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Lado a lado, eleitores de Lula e de Bolsonaro defendem seus votos

Natália Mota e Caroline Monteiro

Da Redação

28/10/2022 04h00

Homens na faixa dos 60 anos, migrantes, espíritas, donos de restaurantes na região metropolitana de São Paulo. Isidro Souza Viana, 56, e João Luiz de Almeida, 58, têm muita coisa em comum — inclusive o apoio a Lula em 2002. Mas, com pouco tempo de conversa, é possível ver as diferenças entre as visões políticas de cada um. "Bolsonaro sempre falou um montão de bobagem, mas foi a primeira vez que ele governou", diz Almeida, eleitor de Jair Bolsonaro. "O segundo mandato do Lula foi uma decepção muito grande."

Viana veio do interior da Bahia em 1986 com a família, que sempre administrou bares em São Paulo. No endereço que ele comanda no centro da cidade, a decoração é marcada por centenas de adesivos, bandeiras e adereços do PT. Mas, apesar da convicção política, ele não esconde o medo. "Meu público é quase todo de esquerda. A gente tem medo de passar algum maluco na rua e ter algum atentado."

Isidro - Liel Marín/UOL - Liel Marín/UOL
Isidro Souza Viana é dono de um bar no centro de São Paulo
Imagem: Liel Marín/UOL

O bairro onde Viana mantém o bar faz parte da zona eleitoral da Bela Vista, onde Lula conquistou 56,46% dos votos no primeiro turno ante 29,60% de Bolsonaro.

Almeida abriu a hamburgueria que comanda durante a pandemia. Ele nasceu no Rio de Janeiro, morou 17 anos na Espanha e voltou para o Brasil em 2005 para trabalhar como engenheiro. Hoje está em Osasco, na Grande São Paulo. Na cidade, a disputa eleitoral no primeiro turno foi mais acirrada. Lula saiu à frente, com 45,74% dos votos, mas Bolsonaro fez número próximo, 41,25%.

"Apesar de eu ser Bolsonaro, não estou botando a bandeira lá fora. Eu evito falar de política."

 João Luiz Almeida - Marcelo Ferraz/UOL - Marcelo Ferraz/UOL
João Luiz Alemeida abriu uma hamburgueria durante a pandemia em Osasco (SP)
Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Mesmo com divergências políticas e ideológicas, é possível encontrar preocupações em comum entre os dois, como economia, família, educação e principalmente segurança. A violência política também foi destaque nos relatos, mas, nesse caso, os argumentos defendem que a violência vem do outro lado.

"Vejo discurso de ódio muito mais entre quem apoia Lula. Você fala alguma coisa de Bolsonaro e a pessoa já chama ele de crápula, canalha."

O medo que Viana tinha de entrar para as estatísticas de violência eleitoral se concretizou no começo de outubro. Ele foi agredido por um homem que passava em frente ao bar, enquanto trabalhava. "Acho que ele viu a bandeira do PT, começou a ficar agressivo e me deu um murro. Eu quase fiquei cego."

A campanha política de 2022 foi marcada por episódios violentos, incluindo agressões e homicídios. Um dos casos mais emblemáticos aconteceu em julho, quando o guarda municipal e petista Marcelo Arruda foi morto a tiros em sua festa de aniversário após uma discussão, em Foz do Iguaçu (PR).

No segundo turno, um em cada três eleitores (34%) alega que tem muito medo de sofrer algum ato de violência. As informações são da pesquisa Datafolha realizada de 5 a 7 de outubro. Do eleitorado, 29% relatam ter um pouco de medo, 35% dizem não temer violência e 1% preferiu não opinar. Os eleitores do ex-presidente Lula estão entre os grupos mais temerosos (43%). Entre eleitores de Bolsonaro, a parcela é de 23%. O levantamento ouviu 2.884 pessoas.

Para o colunista do UOL Josias de Souza, a única certeza é que a polarização segue no país, independentemente do resultado deste domingo (30). "O Brasil vai escolher um vencedor, mas não vai escolher um presidente capaz de unificar a nação, que está muito dividida. Um 3º turno é inevitável e terá a duração de quatro anos."

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