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Cemitérios virtuais para bichos (com lápide e tudo) ajudam seus donos no processo de luto

LARRIZA THURLER || Para o UOL Tecnologia

14/02/2011 07h00

Já é bem comum os internautas buscarem conforto no caso de morte nas redes sociais. Seja em seus perfis, no dos próprios mortos (onde os internautas deixam mensagens) ou em comunidades nas quais pessoas com as mesmas dificuldades compartilham experiências e tentam se ajudar. Esse tipo de comportamento vem se tornando cada vez mais comum, também, no caso de donos de animais, depois que seus bichos morrem. Há comunidades com esse objetivo no Orkut e também sites específicos para prestar homenagens aos fiéis companheiros. São os cemitérios virtuais para bichos, sendo que alguns cobram para manter bonita a flor digital.

O Virtual Pet Cemetery foi o primeiro do gênero Estados Unidos, criado em 1994. Segundo o proprietário do site, o americano Steve Hoffman, o cemitério virtual é uma parte importante do processo de luto.

“Os donos dos animais precisam de uma maneira de se expressar, porque os animais são membros da família. E ainda não existem muitos fóruns públicos nos quais as pessoas se sentem confortáveis para descrever o quanto o bichinho significou para ele”, afirmou em entrevista por e-mail ao UOL Tecnologia. No Virtual Pet Cemetery, os animais mais comuns são os cães, seguidos pelos gatos. Mas há de todo o tipo, como tartaruga, peixe, pássaro e hamster, entre outros.

Já existem também as versões brasileiras. No projeto Pro Animal, os jazigos estão divididos em quatro jardins: saudade, esperança, paz e amor. O proprietário do animalzinho pode escolher qual deles quer colocar o túmulo, que pedra terá a lápide, qual flor e escrever uma mensagem. Para manter a flor sempre “bonita”, é preciso atualizar a inscrição -- por R$ 10, a flor é mantida o mês inteiro. O dinheiro, afirma o site, ajuda a manter a instituição, em São Leopoldo (RS), que auxilia no resgate de animais abandonados.

“É uma página de lembranças, onde os donos colocam fotos e informações sobre o animal que faleceu”, define Osvaldo Souza, editor do portal Pets Online, onde fica hospedado o também brasileiro Pet Cemetery. No “Além do Horizonte”, do site Saúde Animal, basta enviar um e-mail com foto, nome, espécie, data de nascimento e de morte, e a mensagem para publicação. O Céu dos Pets, do site Mania de Cão, oferece serviço semelhante.

Real e virtual

Alguns desses cemitérios existem inclusive fisicamente. É o caso do Cemitério dos Animais, em Belo Horizonte. São dez alas – fidelidade, afeto, amizade, ternura, carinho, saudade, silêncio, descanso, repouso e lembrança. Em cada uma, é possível ter um jazigo virtual, com foto e mensagem para o bichinho falecido. O proprietário José Maria Camargo viu na dificuldade de sepultar o seu cão Max uma oportunidade para criar, em 1998, um cemitério – físico e virtual - para animais. “O objetivo era proporcionar conforto às pessoas que sofrem com a perda de seu animal de estimação”, conta ele. Hoje, são cerca de 4 mil jazigos. A maioria utiliza o cemitério virtual também.

  • Arquivo pessoal

    “Mesmo depois de ter morrido, ela continua tendo um lugar que é dela”, comenta Romero Caixeta

Quem já experimentou o serviço, aprova. O servidor público Romero Caixeta sentiu-se mais aliviado ao enterrar sua gatinha Milady em um endereço certo, com espaço e cuidados diferentes de um aterro sanitário – para onde acabam indo muitos animais quando morrem. “É um lugar onde de vez em quando vou para visitar o pequeno túmulo da Milady e ler os nomes e as mensagens dos outros túmulos”, comenta.

Para ele, o cemitério virtual funciona como uma “casa” para a gatinha. “Mesmo depois de ter morrido, ela continua tendo um lugar que é dela.” Além disso, ao fazer uma homenagem ao animal morto, com fotos e histórias da vida, e dividir a dor com outras pessoas que possam compreender o que isso significa, a pessoa pode atravessar o luto de maneira mais forte.

Um estudo realizado pela canadense Martha Baydak, em seu mestrado de serviço social, revelou que a dor da perda de um animal pode ser tão profunda quanto à de um humano. No entanto, ao contrário da morte humana, não é comum haver rituais para reunir amigos e familiares de modo a auxiliar a passar pelo luto. Aí entram os cemitérios de animais -- tanto os reais como os virtuais --, para amenizar essa dor.