MI MARADONA QUERIDO

Um ano após sua morte, paixão pelo astro do futebol vira roteiro de arte pelas ruas de Buenos Aires

Luciana Taddeo (texto) e Amanda Cotrim (fotos) Colaboração para Nossa, de Buenos Aires, Argentina Amanda Coutrim/UOL

Em 25 de novembro de 2020, uma notícia caiu como uma bomba na Argentina e no mundo do futebol: morria, aos 60 anos, Diego Armando Maradona. Um ano depois, as lágrimas e a comoção deram lugar a diferentes expressões artísticas que registram a saudade, a admiração e o agradecimento dos argentinos pelo eterno camisa 10 da seleção argentina.

A abundância de cores, técnicas, artistas e fases da carreira do craque que se espalham por Buenos Aires são uma verdadeira aula sobre o homem que projetou o futebol do país vizinho no mundo e uma mostra de como sua trajetória marcou os argentinos.

As novas homenagens se somam a obras que já exaltavam o legado do ex-jogador pelas ruas portenhas, e que ajudam a conhecer a história de Maradona e entender melhor a paixão que leva os argentinos a chamarem esse grande ídolo de nada mais e nada menos do que "deus".

Nas horas seguintes à confirmação da morte de Maradona, centenas de admiradores abalados se reuniram diante do Estádio Diego Armando Maradona (Calle Gavilán, puerta 11), do time Argentinos Juniors, primeiro clube em que ele jogou profissionalmente. Localizado em La Paternal, o estádio contava com um mural de Maradona em sua fachada, além de vários collages e stencils celebrando o craque que transformou a história do clube.

Naquela noite, o mural virou ponto de concentração de torcedores dos mais diferentes times que não paravam de chegar para, coletivamente, chorar e cantar. De um a um, eles se aproximavam da imagem do ex-jogador, rezavam, depositavam flores, cartas, bolas, desenhos feitos por crianças e acendiam velas.

O local virou um centro de adoração a céu aberto. Para preservar as homenagens da chuva, o clube decidiu armar uma estrutura para resguardar os objetos deixados para o ídolo argentino. Meses depois, criaram um santuário em formato de capela (Avenida Boyacá 2156), sob as arquibancadas do estádio. A entrada é aberta ao público e o acervo de objetos aumenta frequentemente, com homenagens deixadas pelos adoradores do astro do futebol. Antes da visita, é importante checar os horários de funcionamento do local.

O que mais chama atenção do visitante é a sequência de murais (entre Avenida Boyacá e Calle Juan Agustín García) com diferentes fases da trajetória do "deus" do futebol argentino. Lado a lado em cores vivas, os retratos realistas e cheios de detalhes, pintados na fachada do Estádio Diego Armando Maradona pelo artista Victor Marley, são parada obrigatória para quem quer conferir a arte maradoniana que transformou as ruas portenhas após a morte do craque.

Lá estão o ex-jogador quando criança, ainda no time infantil Cebollitas, passando pela juventude ao lado dos pais e no início da carreira profissional, com as diferentes camisas 10 da seleção argentina, e com as do Barcelona, da Espanha, e do Napoli, da Itália, onde jogou. Também aparecem a tão alardeada "mão de deus" — famoso gol com a mão que permitiu que a Argentina eliminasse os ingleses nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986 —, um caloroso abraço em campo com o ex-jogador Claudio Caniggia e Maradona já como técnico da seleção.

A espécie de via crucis maradoniana — como definiu o jornal argentino La Nación —, que já ocupa duas das quatro fachadas do estádio, inclui Maradona no céu, e conta com espaços para continuar a ser pintada.

Ainda no estádio do Argentinos Juniors, onde o Museu El templo del Fútbol (Calle Gavilán, puerta 11), criado graças à doação de torcedores do clube, mostra alguns artigos relacionados com a história do craque e sua notória passagem pelo clube. Segundo Gonzalo Mallón, diretor do museu:

Muita gente de fora, que não conhece direito a história dele, acha que Maradona saiu do Boca Juniors. Mas ele jogou aqui no Argentinos Juniors de 1976 a 1981 na primeira divisão, é o máximo jogador do clube, com 116 gols em 166 partidas. Foi o clube onde ele mais jogou e mais gols fez, e sempre ele dizia que sua melhor versão foi a do Argentinos Juniors"

A entrada inclui não somente acesso ao museu, mas também aos vestiários e ao estádio — quando não é dia de jogo —, onde o visitante pode ver um "10" pintado na arquibancada, e que cada banco de reserva conta com uma menção ao eterno camisa 10 da Argentina.

Casa de D10s

Quem quer conhecer o lado mais pessoal de Maradona, também pode visitar a Casa de D10s (Calle Lascano, 2257) — uma brincadeira entre a palavra "dios" e o número com que ele jogava na seleção —, a cerca de quatro quarteirões do estádio, na casa em que ele morou com a família quando começou a jogar no Argentinos Juniors.

No local — usado para a gravação de alguns episódios da série de "Maradona: a conquista de um sonho", que estreou em outubro na Amazon Prime — é possível entrar nos cômodos e ver réplicas dos objetos pessoais da família, além de encontrar recortes de jornais da época e entender melhor a história do craque com a visita guiada. Como os grupos recebidos por hora são pequenos, é importante agendar a ida com antecedência.

Considerada "a terra de deus", La Paternal também conta com homenagens que já existiam antes da morte de Maradona. Em uma das esquinas opostas ao estádio, por exemplo, é possível ver murais mais antigos, e, na intercessão entre as ruas Álvarez Jonte y Gavilán, a 100 metros do estádio, há outros, além de uma estátua dourada do craque jogando bola (Calle Linneo, 2192), inaugurada em 2018.

Algumas quadras mais longe, já no bairro de Villa Mitre, admiradores aumentaram as homenagens com tributos ao ex-jogador. Lá, ao lado da funerária onde o corpo dele foi preparado, há um mural do camisa 10 em ação, com os dizeres "Diego Eterno"(Calle Tres Arroyos, na altura do número 1500).

Na esquina, a placa com os nomes das ruas ganhou adesivos que homenageiam o astro argentino, e na quadra oposta à funerária há um mural do ex-jogador com uma bola sobre a cabeça, e diversas mensagens de despedida e saudades escritas por admiradores.

O mosaico na fachada do bar Yo te vi en la B (Calle Dr. del Valle Iberlucea, 984), em La Boca, faz parte do projeto "Comando Maradona", uma iniciativa do grupo artístico Mosaico Nacional. Todo mês, os artistas inauguram um novo mural dedicado ao craque em diferentes pontos de Buenos Aires e região — sempre no dia 25, aniversário da morte do jogador.

"Maradona é um sentimento nacional, é preciso homenageá-lo e aplaudi-lo", afirma Gonzalo López Lluch, um dos quatro artistas responsáveis pelo projeto.

Para muitos, Maradona foi um 'refúgio' diante de dificuldades, e proporcionou para os argentinos a alegria máxima de trazer uma Copa do Mundo e representar com garra as cores da bandeira argentina"

"Maradona foi uma das páginas mais importantes da história da cultura nacional do século XX", completa.

Um dos mosaicos feitos pelo grupo está em uma esquina em frente ao Estádio Diego Armando Maradona, no cruzamento das ruas Gavilán e Agustín García. Também há obras em outros pontos de La Boca, no estádio Gimnasia y Esgrima La Plata, última equipe da qual Maradona foi treinador; no estádio do Racing Club, no município de Avellaneda; e em outros pontos da capital e da região metropolitana de Buenos Aires.

Passeio completo

Outras manifestações de devoção ao mito do futebol argentino

Amanda Cotrim/UOL

Placas e adesivos

Na esquina da rua Habana com a Avenida Segurola, no bairro Villa Devoto, onde ele morou, os moradores colaram adesivos trocando os nomes das ruas para Diego e Maradona. O mesmo aconteceu na rua da funerária que preparou o corpo e perto do estádio do Argentinos Juniors.

Reprodução/Facebook

Nas "afueras" da cidade

Em Bella Vista, onde Maradona foi enterrado, também há murais dedicados ao craque. Apesar de ser proibida a visita ao cemitério, as obras pintadas pela cidade têm atraído visitantes para o município, localizado a cerca de 40 minutos do centro de Buenos Aires.

Amanda Cotrim/UOL

Para levar para casa

Desde o falecimento de Maradona, o turista que for a Buenos Aires também pode encontrar uma diversidade maior de suvenires com a imagem do jogador. Um destino certo para fazer compras de de chaveiros, bibelôs e camisetas são as lojinhas no Caminito.

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