Brasil é 'criativo', e EUA são 'nojentos', diz especialista em chocolate
Armando Pereira Filho
Do UOL, em Ilhéus (BA)
18/07/2013 18h13
Embora todos os povos precisem ser educados para apreciar um bom chocolate (mais amargo, menos açucarado), os brasileiros até que se saem bem, porque "são criativos e gostam de experimentar coisas novas". Mas os americanos são "nojentos, compram qualquer coisa".
E a avaliação é de um americano: o jornalista, escritor e professor de jornalismo Mort Rosenblum, 70, que se especializou em chocolate depois que um editor pediu que fizesse uma reportagem sobre o assunto. "Eu não sabia nada e fui pesquisar."
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O resultado é que, entre seus 12 livros, há um só sobre o tema, que já ficou famoso entre profissionais e curiosos: "Chocolate: uma Saga Agridoce Preta e Branca" (editora Rocco), premiado em 2006 com o Cook Book, da Associação Internacional de Profissionais da Culinária.
Ex-editor do "International Herald Tribune", ex-correspondente e ex-chefe das sucursais da agência de notícias Associated Press na África, no Sudeste da Ásia, na Argentina e na França, ele veio ao Brasil para participar do 5º Festival Internacional de Chocolate e Cacau realizado em Ilhéus (BA), no começo deste mês.
Rosenblum diz que é difícil para o chocolate brasileiro ganhar espaço no mercado mundial, porque há muita disputa de marketing.
Também fala que o cacau brasileiro (matéria-prima do chocolate) poderia ser melhor se não fosse produzido como monocultura (sem a presença de outras espécies, para estimular a biodiversidade) e avalia que o efeito da doença vassoura-de-bruxa ainda é sentido e afeta a qualidade dos frutos.
Veja a seguir trechos da entrevista de Rosenblum ao UOL:
UOL - Como o chocolate brasileiro é visto no exterior
Mort Rosenblum - Não é exatamente como um chocolate feito na Bélgica. A fabricação de chocolate sempre tem uma conexão muito forte com a sociedade, seus gostos, seu estilo.
É muito difícil vender em outros mercados, ser notado em outros mercados, porque há tanto marketing e outras coisas que influenciam.
E o cacau brasileiro?
É bom. Eu experimentei aqui coisas muito boas. Não há razões para não ser o melhor, o Brasil tem um bom solo, um bom clima. O cacau brasileiro já foi muito bom antes [dos anos 80, quando as plantações da Bahia foram dizimadas pela doença vassoura-de-bruxa]. O problema foi a monocultura.
O cacau precisa de biodiversidade. O Brasil poderia fazer um cacau melhor. Não sou agrônomo, mas os técnicos dizem que o melhor cacau vem das plantações com diversidade, e não da monocultura.
Há técnicas de produção no exterior que poderiam ser importadas para melhorar o chocolate brasileiro?
À medida em que há mais procura por bons produtos, os fabricantes de equipamentos vão saber como fazer melhor. O jeito antigo de fazer a massa do chocolate é o melhor: bem devagar, sem perturbar as moléculas do cacau. Para lucrar mais e aumentar a produção, eles aceleraram o processo.
Mas, do jeito que as coisas na indústria vão, os fabricantes devem conseguir equipamentos que produzem mais rapidamente com boa qualidade. Não sou especialista em máquinas, mas é assim que vejo a produção caminhar.
O que o sr. acha do chocolate fino do Brasil em comparação com outros do exterior?
Não sei. O que aconteceu com os pés de cacau foi terrível [por causa da vassoura-de-bruxa]. Ainda agora, alguns frutos do cacau têm as amêndoas [sementes] quase pretas, por causa dos fungos [a cor natural da polpa que envolve as amêndoas saudáveis é branca].
O brasileiro precisa ter o sabor educado para apreciar chocolates menos doces?
Todos os povos precisam. Os americanos são os piores. Eles compram qualquer coisa, meu Deus! Chocolate com pimenta, qualquer coisa. É nojento.
Não vinha ao Brasil havia muito tempo, mas conheço vários brasileiros. Eles têm uma cultura em que é difícil enganá-los. Os brasileiros gostam de sabores fortes. Isto é Brasil, é realmente interessante, as pessoas são criativas, gostam de experimentar coisas novas.
(O jornalista Armando Pereira Filho viajou a convite da MVU Eventos, organizadora do 5º Festival Internacional de Chocolate e Cacau de Ilhéus)