Topo

Bronca por sexo em voo e cocô fora do vaso: ex-comissária lembra perrengues

Em cinco anos como comissária, Ana Carolina Teixeira viveu perrengues Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Nossa

14/01/2021 04h00

Com 53 países no passaporte ao longo dos cinco anos como comissária de bordo, Ana Carolina Teixeira, de 29 anos, pode dizer que conheceu bem o "lado B" da rotina que muitos queriam ter.

Mesmo viajando o tempo todo, estar dentro de um avião muitas horas por dia não tem nada de glamoroso. Muito pelo contrário, como revelam algumas de suas memórias em entrevista a Nossa.

Logo no primeiro ano de comissária, durante um voo, um passageiro não parava de pedir uísque, mesmo sendo advertido por sua esposa. Eram pedidos e mais pedidos, até que, na última dose, a mulher bateu na mão dele e jogou o copo longe.

"Tive que intervir porque o cara foi para cima dela, querendo agredi-la, mesmo ela estando com o filho no colo. Eu só gritava e falava que ele não ia bater nela. Foi uma confusão só", relembra.

Bebida em voo é um dos perrengues citados por Ana Imagem: Getty Images/iStockphoto

Outra situação recorrente eram algumas pessoas que não sabiam usar o banheiro do avião e faziam cocô fora do vaso sanitário.

"Às vezes voávamos para regiões bem pobres e eles não tinham saneamento básico e nem sabiam como usar. Perdi as contas de quantas vezes me deparei com isso. Nós, comissárias, não precisávamos limpar, mas era bem constrangedor e triste", conta.

E as cenas estranhas não param por aí. Em um voo vazio, uma outra passageira avisou que um casal estava tendo relação sexual no banco.

"Uma senhorinha bem velhinha chegou em mim e foi reclamar. Naquela hora tivemos que contornar e pedir para que eles parassem. Quando são casos mais graves, temos que acionar a tripulação", afirma.

Ela também já teve que servir um drinque de vodca, leite e suco de laranja a um passageiro. "Quando ele me pediu, pensei que estava brincando, mas era verdade. Dei uma risadinha e fiz o 'super' drinque dele."

Comissárias precisam ter um bom emocional para trabalhar, segundo ex-comissária Imagem: Getty Images

Estresse motivou saída

"Você precisa ter um emocional muito bom, porque depois de alguns anos, só piora. Você fica muito perdido e pode até ter depressão", conta Ana, que relembra a cena mais triste que presenciou a bordo.

Em uma das viagens, ela se deparou com um senhor que estava chorando muito na classe executiva e se mostrou muito abatido. Diante disso, a ex-comissária de bordo resolveu escrever um bilhete com palavras de conforto e deixou no assento dele, quando o passageiro foi ao banheiro.

Ao retornar, ele a procurou e disse que naquele mesmo voo estava transportando o corpo de seu filho — mesmo em voos domésticos, pode ocorrer o transporte de caixões no bagageiro.

Aquela cena me comoveu muito e aquele homem estava muito desesperado. Fiquei muito sensível também", conta.

Ana de crises de choro e não sente falta da profissão Imagem: Arquivo pessoal

Depois de quase quatro anos, diante de situações tristes e uma rotina cada vez mais estressante, Ana Carolina chegou no limite. Durante um voo para Manchester, na Inglaterra, ela teve uma crise de choro. Foi ali que ela pensou que talvez seria a hora de parar.

"Os voos na classe executiva são bem complicados. Tem muita bebida, muito homem fazendo gracinha, desrespeitando seu trabalho. Além disso, a saudade também já estava batendo forte", relembra.

Maternidade e saudade

Na época, ela procurou sua gerente para pedir um afastamento e ficou sem voar por dois meses. Durante esse período, ela teve acompanhamento médico e apresentou melhora. A "aposentadoria" demorou cerca de um ano e só veio com a chegada da sua filha.

Antes de a menina nascer, ela optou por parar de voar e desistiu da Emirates.

Eu tinha opção de ficar em solo ou retornar para o Brasil durante a minha licença maternidade. Eu voltei e achei que era a melhor opção."

Como virar uma comissária

Processo seletivo para comissária é longo e pode ser bastante difícil Imagem: Getty Images

Aos 18 anos, Ana fez o curso de comissária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), mas ao prestar para uma vaga específica, não passou e desistiu da carreira. Depois de três anos, participou da seleção da Emirates, com perguntas, testes e dinâmicas.

Além de inglês fluente, a candidata precisa ter 21 anos completos e, pelo menos, 212 centímetros com o braço esticado para alcançar o bagageiro. "São aviões muito altos e por isso eles fazem essa exigência. Nem que você fique na ponta do pé, tem que atingir esse número", conta.

Outra imposição é ter o cabelo com o tom mais natural possível, sem luzes ou cores fortes. Fora as exigências relacionadas à aparência, as candidatas são submetidas a provas que simulam situações estressantes, como se estivessem em um voo.

Depois do longo processo de seleção, ela foi admitida na companhia aérea e embarcou para Dubai. Ao chegar lá, toda comissária de bordo recebe um chip de celular, apartamento, tem as contas pagas e vários benefícios.

A companhia aérea ainda oferece um treinamento próprio e a funcionária fica em um período de experiência que dura de três a seis meses.

Muita gente não aguenta nem essa fase. Porque é puxado, cansativo. Você tem 400 pessoas para servir em um voo cheio e normal. São muitos detalhes, além da pressão."

"Não sinto saudade da vida de comissária"

Embora Ana Carolina reforce que a profissão seja muito difícil e cansativa, ela não desencoraja quem deseja ser comissária de bordo. "Cresci muito e serviu de aprendizado. Cada experiência foi única. Mas parei na hora certa e não sinto nenhuma saudade daquela vida."

O primeiro e último voo de Ana Carolina foi para Moscou, na Rússia Imagem: Arquivo pessoal
Paris: um dos destinos em que ela mais visitou. Foram mais de 12 vezes na cidade Imagem: Arquivo pessoal

Ana ainda dá três conselhos fundamentais para quem quer tentar trabalhar na companhia aérea: invista muito no inglês e busque a fluência, seja você mesmo na entrevista e não crie respostas mirabolantes ou muito difíceis e, ao passar no processo seletivo, tenha plano B e guarde muito dinheiro.

"Como não existe uma regra ou idade para se aposentar, muitos comissários ficam sem saber o que fazer depois e não têm uma reserva. É muito comum entrarem em depressão ou se sentirem perdidos. Planeje e veja quanto tempo vai querer trabalhar naquilo."

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Bronca por sexo em voo e cocô fora do vaso: ex-comissária lembra perrengues - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade