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Globais apoiam Calabresa e supostas novas vítimas em caso Melhem

Dani Calabresa denunciou Marcius Melhem ao compliance da TV Globo em 2019 - Globo/Estevam Avellar
Dani Calabresa denunciou Marcius Melhem ao compliance da TV Globo em 2019 Imagem: Globo/Estevam Avellar

De Splash, em São Paulo

25/03/2023 18h28

As atrizes da Globo Leandra Leal e Paloma Bernardi, além da cantora Clarice Falcão, usaram o Twitter para ajudar a dar mais visibilidade para a hashtag #UmaPorSegundo. A campanha reúne mulheres que se solidarizaram com os relatos de vítimas de assédios que teriam sido cometidos pelo humorista Marcius Melhem.

Entre elas está a também humorista Dani Calabresa, que denunciou o ator em 2019 ao compliance da TV Globo.

"Estava insustentável trabalhar em um ambiente em que eu comecei a perceber que eu era barrada dos convites; que eu não era liberada para as coisas; que eu estava trabalhando com tremedeira; que ele se aproveita das brincadeiras para brincar ereto; que ele pega de verdade; ele tenta enfiar a língua de verdade. Não é selinho, não é piada, não é brincadeira", disse Calabresa em relato ao portal Metrópoles.

Entenda o caso

Ontem, Metrópoles divulgou uma reportagem especial com relatos de quatro mulheres e sete testemunhas que acusam Marcius Melhem de assédio sexual.

As atrizes Renata Ricci, Georgiana Góes, Veronica Debom e Maria Clara Gueiros acusam o humorista fluminense de criar um ambiente tóxico, não dar créditos em trabalhos da emissora, causar constrangimentos e até de receber uma delas de cueca - no que ele afirma ter sido uma pegadinha. Melhem nega as acusações.

O Metrópoles ainda ouviu como testemunhas as roteiristas Luciana Fregolente e Carolina Warchavsky, os diretores Mauro Farias e Cininha de Paula e os atores Marcelo Adnet, ex-marido de Dani, e Eduardo Sterblitch. Melhem também deu entrevista ao portal.

Por que atrizes, atores e roteiristas deixaram anonimato?

Adnet: "A gente vê que, de repente, tudo caiu em cima de Dani. Que a Dani sozinha fez não sei o que, sendo que ela não procurou ninguém, não procurou imprensa, não procurou nada."

Luciana reforça que são 11 pessoas que conseguiram se reunir e ter coragem para dar a entrevista. "A gente está falando em nome de muitas amigas nossas que estão tendo ataques de pânico em casa. [...] A gente ter que vir aqui contar a nossa história, se defender publicamente, porque a gente não podia mais deixar a Dani sozinha nessa. Isso não aconteceu só com a Dani Calabresa. [...] A gente está pela gente, pelas mulheres desse país e pela Dani Calabresa."

Renata: "Parece que é um complô. [...] Mas, as histórias sempre foram muito protegidas, ninguém sabe muitos detalhes da história da outra pessoa. No meu caso, eu já estava fora do programa, quando eu entendi o que tinha acontecido comigo. [...] Eu estou aqui, eu não dormi essa noite, estou tremendo de medo. Tem muitas pessoas que também não estão aqui. [...] A gente está, de novo, se tornando vítima para se proteger. E para conseguir parar um movimento que está afastando ainda mais as pessoas que podem corroborar o caso."

Dani: "[Esse movimento] É uma tática, é uma estratégia. Todo abusador tem porta-voz, tem estratégia, tem um plano. A estratégia é descredibilizar as vítimas, é desqualificar as mulheres. Essa é uma amante vingativa, essa é uma ex-namorada louca, essa é uma ambiciosa que quer fama. Quando ele ataca, e quando ele tira mensagens fora do contexto, ele tenta confundir como se, ah, mas flertou. Nada autoriza assédio, mas as pessoas pensam, meu Deus, ele vai vazar print email, meu Deus, isso é uma ameaça. Ele afasta pessoas e cala vítimas, e cala testemunhas. As vítimas estão sendo obrigadas a virem expor o rosto e o nome, nenhuma vítima tem que passar por isso."

A versão de Melhem: "Existe a possibilidade de essas pessoas anos depois terem sido convencidas a achar que o que viveram foi outra coisa". Questionado sobre o motivo, ele afirmou: "A troco de estar na frente de uma causa nobre, de visibilidade, pertencimento…".

"Hoje, olhando em perspectiva, tem brincadeiras que a gente fazia, que eu, como chefe, não devia ter feito. Tinha uma visão minha na época que era assim: se eu, que era colega dessas pessoas, viro chefe e começo a tratar todo mundo diferente, eu achava que isso é que era o erro", adicionou ele.

Dani Calabresa versus Melhem

Dani Calabresa diz ainda que Melhem a impedia de fazer novos projetos, como novelas, e a mantinha no Zorra. Ela conta que um dia conversou com ele sobre ter sido chamada para participar de uma novel, e Melhem teria respondido: "Amor, garota, eu te protejo, era só furada, não tem nada para você de bom, imagina, fica tranquila, eu te protejo, ele [Silvo de Abreu] não tem nada que falar com você."

"Além de não me liberar, ele me aprisionou no Zorra e olha que coisa louca, eu amava trabalhar lá. Tem essa camada de você demorar para perceber que aquilo está errado. [...] Fui entendendo que eu não posso apresentar nenhum projeto fora, não posso aceitar um papel de uma novela, não posso aceitar o papel de uma minissérie que Miguel Falabella escreveu um papel para mim, ainda levava bronca."

Em outro trecho, Dani agradece o apoio que recebeu de Maria Clara Gueiros, Mauro e Sininha e relembra que "comprar briga com ele [Melhem], custaria mesmo a minha carreira. Só que chegou um ponto que eu queria sair. Eu não tinha medo de sair, eu tinha medo de ficar."

"Ele já estava me descredibilizando. Ele já estava nessa estratégia de eu sou louca, eu sou vingativa, é por causa do furo. Não é por ter agarrado a força ou assediar. Ele espalhou isso para todo mundo. Ia trabalhar, e ouvia dos redatores: 'Ele falou, você está com problema na cabeça, você está com problema psiquiátrico'. Ele me descredibilizou antes, pensando, se essa me der dor de cabeça falando o que eu faço, já deixo eu pintar ela de louca antes."

A versão de Melhem: "Eu não tenho poder de contratações e demissões. Eu posso dizer com quem eu quero trabalhar ou não. O caminho era livre para entrar e para sair. No Zorra, eu e Maurício Farias [diretor artístico] éramos os únicos que no fim do ano nos reuníamos com o elenco e perguntávamos: 'Quer parar, quer continuar?'".

"Era uma regra que as pessoas não soubessem dessa movimentação interna de quem quer qual talento. Sempre foi assim: quem quis sair, saiu. E quando a Globo quis levar, levou. Enquanto eu estive no Zorra, saíram Fabiana Karla, Mariana Santos, Rodrigo Santana, Nelson Freitas, uma penca de atores. Nesse caso de Silvio de Abreu. Eu comuniquei a Dani e ela nem quis ouvir a proposta, tanto que ela saiu do Zorra e teve novos convites para novela e ela continua negando. Hoje ela diz que eu vetei. Eu nunca vetei."

Como foi a saída de Melhem da Globo?

Em março de 2020, Melhem deixou a liderança dos projetos de humor da Globo por motivos pessoais três meses após ter nome envolvido em casos de supostos assédios morais.

Na época, ele pediu licença das funções de roteirista e ator por quatro meses. Em agosto de 2020, em comum acordo com a Globo, Melhem deixou a emissora após 17 anos.