Carro inteligente dirige mesmo sozinho? Testamos e sobrevivemos para contar
Imagine a seguinte situação: você acorda para ir ao trabalho, entra no seu carro, traça a rota no sistema multimídia do veículo e, sozinho, ele te leva até seu destino. Parece coisa do futuro, certo?
Mais ou menos: diversas fabricantes de veículos trabalham na ideia, algumas em estágio mais avançado, outras nem tanto. A Tesla, famosa pelos seus carros elétricos, é uma delas e já oferece uma função do tipo - ainda que com limitações e em constante evolução - em seus modelos. A expectativa é que nos próximos dois ou três anos surjam mais modelos com essa função.
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Enquanto eles não chegam, o UOL Tecnologia teve um gostinho dessa tecnologia ao testar o Volvo XC90. Trata-se do SUV top de linha da marca sueca, à venda no Brasil por preços entre R$ 366.950 e R$ 537.950. A versão escolhida para o teste foi a T8 Inscription, por um simples motivo: a presença de um modo semi-autônomo de direção.
A experiência durou uma semana e misturou boas doses de medo e diversão. No fim, nós sobrevivemos e estamos aqui para contar como foi.
Como funciona?
Chamado Pilot Assist, o sistema adotado pela Volvo no XC90 utiliza câmeras e sensores - muitos deles compartilhados com o forte aparato de segurança do modelo, uma das marcas da fabricante - para guiar o veículo em diversos tipos de vias.
Por meio dele, o carro não apenas consegue se manter dentro de uma faixa de circulação, mas também controla a distância em relação ao veículo da frente ao acionar, de maneira autônoma, freio e acelerador.
Tanto a velocidade quanto a distância a ser mantida de outros veículos são facilmente programadas pelo motorista. Para funcionar, o sistema depende que a sinalização horizontal - ou seja, as faixas pintadas na pista - esteja bem demarcada, o que pode ser um problema dependendo de onde se trafega por aqui.
Em todo caso, o Pilot Assist funciona em velocidades de até 130 km/h, mas, por questões legais, exige que o motorista acione levemente o volante a cada dez segundos para continuar ativo.
O sistema faz curvas tranquilamente, mas a ideia é que ele seja usado em vias mais retas, sem curvas acentuadas que dependam da redução da velocidade.
Sensação incômoda
Aqui, me permito um relato pessoal: apesar de gostar muito de dirigir, confesso que algumas situações, como engarrafamentos ou o irritante "anda e para" - situação perfeita para pequenos acidentes, aliás - me tiram do sério. Logo, poder experimentar um veículo que faria a parte chata de se locomover usando um carro foi algo que me empolgou.
Eu já havia guiado carros que monitoravam a sua posição dentro de faixas de rolamento de uma via, mas admito que nada até hoje havia me preparado para a experiência que eu tive a bordo do Volvo XC90.
O primeiro teste do sistema foi feito na marginal Tietê, em São Paulo, com trânsito moderado. Uma vez posicionado na faixa da esquerda da pista expressa - confesso que evitei as outras pistas devido ao medo de derrubar algum motociclista, especialmente porque o modelo é um "mamute" de quase cinco metros de comprimento e dois metros de largura -, acionei o sistema e, um tanto atônito, vi a mágica acontecer.
Carros com o tal do Controle de Cruzeiro Adaptativo, capazes de manter a distância para o veículo da frente, acelerar e frear (até mesmo parar) não são novidade e, definitivamente, não foi isso que me chamou a atenção. O "susto" em si veio quando surgiu a primeira curva. Eu estava disposto a deixar o carro agir sozinho, mesmo que isso significasse passar por algum aperto. A preocupação, porém, foi à toa: com suavidade, o carro contornou a curva, de forma até melhor e mais calculada do que um humano faria.
Foi um tratamento de choque - especialmente para alguém metido a piloto -, mas o medo logo se transformou em risadas e satisfação. A experiência se repetiu poucos dias depois, em uma curta viagem com a família: não teve passageiro que não se assustou inicialmente, mas acabou se divertindo ao ver o carro "dirigindo sozinho".
O lado ruim é que, ao usar esse modo semiautônomo, há uma boa chance de você ficar relaxado demais ao volante, seja conversando com outros passageiros, curtindo as músicas reproduzidas sistema de som Bowers & Wilkins com 19 alto-falantes ou olhando a paisagem. E, por não se tratar de um sistema 100% autônomo, é preciso programar o cérebro para nunca deixar de prestar atenção naquilo que ocorre ao redor.
No final, a parte mais difícil de usar o Pilot Assist foi ter a confiança inicial. Uma vez quebrada essa barreira, a tentação de acionar esse modo semiautônomo é constante, seja em viagens longas ou para ir a padaria.
Como toda evolução tecnológica positiva, o seu uso vicia. A parte chata foi que, dias depois, eu precisei voltar para o meu carro de uso pessoal - dependendo apenas dos meus sentidos e da minha coordenação motora para encarar o trânsito - e ver que ter um carro de quase R$ 500 mil ainda é algo bem longe da minha realidade.
Resta, portanto, o apelo: chega logo, futuro!
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