelas mudanças climáticas. De acordo com Kirschbaum, que visitou a cidade duas vezes em nome da Nasa, o acordo prevê a troca de dados científicos, expertise e conhecimento em temas como desastres e qualidade da água e do ar.

Os dados de satélite podem fazer observações do que estamos vendo agora ou recentemente, é quase em tempo real. Eles não ajudam a prever os deslizamentos, mas podemos usar os modelos para olhar para o futuro e estimar os tipos de chuva que podem causá-los nos próximos dias
Dalia Kirschbaum, coordenadora do departamento de Resposta a Desastres da Nasa

De acordo com a cientista, a parceria entre a Nasa e o Rio de Janeiro é um acordo de cooperação e não envolve investimento financeiro entre as partes. "Não há troca de fundos para esta parceria. Nós fornecemos dados científicos, modelos e experiência para contribuir e aprender sobre como dados de satélite e modelo [matemático] podem ser usados para a tomada de decisões em escala municipal."

Além do papel como coordenadora de pesquisa, Kirschbaum participa de um projeto ambicioso. A Nasa trabalha com a missão Global Precipitation Measurement (GPM), criada para fortalecer uma rede internacional de satélites que informa sobre ocorrências de chuva e neve em todo o mundo a cada três horas. O objetivo será compreender melhor as mudanças climáticas por meio dos ciclos de água e de energia da Terra.

"Estou ansiosa para a próxima geração de missões de precipitação, que será lançada no início de 2030", afirma.

Quem vê Kirschbaum hoje como um dos grandes nomes da agência espacial na área de estudos da Terra não imagina que dificuldades em matemática na época da escola contribuíram para a escolha de sua carreira.

Aprendendo a juntar matemática e ambiente

Nascida em Minneapolis, no estado de Minnesota (EUA), Kirschbaum adorava números quando criança, e ficava feliz em fazer contas de adição e subtração em planilhas distribuídas na sala de aula, lembra. O único desafio era que ela não conseguia imaginar como a matemática podia ser aplicada em coisas práticas.

Foi durante a graduação, realizada na Universidade de Princeton entre 2000 e 2004, em Nova Jersey, que descobriu que a matemática e as ciências juntas podiam ser uma ferramenta poderosa para entender e contribuir com os desafios do mundo real. "Achei que queria me graduar em matemática quando entrei em Princeton, mas tive dificuldades com as provas. No meu primeiro ano de faculdade, fiz um curso sobre questões ambientais e fiquei fascinada."

Nessa época, a estudante conseguiu ver como poderia usar as duas áreas que gostava para compreender coisas como a erosão da praia, onde tornados afetam pessoas com mais frequência e se copos de papel ou isopor são melhores para o ambiente. "Depois daquele curso eu soube que queria aprender mais sobre geociências e o professor do curso me orientou para isso", acrescentou.

Prestes a se formar na faculdade, Kirschbaum já havia sido aprovada para fazer pós-graduação na Universidade de Columbia, em Nova York, onde estudou entre 2004 e 2009. Seu maior desejo era obter o título de PhD em ciências ambientais e, com sorte, trabalhar depois na esfera das políticas científicas.

A oportunidade na Nasa também surgiu nessa época, ao ser aprovada para um estágio no centro Goddard Space Flight, do qual hoje é chefe, em 2009. O bom desempenho de Kirschbaum também lhe rendeu uma bolsa de estudos financiada pela agência.

"Essas experiências realmente me ajudaram a colocar o pé na porta da Nasa. E me inspirei nas oportunidades de como os dados de satélite podem ser aplicados a desafios do mundo real, como desastres naturais, onde acabei concentrando meu trabalho de conclusão do doutorado", lembra. A contratação oficial da geofísica aconteceu em 2011 e ela está na agência desde então.

Mulheres mentoras

Em sua trajetória como pesquisadora, Kirschbaum destaca ter tido a sorte de trabalhar com mentoras mulheres que a guiaram e abriram caminho dentro da pesquisa científica. E que, embora a área de ciências ambientais ainda seja predominantemente masculina, ela observa que os números estão mudando, especialmente com a geração mais jovem.

"A única maneira desses números melhorarem e serem mais equitativos é continuarmos a encorajar e inspirar mais mulheres em matemática e ciências", ressalta. "Para os jovens interessados no campo das ciências da terra, é importante continuar estudando matemática e ciências. Em seguida, procure estágios e mentores, alguém cujo trabalho lhe cause entusiasmo. Em seguida, continue a inovar em tudo o que fizer."

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