Pedro Scooby veio ao mundo em 10 de agosto de 1988 e cresceu em Curicica, na Zona Oeste do Rio. Foi o pai dele quem o ensinou a surfar logo aos cinco anos de idade. Na adolescência, Pedro virou Scooby, apelido dado por amigos por causa da semelhança física e da maneira de falar com o Scooby-Doo dos desenhos. Antes, ele era o Pedro Mota.

"A gente se conheceu no Santo Agostinho na Barra da Tijuca. Estudamos lá com 10, 11, 12 anos. Era um moleque engraçado. A gente andava de skate, muito palhaço. Era o Pedro Mota, não era Scooby ainda. No colégio, tinha muito Pedro, e sempre chamava pelo sobrenome. A gente chamava de Mota. Ele já estava começando a surfar e evoluiu muito rápido e se deu bem nas competições muito cedo", explicou Eric de Souza, surfista e amigo de infância.

O Scooby que você conheceu começou a se formar aos 15 anos: " Meu pai foi preso, depois sumiu e abandonou a gente. Seguimos a vida eu, minha mãe e meu irmão. Nessa época, eu virei o homem da casa. Parei de dar um pouco de atenção para as competições e comecei a ficar muito em casa", disse o surfista ao podcast Podpah, em 2021.

"Tudo isso é uma parada que hoje em dia me faz viver muito alegre. Qualquer coisa que me leva um pouco para baixo, eu olho para trás e falo: 'conquistei tudo isso, estou aqui, só sorrisos'. Quem convive comigo sabe que não tem tempo ruim para tristeza."

A realidade poderia ser outra. O pai e o irmão mais novo de Scooby, João Vianna, já foram presos. "Do jeito que eu fui criado, as situações que eu passei na minha vida, quando meu pai foi embora e tudo mais, cara, o surfe salvou a minha vida. Não só de salvar, de não saber o que fazer, não. Eu vivia dentro de um ambiente marginalizado, de crime, de muita coisa. Muitos amigos meus morreram, de repente eu poderia estar no mesmo caminho deles", afirmou no BBB.

No mar, Scooby passou sufocos. Em 2017, sofreu uma "vaca" (gíria no surfe quando um surfista cai da onda) e acabou com um corte profundo na cabeça. Foram 20 pontos para fechar o ferimento.

O acidente mais assustador aconteceu em novembro de 2019. Scooby foi engolido por uma onda: "Pense em uma meia dentro da máquina de lavar, girando, girando, se perdendo numa imensidão de água, espuma e movimento. Foi assim que eu me senti naquela manhã".

Em mais de um minuto embaixo d'água, Scooby levou três ondas na cabeça antes de retornar à superfície e conseguiu ser resgatado pelo jet-ski de um amigo que fazia a segurança. Quando foi salvo, já estava perdendo a consciência.

O surfista sofreu um bloqueio, refletiu sobre a experiência de quase morte e voltou a surfar. Quatro dias depois, pegou aquela que chamou de "onda da vida".

Veja o acidente e o resgaste de Scooby em 2019:

Scooby é um dos grandes nomes do big surfe mundial e tem quem ache que ele poderia ser ainda melhor. "Ele não é um cara que se prepara tanto, que se dedica tanto para surfar as ondas que ele surfa. Mas, quando vai lá, vai e faz muito bem feito", avaliou o amigo Bruno Santos.

Carlos Burle concorda: "Ele não tem aquele comprometimento todo como atleta, mas é talentoso, já veio para a vida com o biotipo, saúde física, mental, talento... Tenho um carinho muito grande por ele, por tudo que vivemos juntos. É uma admiração por um cara talentoso. A gente sempre brinca: 'Pô, se você treinasse mais, ia dar trabalho [risos]'."

Scooby reconhece o jeitão preguiçoso de ser, mas tem uma justificativa. "A galera fica treinando a temporada toda, trabalhando o preparo físico. Eu não sou esse cara. Mas eu tenho duas coisas: uma é algo que Deus me deu, que é o talento, e eu soube aproveitar. A outra é o psicológico muito bom. Então, consigo unir essas duas coisas e canalizar a energia para quando é necessário. Pessoas que acompanham me perguntam: 'Por que você não estava treinando?' Porque eu não quero. Prefiro ficar em casa", explicou em entrevista ao GE.