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Neta de Vinicius de Moraes diz que indenização pela ditadura foi 'justa'

O poeta, compositor e diplomata Vinicius de Moraes, em 1967 - Folhapress
O poeta, compositor e diplomata Vinicius de Moraes, em 1967 Imagem: Folhapress

Colaboração para Splash, em São Paulo

28/05/2021 07h59Atualizada em 28/05/2021 08h41

Julia Moraes, neta do poeta, compositor e diplomata Vinicius de Moraes, acredita que a indenização de R$ 3,4 milhões que a família recebeu foi adequada diante das perseguições que seu avô sofreu durante a ditadura militar brasileira e de suas contribuições como músico para o país.

"A indenização foi justa e é importante deixar claro que o montante só é esse por causa da demora na decisão. Vinícius fez conexões importantes para o Brasil quando diplomata. A perseguição que sofreu foi de uma boçalidade sem fim. Um general o chamou de vagabundo", explicou a produtora em entrevista para a edição dessa semana da revista Veja.

"Durante seu tempo de serviço na época da bossa nova, meu avô sempre se apresentou de terno e gravata. Nunca ganhou um tostão pelos shows, porque isso era proibido aos diplomatas", garantiu. Apesar de ter sido funcionário de carreira do Itamaraty, Vinícius acabou demitido no fim de 1968, graças às tensões políticas da época.

Ela também falou sobre as lembranças que tem daquele que foi um dos compositores mais reconhecidos da música nacional. "São sempre lúdicas. No caso do Vinicius, elas são mais poéticas ainda. Lembro-me da casa da Gávea, que costumava ficar cheia de gente em volta de uma ampla mesa de café da manhã. Era um clima muito carinhoso e amistoso. O jeito dele, sempre tão doce, impregnou toda a família. É uma presença até hoje muito forte na minha vida", afirmou.

Para ajudar a preservar a memória de Vinicius, sua família disponibilizou na internet cerca de 11 mil documentos de seu arquivo pessoal, que inclui letras de músicas e cartas trocadas com contemporâneos como Orson Welles e Charles Chaplin.

"Esses materiais já estavam disponíveis para consulta pública presencial. Agora, qualquer pessoa poderá acessá-los pela internet. Rever os documentos me deu uma imensa vontade de ter nascido alguns anos antes, para que eu pudesse ter usufruído mais a sua convivência. Só depois dos 40 anos é que fui trabalhar com esse material. Precisei lidar com outras coisas na minha vida até ter a maturidade para compreender a obra do Vinicius", relembrou.