Ela não desliga

Camila Bomfim se torna apresentadora após trajetória com direito a perrengue e maratona na TV

Leandro Carneiro De Splash, em São Paulo Globo / Lincoln Iff

Quando você liga a televisão para acompanhar as notícias na Globo, ela está lá. Quando muda para a GloboNews, mais uma vez, ela está presente. Camila Bomfim se tornou aquele tipo de jornalista que parece onipresente, muito por conta do ritmo intenso do noticiário em Brasília nos últimos anos.

Cria da política, como ela mesma se define, Camila é do tipo nerd. Gosta de estudar fazer imersão em assuntos e passar o máximo de informação que consegue. Quase sem parar, sem nunca deixar trabalho pela metade.

Em 15 anos de Globo, teve de lidar com coberturas ao vivo que duraram mais de três horas, como no dia em que Kobe Bryant morreu ou quando Lula fez um discurso após deixar a prisão.

Mas essa rotina intensa vai dar uma mudada a partir da próxima semana. Aos 39 anos, Camila dividirá o "Conexão GloboNews" com Leilane Neubarth e José Roberto Burnier.

Globo / Lincoln Iff

Sempre no ar

Se você está cansado e tem a sensação que 2020 ainda não acabou por causa da pandemia, podemos dizer que está no lucro se comparado a Camila Bomfim.

Isso de não desligar nunca rendeu até uma brincadeira:

Uma crise engolindo a outra, a gente brinca que desde 2013 estamos vivendo um ano inteiro até 2021.

Foram manifestações, eleições, trocas de governo, pandemia, CPI, crise política, crise econômica, entre outros fatores que agitaram os bastidores de Brasília. E, na linha de frente, a jornalista não é das pessoas que derruba a caneta quando acaba o expediente.

Jornalismo é um casamento, mas quando você gosta do que faz, que é o meu caso, você fica dentro daquilo. Eu não consigo começar a apurar, dar o horário em que posso ser liberada e voltar só amanhã. Jornalismo tem essa característica, é uma relação estável.

A paixão por Brasília também foi o que a levou a fazer pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UNB). Como boa nerd, gosta de entrar de cabeça nos assuntos.

Acho que isso me ajudou na hora de trabalhar, consegui dar profundidade, entender o enredo, os meandros da política e, a partir daí, ter ideias de pauta. Sou cria da política, nasci em Brasília e gosto disso. Essa imersão me dá segurança. Não é cansativo, exaustivo, me faz estar com leveza no ar.

Reprodução/Acervo Memória Globo

Perrengue chique

Mas quem vê Camila na frente das câmeras passando as informações não faz ideia de que algumas situações complicadas fazem parte da sua rotina.

Um desses episódios aconteceu durante as manifestações contra o governo de Dilma Rousseff (PT). Você, provavelmente, não notou, mas quando abriu o link ao vivo, algo estava errado.

Como alguns atos chegavam a ter hostilidade contra a imprensa, a Globo decidiu que seus funcionários acompanhariam as manifestações em cima de alguns prédios. Até aí tudo bem, se não fosse por um detalhe.

Tive de ir para terraço do Ministério da Saúde, que é o prédio mais próximo do Congresso. Nunca tinha pisado lá. Chegando no terraço, ele é coberto não por cimento, é cheio de bolinhas, como pedras. Quando pisei, o salto quebrou. Na hora que quebrou, me avisaram que eu tinha cinco minutos para entrar no ar.

Deixei o sapato de lado, fui andando pelas pedras, afundando, sendo segurada pelos lados... Fiz o ao vivo. Aquela coisa, quem vê close, não vê o corre.

Camila Bomfim

Globo / Lincoln Iff Globo / Lincoln Iff

Machismo

Ao contrário do que tem sido rotina com jornalistas que atuam na cobertura de eventos do Governo ou falam sobre o assunto na televisão, Camila diz não ter sofrido com a mão do machismo no trabalho. Mesmo assim, claro, ela julga esse debate importante.

"Aqui em Brasília, nunca vivi nenhum caso semelhante até hoje. Nenhum caso de alguém me assediar ou que se referisse a mim com desrespeito."

E ela prossegue:

Acho que o debate precisa ir além dos episódios, existe algo muito bom que é o debate que precede a mudança de comportamento. Você vê hoje uma série de reações para que não se repita. Todas as jornalistas merecem respeito. Não tive grandes problemas, mas o mais importante é o debate para andar, não permitir esse excesso com mulheres.

Globo / Lincoln Iff Globo / Lincoln Iff

Função nova

Por diversas vezes, Camila esteve como apresentadora na GloboNews. Mas agora ela terá o desafio de se fixar na função. Mais que isso, terá a responsabilidade de conduzir um novo programa da emissora, que é visto como a grande aposta do canal.

O "Conexão GloboNews" terá três apresentadores simultâneos com uma linguagem mais moderna que a de um jornal tradicional. A ideia é mostrar um programa mais aberto ao diálogo, narrando os acontecimentos com numa conversa.

Não vai deixar de ter relevância, a gente vai continuar dando notícia, mas ela será transmitida em uma conversa. É um jornal de quatro horas que pede uma abordagem nova.

Mas quem pensa que ela deixará completamente a rotina de apuração e de grandes matérias, Camila tranquiliza os fãs. A gente continuará vendo seu rosto no Jornal Nacional e em outros telejornais da casa.

"Saio do formato que a gente já conhece, mas continuarei fazendo conteúdo especial. A Globo quer aproveitar, usar todo esse relacionamento que temos para continuar dando notícia. Isso vou continuar fazendo, falando com fontes, ao vivo."

Reprodução/Instagram

A maternidade

Mas, apesar das piadas, Camila desliga, para a surpresa da maioria das pessoas. A jornalista tira um momento para meditar diariamente. Também tenta ficar sem olhar o celular à noite, para ficar mais quieta e recarregar as energias. E a melhor forma de fazer isso é ao lado do filho, João, que fará cinco anos.

"Grande forma de recarregar é estar em família, com meu filho. Me reconecto, me renovo."

Aliás, Camila fala com orgulho quando o assunto é seu herdeiro e a mãe que nasceu a partir do nascimento do garoto.

"Eu acho que traz muita maturidade. No início, quando nasce o filho, nasce a culpa, você está sempre preocupada. A melhor coisa foi aprender a conciliar as coisas, sem sentir culpa, ter tranquilidade. Todos os perrengues que passei como mãe me fizeram crescer. Sou mãe e profissional, sem que uma coisa anule a outra."

Gosto muito de ser mãe e do jornalismo.

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