Com fome de (mais) títulos

Capitão na conquista da Libertadores, Gustavo Gómez vê Palmeiras com desejo ainda maior por taças

Thiago Ferri Do UOL, em São Paulo Cesar Greco

Há menos de uma semana, Gustavo Gómez levantava a taça da Libertadores. Mas nem bem acabaram as comemorações pelo bicampeonato, o capitão do Palmeiras já quer mais. O paraguaio e o Verdão miram mais conquistas ainda nesta temporada. O "culpado"? Abel Ferreira. O zagueiro diz que o discurso do técnico português serve de motivação mesmo depois de um feito tão grande quanto o obtido no sábado passado (30), contra o Santos, no Maracanã.

Ficamos na história, estamos comemorando, mas com mais fome de conquistas. Queremos mais, o professor chegou com esta mentalidade. De fazer um time ganhador, agora vamos pelo prêmio maior, que é o Mundial, um sonho nosso. É difícil, mas não impossível. Queremos fazer ainda mais história".

Após o título da Libertadores, segundo o zagueiro, o treinador conversou com os jogadores e chamou a atenção justamente para a sequência de decisões que o Palmeiras ainda tem pela frente. No domingo (7), o time estreia no Mundial e pode manter a escrita de chegar a todas as finais dos campeonatos que disputou na temporada — tem sido assim desde o Paulista. Além do Interclubes, o Palmeiras vai disputar a final da Copa do Brasil e a Recopa Sul-Americana nas próximas semanas.

"Temos muito a conquistar. Está perto, mas o importante do professor Abel foi isso. Ele chegou aqui e mentalizou o elenco para jogar cada jogo e ganhar. Por mais que tenhamos conquistado a Libertadores, nosso elenco está com mais fome de glórias e títulos", reforçou.

Cesar Greco

Assista à entrevista

Já se sente ídolo?

Gómez chegou ao Palmeiras em 2018, depois de duas temporadas no Milan (ITA) - a segunda delas quase sem entrar em campo —- e, de imediato, tornou-se um dos principais jogadores do elenco. Com 110 partidas pelo Verdão, o camisa 15 já tem três títulos pelo clube: o Brasileiro daquele ano, o Paulista e agora a Libertadores na temporada atual.

Líder no vestiário e querido pela torcida, ele já é cotado como ídolo do clube, especialmente depois a conquista do último fim de semana. Modestamente, o zagueiro desconversa sobre a sua própria importância na história alviverde.

"Eu sou muito grato pelas mensagens após os jogos que recebo em redes sociais, na rua, supermercado, que vou sempre com a minha esposa. Mas depois, o tempo vai falar. Sou muito grato. Não posso falar se sou ídolo ou não, mas sinto o carinho da torcida e vou para casa muito tranquilo. Deixo sempre meu melhor e é muito legal. Sou muito grato de receber o carinho da torcida, as pessoas que falam que gostam do meu trabalho. Fico à vontade e feliz pelo carinho que recebo. Não tem preço", agradeceu.

Silvia Izquierdo/Getty Images Silvia Izquierdo/Getty Images

"Era difícil tirar das nossas mãos este sonho"

As críticas em relação ao nível do futebol apresentado por Palmeiras e Santos na final da Libertadores tiveram pouquíssima repercussão pelo lado campeão. A vitória por 1 a 0, com gol de Breno Lopes já aos 53 do segundo tempo, começou a ser construída pela ideia de que o time não poderia ser vazado.

A tarefa não é das mais complexas quando se tem Luan e Gustavo Gómez na zaga. A dupla atuou em 59 partidas pelo Verdão e sofreu apenas 28 gols. Em 2019, o Palmeiras chegou a ficar 1081 minutos consecutivos sem ser vazado — a segunda maior marca da história do clube, atrás apenas da dupla Marcio e Vágner Bacharel, que em 1987 atingiu a marca de 1148 minutos.

"Como em todo jogo, falamos na defesa, com o Luan, Marcos [Rocha], Weverton e Matías [Viña], de tratar de não tomar gol. O primeiro passo é esse, para ter mais chances de ganhar. Graças a Deus deu certo. O Breno fez o gol no momento [certo] e é muito legal. Um sonho. Agora estamos acreditando que ganhamos. O Palmeiras merecia conquistar a Libertadores".

É muito importante ganhar a Libertadores depois de 20 anos. Era um jogo para entrar na história grande do clube. Entramos pensando nisso. Era muito difícil tirar das nossas mãos este sonho. Estávamos muito focados. Por isso, se não fizéssemos gols, não iríamos tomar, também. Foi esta a mentalidade. Mas o Breno fez o gol no último minuto e pudemos comemorar com muita alegria".

Gustavo Gómez

Reprodução/Instagram

Festa no supermercado

Depois da festa no Maracanã, a delegação do Palmeiras foi direto para a Academia de Futebol para seguir comemorando até o início da manhã de domingo. O zagueiro Gustavo Gómez, por sua vez, fez um programa pouco usual no dia seguinte ao título: foi ao supermercado com sua esposa, Jazmín Torres (foto).

Ainda que não tenha sido reconhecido, o zagueiro ficou feliz por ver a comemoração dos palmeirenses que estavam no local.

"Eu estava de máscara e boné no supermercado. Mas era muito legal, todo mundo com a camisa do Palmeiras, muito bom. Ninguém me reconheceu, mas desfrutei o momento. Eu moro aqui perto do Palmeiras, no bairro de Perdizes [zona oeste de São Paulo], e foi muito bom ver as pessoas comemorando com a camisa do Palmeiras. A felicidade das pessoas, dos meus companheiros, com quem trabalho, não tem preço", vibrou.

Conta turbinada

Afetada pela parada dos jogos durante a pandemia do coronavírus, a diretoria palmeirense cortou 25% dos salários em carteira dos jogadores. Foi a saída encontrada para não demitir os funcionários do clube com vencimentos mais modestos.

O acordo incluía um adendo: se a equipe chegasse em uma final e uma semi na Libertadores e na Copa do Brasil, o valor seria restituído. O time chegou às duas decisões, foi campeão da primeira e começa a disputar o título da competição nacional contra o Grêmio em 28 de fevereiro. Antes de enfrentar o Santos, os jogadores já tinham recebido o equivalente aos 25% do salário cortado entre maio e julho.

"A diretoria do Palmeiras teve um comportamento muito bom, dialogando sempre. Entendemos a situação na pandemia, aceitamos tudo, e veio a proposta para retribuir com o esforço. Eles fizeram a parte deles e nós fizemos a nossa. É um grupo de pessoas querendo o melhor para o Palmeiras, e o fruto está aí, com a conquista do Paulista, da Libertadores, final da Copa do Brasil, Mundial, Recopa. O momento é muito bom no Palmeiras, e é bom estarmos todos juntos. Caminhar juntos é o melhor que pode acontecer", explicou Gómez.

Dupla ameaça

E não é só na zaga que Gómez contribui para o time chegar aonde está. Ele é uma perigosa arma no jogo aéreo do Palmeiras.

Na Libertadores 2020, o paraguaio fez dois gols. Ainda na fase de grupos, deixou o seu na goleada de 5 a 0 em cima do Tigres. Voltou a balançar as redes no jogo de volta das quartas de final, no empate em 1 a 1 contra o Libertad.

Em três temporadas, ele soma 13 gols e, se marcar no Mundial, entrará no top 10 de zagueiros goleadores na história do Palmeiras, igualando os números de Nen e Henrique, que têm 14 gols cada (veja abaixo).

Marco Luzzani/Getty Images

De ilustre desconhecido no Milan a capitão do Palmeiras

O paraguaio de 27 anos iniciou a carreira em 2012, no Libertad (PAR). Em 2014, foi negociado com o Lanús, clube pelo qual foi campeão argentino dois anos depois e chamou a atenção de um dos times mais tradicionais da Europa. Na época, o Milan (ITA) desembolsou 9,5 milhões de euros pelo jogador, mas se arrependeu do investimento —ou seja, não soube aproveitar o talento do defensor.

Na primeira temporada, até que Gómez foi bem aproveitado: atuou em 18 partidas e ajudou na conquista da Supertaça da Itália. Mas na virada da temporada, o clube investiu em nomes fortes para a defesa, como Leonardo Bonucci e Mateo Musacchio, e Gómez foi perdendo espaço.

Em 2018, por exemplo, o zagueiro só atuou dez minutos durante uma partida da Liga Europa. Quando surgiu o interesse do Palmeiras, Gómez estava parado havia quase nove meses. Quem diria que em pouco menos de dois anos, o zagueiro passaria de quase desconhecido aos olhos do torcedor do Milan para uma das peças mais importantes do Palmeiras campeão da Libertadores?

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Final feliz de longa novela

A relação entre o paraguaio e a diretoria alviverde nem sempre foi simples. O Palmeiras contratou o defensor no modelo de empréstimos sucessivos. Em meio às negociações para renovações contratuais, a equipe do atleta aproveitava para incluir acréscimos nos salários e pagamento de comissão.

No entanto, na última rodada de negociações, no meio do ano passado, a cúpula palmeirense, que havia cedido até então, avaliou que havia um exagero do ponto de vista do clube. A novela se arrastou. No fim, o Palmeiras e atleta chegaram a um acordo bom para ambos os lados.

A imagem de Gómez, porém, ficou arranhada perante a diretoria no momento. E, na ocasião, havia a ainda preocupação quanto ao respeito do paraguaio em relação a seus companheiros e à torcida. A situação obviamente ficou no passado. Em campo e fora dele, Gómez se credencia cada vez mais para se tornar um ídolo da torcida palmeirense, ainda mais depois do título da Libertadores. Melhor que isso, só se o zagueiro também levantar a taça do Mundial!

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