Dona da pista

Destaque no projeto Band na F1, Mariana Becker celebra reencontro com Reginaldo Leme e legado de coberturas

Gabriel Vaquer Colaboração para o UOL, em Aracaju (SE) Júlia Rodrigues/UOL

Pode até ser estranho para o brasileiro fã de Fórmula 1 passar a acompanhar a categoria pela Band a partir desse ano. No entanto, quem assistiu à corrida do Bahrein ontem, a primeira da temporada 2021, viu rostos tradicionais das transmissões de domingo, que ajudam na histórica transição para fora da Globo. Um desses rostos é o de Mariana Becker, referência na cobertura de automobilismo no país.

Mariana foi para a Band junto com a F1, atendendo a um clamor de redes sociais após sua saída da Globo, onde trabalhou por 25 anos. Na casa nova, reeditará a parceria com o comentarista Reginaldo Leme, um antigo companheiro de cervejas em circuitos e papos sobre corridas —um deles, quem foi melhor, Senna ou Hamilton?

Em entrevista ao UOL, Mariana revisitou seu legado nas coberturas da categoria, relembrando façanhas e gafes inusitadas nos circuitos pelo mundo. Em tempos sem pilotos brasileiros na categoria, o país seguirá representado pelo menos nas transmissões. Além da repórter e de Reginaldo, outro ex-Globo comandará a narração: Sérgio Maurício. Acostumada a entrevistar pilotos milionários e dirigentes poderosos de montadoras, Mariana Becker agora é quem responde. Acompanhe abaixo.

Júlia Rodrigues/UOL
Júlia Rorigues/UOL

Band trouxe um pacote: F1 + Mariana Becker

Desde 2007 cobrindo especialmente a Fórmula 1 na Globo, Mariana Becker viveu uma montanha russa de emoções sobre seu futuro profissional em 2020. As indefinições da categoria na TV brasileira mexeram também com a sua vida pessoal. Mariana queria continuar vivendo pela categoria onde quer que ela fosse exibida. O problema é que a confirmação de que a Globo tinha desistido da categoria sofreu um vai e volta que se estendeu de outubro a fevereiro deste ano.

"Primeiro, teve um fim de contrato entre Globo e Fórmula 1. Esse fim a gente mais ou menos sabia. Foi em outubro. Eu sabia que não poderiam me manter aqui fora como repórter sem a Fórmula 1. Enfim, estava meio sem saber como seria minha vida", explicou.

"Mas depois as negociações voltaram. Montanha-russa o tempo inteiro. Vai e volta. Vai ter, não vai ter. E é isso, é aquilo. E eu ali, de orelha em pé, pensando em outras coisas. Com um pé lá e outro cá".

Dias depois que a Globo confirmou saída e o contrato entre Band e Liberty Media foi fechado, Mariana Becker estava confirmada na cobertura da Band. "Quando a começou a ser negociada com a Bandeirantes, fiquei com as duas orelhas, não só com uma, de pé. Rolou o convite. Foi uma coisa bem natural. A Fórmula 1 e eu junto", concluiu.

"Fiquei muito pouco tempo sem saber o que iria fazer"

Júlia Rorigues/UOL

"Me senti mais importante do que acho que sou"

O que mais impactou a jornalista foi o apoio dos fãs ao seu trabalho nas redes sociais. Assim que foi confirmada a sua saída da Globo, em que trabalhou de 1995 até o fim de 2020, surgiu uma campanha para que ela fosse a repórter da Band para a primeira temporada na categoria. Para quem, apesar da experiência grande com jornalismo, ainda está engatinhando nas redes sociais, ver aquele amor foi emocionante.

Eu fiquei super impressionada. Impressionada e tocada. Esse mundo virtual afetivo, vamos dizer assim, é um pouco novo pra mim. Instagram é uma coisa que comecei usar há dois anos porque tinha vontade de dividir mais coisas que eu estava vendo e queria que as pessoas vissem. E usei aquele canal."

Mariana Becker

Aos poucos comecei essa troca. Quando teve esse movimento, fiquei muito surpresa. As pessoas me escreveram textos grandes antes de saber que eu tinha ido pra Band. Me senti mais importante do que acho que sou. Fiquei muito contente. Me senti abraçada, sabe? Tem gente comigo aqui nessa estrada. Não estou sozinha".

Mariana Becker

Reprodução

Primeira corrida foi "reveillon"

Eu achei uma supercorrida, não poderia ter sido uma corrida melhor para começar. Ou melhor, poderia né? Se o Verstappen tivesse vencido... Não por torcer por ele, mas para dar uma mexida no caldeirão. Ele já mostrou que tá muito competitivo, mais que o ano passado, e isso para mim é um grande tempero para começar o ano. Alguém falou no Twitter 'feliz ano novo', como se o ano estivesse começando para nós. E foi isso mesmo. Essa corrida foi o Réveillon."

Mariana Becker, sobre o GP do Bahrein, que marcou a estreia da F1 na Band

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"Quando soube que o Reginaldo sairia da Globo, o olho encheu de lágrimas"

Júlia Rorigues/UOL

O 'casamento' profissional com a F1

Quando Mariana foi designada para cobrir a Fórmula 1 em 2007, já era um nome grande na Globo. Tinha sido repórter com destaque, apresentado programas importantes. Na F1, ela substituiu João Pedro Paes Leme, que virou um executivo importante na Globo. Quando foi para a Europa, Mariana conheceu mais de perto Jayme Brito.

O jornalista era produtor-executivo das transmissões da Fórmula 1 há tempos. Com a proximidade, um amor, que perdura até hoje, nasceu. Mariana é casada com Jayme desde 2009 e ambos seguem na cobertura da F1 na Band —Jayme, inclusive, foi o principal responsável por negociar os direitos de transmissão da categoria no Brasil em 2020. O curioso dessa história é que Mariana prometeu que jamais se relacionaria com alguém do trabalho.

"É engraçado, quando a gente começou a trabalhar juntos, deu uma sintonia de trabalho automática. A gente já saiu dando furos. Quando fui trabalhar com isso, com Fórmula 1, eu não era foca, eu não era principiante. Eu apresentei o 'Bom Dia Brasil', 'Globo Esporte', 'Esporte Espetacular'. A respeito de repórter, de fronte, já sabia, já tinha feito bastante coisa boa. Mas a Fórmula 1 era totalmente nova. E eu tinha por princípio que nunca ia ter nada com ninguém que eu trabalhasse. Era uma frase que eu repetia pra mim mesma e pra quem quisesse ouvir, né? Gente de trabalho... E aí demorou dois anos, não sei, começou a despertar um outro lado, e a gente começou a trabalhar junto, namorar, enfim. E hoje a gente divide o lado profissional e a casa juntos. Não é uma coisa fácil, meu velho. Mas é bom", brincou.

Arquivo Pessoal/Instagram @gpetecof
Gianluca Petecof, quando foi campeão da F3 regional

Quem são os brasileiros que podem chegar na F1?

A Fórmula 1 não tem um piloto brasileiro em seu grid desde 2017, quando Felipe Massa decidiu sair da categoria definitivamente. Em 2020, Pietro Fittipaldi, chegou a correr algumas vezes pela Haas, mas continua como piloto de testes. Para um país que sempre teve pilotos de destaque, como Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Rubens Barrichello e o próprio Massa, a falta de um nome nacional pesa. Mariana acredita que o cenário possa mudar com a nova safra de pilotos que surgem nesse momento.

"Eu acho que tem esses três guris. O Gianluca Petecof, que vem bem. O Felipe Drugovich, que acho que é o primeiro na fila, pelo que a gente viu de desempenho ano passado na Fórmula 2, e o Caio Collet, que vem mais atrás, mas é um grande talento. Quem me falava muito do Collet era o Felipe Massa. E o Felipe Massa fala do Caio Collet da mesma forma que ele falava do Charles Leclerc. Porque o Felipe era muito amigo do Jules Bianchi, que morreu, que era padrinho do Leclerc. Volta e meia perguntava: 'Felipe, quem tá vindo aí?': Ele dizia: 'Fica de olho nesse guri, aí'", conta Mariana.

"Muitas vezes, a gente vê uns guris bons nas categorias de base e quando chegam na Fórmula 1 murcham. Por vários motivos. Ou por muita pressão, porque tão sem grana, na equipe errada. Mas ele dizia: 'esse é fera'. Então, o Caio Collet talvez demore um pouquinho mais, mas é um guri que fico de olho. O Gianluca Petecof e o Felipe Drugovich estão na Fórmula 2, mas tem chance a médio-prazo. A única possibilidade de curto-prazo e que se concretiza hoje é o Pietro Fitippaldi, que fica na reserva da Haas. E porque digo que a curto-prazo é possível? Porque a gente viu no ano passado que ele correu duas. Tudo bem, aconteceu um acidente com o Grosjean. Não tô jogando urucubaca nem querendo prever o futuro. Mas sei que tem um piloto brasileiro pronto pra entrar."

Se a gente tivesse um piloto brasileiro na categoria, brigando por bons resultados, traria mais audiência. Mas a audiência se manteve muito alta depois que o Felipe Massa saiu. A gente esperava que tivesse uma queda vertiginosa e não aconteceu. A Netflix ajudou a popularizar o esporte, a mostrar que existem dramas em volta daquilo ali que você tá vendo. E a gente tá tentando fazer um trabalho que mantivesse o interesse das pessoas."

Mariana Becker

Mariana e a calça rasgada na perseguição a Neymar

Reprodução/Instagram

Senna > Hamilton

Mesmo observando a história diante de seus olhos com os títulos de Lewis Hamilton, Mariana Becker não hesita quando perguntada qual é o maior piloto de todos os tempos. A resposta é óbvia para a grande maioria dos brasileiros que gostam da categoria:

"Acho que é o Ayrton Senna. Pode ser chover no molhado, mas... Não vi o Ayrton correr sempre. Esses dias estava conversando com o Reginaldo Leme e pra ele é o Lewis Hamilton. Mas pra mim é o Ayrton. Ele tinha um troço de um talento quase indescritível. Lampejos de gênio, capacidade de focar e de trabalho que se diferente de qualquer outro que tenha visto. E claro, pela história, o Fangio. Eu botaria os três: Ayrton, Fangio e o Hamilton, na decrescente", contou.

Mas e o Hamilton, Mariana? Ganha de novo?

"Acho que sim. Não gostaria de dizer isso. Coitado, parece que tô torcendo contra. (risos) Acho ele incrível, mas eu quero ver a disputa. A gente tem pistas aí que vão oferecer isso".

Hamilton é parça?

Um dos momentos mais inusitados do primeiro fim de semana de corrida foi uma conversa pré-entrevista entre Hamilton e Mariana que mostrou uma intimidade grande entre os dois. O heptacampeão pergunta como está a situação do Brasil e sobre férias nos Lençóis Maranhenses. "Como eu já estou há muito tempo lá [cobrindo a F1] e há muito tempo que eu o entrevisto, temos uma boa relação. Não somos íntimos, amigos, mas tempos uma relação bem boa. E com o passar do tempo, o Hamilton tem ficado mais aberto. Eu acho que foi isso que transpareceu na entrevista de ontem que foi o ar hoje".

Júlia Rorigues/UOL Júlia Rorigues/UOL

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