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Prêmio para a literatura jovem: como o leitor pode amadurecer com isso?

Em 2020, quando o Jabuti desmembrou a categoria Romance em duas frentes, Literário e de Entretenimento, muitas opiniões surgiram no debate a respeito da inovação do prêmio.

Não gostei e ainda não gosto dos termos escolhidos para diferenciar um reconhecimento do outro. Muito resmungo, nariz torto e críticas razoáveis teriam sido evitados se Romance Literário se chamasse, de repente, Prêmio Clarice Lispector e Romance de Entretenimento também carregasse o nome de algum autor representativo. Evitaria a ideia de um cisma entre literatura e diversão.

Deixei a sugestão com a CBL, organizadora do Jabuti, quando integrei o conselho curador da premiação, no ano passado. Isso porque acho positivo reconhecer que há múltiplas formas de pensar, produzir, encarar e avaliar um romance.

É o que está por trás da divisão, basta darmos uma olhada no regulamento. No deste ano, uma categoria privilegia, na ordem de importância, originalidade de forma e/ou estilo, técnica narrativa e estrutura e desenvolvimento do enredo e dos personagens. A outra preza pelo desenvolvimento da ação e dos personagens, potencial de engajar o leitor e originalidade na técnica narrativa. Cabe a autores e editores escolherem como querem ter seus trabalhos julgados.

Bom termos prêmios que olham de diferentes formas para a nossa produção literária. O Prêmio Sesc se estabeleceu como o principal para contistas e romancistas inéditos. O São Paulo também dá atenção para romances de estreia em uma de suas categorias. Biblioteca Nacional, com suas múltiplas frentes, e Oceanos, agora dividido em prosa e poesia, sempre merecem ser acompanhados.

Há nichos com miradas próprias, como o Mix Literário, focado em livros que tragam questões caras à comunidade LGBTQIA+. Editoras também têm suas premiações com determinados recortes, como a Todavia com o seu de Não-ficção.

Poderia seguir com outros exemplos. Penso nesses concursos todos após a Amazon Brasil anunciar a criação de mais uma distinção atrelada ao KDP, sua plataforma de autopublicação. Depois dos Prêmios Kindle de Literatura, Geek e Conto Inesquecível, a multinacional acaba de anunciar a criação do Prêmio Amazon de Literatura Jovem, focado no nicho de young adults, o jovem adulto.

Autores como Cassandra Clare e Colleen Hoover são exponentes desse segmento colado ao juvenil e que hoje movimenta uma parcela importante do mercado editorial. A Bienal do Livro do Rio se transformou num grande centro de encontro de fãs do gênero. Não foi por acaso que a Amazon escolheu o evento para anunciar a novidade.

As inscrições do Amazon de Literatura Jovem, que terá um prêmio de R$35 mil, irão de 11 de setembro até 31 de dezembro. O livro vencedor ainda ganhará uma edição impressa pela HarperCollins. O júri será composto pelos escritores Stefano Volp e Vitor Martins e pela agente literária Taissa Reis.

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Mais um filão contemplado e mais um troféu que simboliza uma forma específica de encarar a literatura. Prêmios e seus livros premiados sempre geram, além dos aplausos protocolares, divergências e controvérsias. Quanto maior a diversidade, quanto maior o número de possibilidades, maiores as trocas de ideias (com direito a farpas e bordoadas) sobre a arte.

Quem ganha com isso são aqueles leitores que sabem transitar entre visões e argumentos distintos e fazer bom proveito dessas tensões para afinar a própria noção de boa literatura.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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