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Amaro Freitas, prodígio do jazz contemporâneo, reverencia Amazônia em álbum

O pernambucano Amaro Freitas Imagem: Micael Hocherman

Adriana Amâncio

Colaboração para Splash

26/04/2024 12h00

Um dos maiores pianistas da nova geração do jazz, o pernambucano Amaro Freitas lança o mais novo álbum "Y'Y", nos dias 27 e 28, no Sesc Pompeia, em São Paulo. Ele chega ao Brasil após cumprir uma temporada de shows na Europa. A nova produção chega ao público pelo selo Psychic Hotline.

Apesar de ter inspiração no jazz fusion, variedade que permite a fusão com outros ritmos, Amaro vai além e traz em suas composições experiências que remontam ao reencontro com as raízes. "Y'Y" (pronuncia-se IêIê) é fruto do contato do prodígio pianista com a etnia indígena sateré mawé, de Manaus, estado do Amazonas. A obra homenageia lendas e traz uma perspectiva poética do rio e das matas amazônicas.

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O pianista, que tem como uma das suas referências a lenda do jazz fusion Chick Corea, desembarca em São Paulo após 14 shows na Europa. Ele conta que o novo álbum é fruto da combinação do estudo de piano preparado, criado por John Cage, com a vivência com os sataré mawés.

O álbum nasce dos dias em que passei com o povo falando da importância dos rios, da floresta, de tomar o puro guaraná do Amazonas todos em círculo, comer formiga, ouvir frases como 'comer o fruto do rio' e 'beber água da fonte' Amaro

No programa do show, o público vai ter contato a reprodução de um som estrondoso e vibrante do trovão, típico da canção "Mapinguari (Encantado da Mata)", representada pela figura de um gigante faminto que vagueia pela floresta.

Já a canção Uiara celebra o boto cor de rosa. Para reproduzir o som emitido pelo mamífero, o músico faz uso do EBow, um tipo de dispositivo de arco eletrônico mais utilizado em guitarras elétricas, e fita adesiva para distorcer o som do piano, simulando o som dos sintetizadores.

A faixa título do álbum, "Y'Y", busca traduzir a força ancestral do encontro das águas amazônicas em dois movimentos opostos. A reprodução desses sons ressoa como cantos antigos, com vocalizações repletas de eco. No álbum, essa faixa conta com a flauta do inglês Shabaka Hutchings em duo.

"Encantados" celebra a diáspora africana ao mesmo tempo em que reforça as tradições que fazem parte da natureza humana. No álbum, a faixa apresenta o icônico baterista americano Hamid Drake, Shabaka Hutchings, na flauta, e o cubano Aniel Someillan, no baixo acústico.

Essa nova obra segue o padrão adotado pelo artista em toda a sua discografia, que traduz suas experiências de conexão com as raízes anteriores à colonização. O álbum antecessor a "Y'Y", Sankofa, propõe uma conexão com a ancestralidade enquanto avança para o futuro. Já Rasif, grafia em árabe para Recife, cidade natal do artista, é uma homenagem poética ao seu território.

Ao imprimir todas essas referências ancestrais, Amaro rompe com a ideia que se tem do jazz brasileiro marcado pela bossa nova, samba jazz, baião com jazz, e traz uma sonoridade que exige mais do que os ouvidos para ser assimilada. Depende dos cinco sentidos e da abertura para mergulhar em novas experiências.

No início, eu enfrentei resistência do público que esperava o estilo tradicional do jazz brasileiro. Mas, ao persistir com o meu estilo, os festivais foram entendendo a minha música e hoje me surpreendo com a Europa que gosta da minha música, que pode ser considerada um respiro para o continente que recebe música de vários cantos do mundo

Nascido em uma família com acesso à pouca renda, Amaro Freitas iniciou a formação musical com a ajuda da igreja evangélica que o seu pai frequentava. Ele passou na prova do Conservatório Pernambucano de Música, mas não tinha R$ 30 para seguir frequentando as aulas. Para não perder as aulas, vendeu pão, trabalhou com telemarketing, tocou em vários restaurantes da cidade e até em bandas sertanejas e instrumentais.

Essa trajetória de superação para alcançar a formação musical, permeia as experiências traduzidas pelo artista ao piano.

A música, para mim, é totalmente influenciada pela vida. Eu não estudei sobre Tereza de Benguela, não soube que entre o meu povo havia rainhas e reis. As experiências que eu vou tendo ao longo da vida eu traduzo nos meus álbuns como forma de trazer uma outra perspectiva de Brasil ao qual eu não tive acesso quando era criança"

Serviço

Show: Amaro Freitas - Lançamento do disco "Y'Y"
Local: SESC Pompeia (Rua. Clélia, 93 - Água Branca, São Paulo/ - Telefone: 11) 3871-7700)
Datas e horários:
*27/04 (sábado - 21h)
*28/04 (domingo - 18h)

Duração: 90 minutos
Preços:
R$ 15 CREDENCIAL PLENA
R$ 25 MEIA ENTRADA
R$ 50 INTEIRA
Ingressos à venda online a partir do dia 16/4, às 17h, e nas bilheterias a partir do dia 17/4, às 17

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