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Aline Borges sobre racismo: 'Passavam pano porque eu tenho a pele clara'

Aline Borges se reconheceu como mulher preta aos 43 - Reprodução/Instagram
Aline Borges se reconheceu como mulher preta aos 43 Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para Splash, em São Paulo

25/09/2022 10h25

Aline Borges hoje faz sucesso na pele da personagem Zuleica, em "Pantanal" (TV Globo). Mas nem sempre foi assim. Em entrevista ao Extra, a atriz lembrou a infância pobre e o racismo que sofreu, mesmo antes de se perceber como uma mulher preta.

"Sou cria de Parada de Lucas, morava quase que em uma comunidade. Era um terreno grande da família onde tinham vários barracos, uma vida supersimples. Lembro que, quando chovia muito, a gente tinha que correr para levantar tudo por conta de enchentes", disse Aline.

Aos 9 anos, a atriz se mudou para Campo Grande, onde os pais financiaram um apartamento. "Quando chegamos ao condomínio, andei de elevador pela primeira vez e foi uma coisa! Eu e meus irmãos parecíamos uns bichos do mato, sabe? Era algo distante da nossa realidade".

"Eu fui a 'raspa da panela'. Minha mãe já tinha três filhos quando ela engravidou sem querer e vieram dois, eu sou gêmea. Depois que nascemos, fomos criados com muito amor, claro, mas eu não tive uma educação empoderada. Tudo que sobrava vinha pra gente, não tinha essa coisa de 'o mundo é seu', continuou.

Ela ainda afirmou que, por ter a pele clara - principalmente em comparação ao seu irmão gêmeo -, não se reconheceu como mulher preta por muito tempo.

"Comecei fazendo coisas pontuais. Nessa época eu nem tinha consciência da minha identidade racial. Eu ficava buscando fazer papéis destinados a mulheres brancas: a patricinha, a mocinha... E nunca chegava isso para mim. Era só empregada, copeira, bandida. Eu nem questionava".

"O racismo tem várias camadas e atravessa as pessoas pretas independentemente do tom de pele que temos. Na minha vida, vi meu irmão sofrer diretamente e, comigo, as pessoas passavam pano porque eu tenho a pele mais clara. Fui crescendo, e também me tornei vítima disso, quando, por exemplo, a escolha das personagens me deixava numa caixinha de subserviência".

Ainda em entrevista ao veículo, ela afirma que foi só em uma peça, aos 43 anos, que tomou consciência de sua cor. "A partir daí, tudo mudou. O entendimento de negritude no Brasil é se você tem a pele escura. Se não tem, falam: 'Você nem é tão preto assim'. Se eu fosse branca, estaria tendo os privilégios de uma pessoa branca. E entender isso fez com que eu me apropriasse da minha história e dos que vieram antes de mim. Consegui me entender como artista, ser humano, mulher".