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Como Patrick Teixeira, campeão mundial de boxe, treina isolado para luta sem público e sem data certa

Roberto Salim Colaboração para o UOL, em São Paulo Simon Plestenjak/UOL

Todo cuidado é pouco nestes tempos de pandemia. Ainda mais em um esporte em que o contato físico é inevitável. Até parece ser impossível preservar a saúde em época em que o distanciamento social é regra básica para se manter seguro.

Mesmo assim, o campeão mundial de boxe Patrick Teixeira treina todos os dias em Santana de Parnaíba (SP) pois deverá defender o título dos médios-ligeiros da Organização Mundial de Boxe (WBO), em julho ou agosto, na Califórnia ou em Las Vegas.

"A data ainda vai ser confirmada pelos organizadores, mas em junho deveremos viajar para os Estados Unidos, a fim de concluir a preparação para a disputa, esse é o ideal", admitiu o próprio lutador, que sai de máscara de sua casa para ir aos treinamentos.

"Público é o coração de uma luta de boxe"

Os promotores da luta já enviaram a proposta com os valores da bolsa que o campeão receberá, mas ainda esperam uma resposta da Comissão Norte-americana de Boxe para confirmar se o combate será mesmo na cidade de Índio, na Califórnia, ou em Las Vegas.

A luta seria realizada no dia 25 de abril contra o desafiante argentino Brian Castaño, o número um do ranking da Organização Mundial de Boxe, em Índio, na Califórnia.

"Algumas coisas ainda estão indefinidas, mas o pessoal da Golden Boy, que cuida da carreira de Patrick Teixeira, já nos avisou que a luta não terá público", explicou Patrick Nascimento, o manager que trata da parte administrativa dos passos do lutador brasileiro.

Nunca lutei sem público. Eu acho que o público é o coração de uma luta de boxe. Lutar sem ninguém talvez seja como um treino de sparring na academia. Mas não tem jeito. Vou torcer para que até o dia do combate as coisas voltem ao normal. Mas se não voltar...

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Rotina rígida em treinamentos para segurança contra o coronavírus

A equipe que cuida da preparação do campeão do mundo tem tomado os cuidados possíveis em Santana de Parnaíba.

"Mesmo com a pandemia, nós não descuidamos dos treinamentos, em momento algum", explicou o técnico Xuxa Nascimento. "Depois que a luta, que seria dia 25 de abril, foi cancelada, nós continuamos aqui na cidade. Eu moro no alojamento ao lado da academia junto com o meu auxiliar José David Souza e o sparring Vitor Siqueira. A academia fica atrás da igreja, em uma rua sem saída, sem bar nenhum. Sem aglomeração. Por isso não vejo problema nenhum em treinarmos aqui".

Xuxa não tem medo em relação à pandemia. Ele toma precauções e conta que Patrick Teixeira mora bem perto: "Vive com a esposa dele, coisa de 3 minutos de carro".

A rotina é explicada pelo próprio lutador. Toda manhã, às 9 horas, ele chega para treinar. "É bem pertinho, ponho a máscara e venho", confirmou o campeão. "Não tem problema. A cidade está tranquila, cumprindo direitinho a quarentena".

Para chegar à academia, que fica no prédio da prefeitura da cidade, os outros três integrantes vão de máscara. "O Patrick vem de carro e vem de máscara também. Dentro da academia somos quatro. Queriam que somente três entrassem no local, mas acabamos mostrando que tomamos as providências necessárias, passando álcool gel em todos os equipamentos em que os exercícios são realizados".

Xuxa diz que não estão expondo ninguém, mesmo com os treinos de luvas entre Patrick Teixeira e o sparring Vitor Siqueira, também médio-ligeiro, que há três meses faz parte da preparação. "Tomamos café e almoçamos no alojamento mesmo. Quando saímos para ir ao mercado, vamos de máscara e a cidade está tranquila".

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Brasileiros "espiam" rival nas redes sociais

Toda a equipe e o campeão mundial têm a certeza de que o rival, o argentino Brian Castaño, está treinando também, como contou o manager Patrick Nascimento.

Ele posta fotos dos treinos em Buenos Aires no Instagram e no WhatsApp".

E todos sabem disso porque, além das postagens, o preparador físico do argentino é um velho conhecido: Mathias Erbin. "Ele trabalhou aqui com a gente durante quase dois anos", contou o técnico Xuxa.

"Mas não acredito que o Mathias possa ser um fator de vantagem para o argentino. Se ele fosse treinador de boxe, poderia até saber de alguma deficiência do Patrick, mas é um preparador físico. Aliás, muito bom", acrescentou Nascimento.

O campeão do mundo tem a vantagem de ser surpreendente. Ele mesmo diz disso. "Eu vario muito o meu tipo de luta. E procuro saber tudo sobre o adversário. Então, eu sei que ele é mais baixo que eu e vem para dentro. Por isso, devo utilizar mais jabs e diretos. E manter a distância".

O que todos concordam é que vai ser uma luta muito mais dura do que contra Carlos Adames, quando Patrick ganhou o título mundial dos médio-ligeiros em Las Vegas, no mês de novembro. O argentino Brian Castaño tem um cartel de 16 lutas, com 12 vitórias por nocaute. E um empate contra o cubano Erislandy Lara.

"Mas não temos que escolher adversário", sentencia o treinador. "Nem ter medo de ninguém, porque o campeão mundial é nosso. Boxe é assim mesmo: vai ser uma luta dura para o Patrick? Vai. E vai ser muito dura também para o Brian. Então, que venha o argentino".

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Corridas de 8 km fazem parte do treinamento

Além dos treinos na academia, o campeão mundial costuma correr pelas estradas próximas no período da tarde. Uma média de 8 km.

Afinal, como diz o auxiliar técnico José David Souza, desde que a pandemia começou: "Um campeão não pode se descuidar dos treinos nem em tempos difíceis como os que vivemos hoje".

Lutar sem público também não deve ser um problema maior. Para Xuxa, será como um treino puxado na academia.

"Não vai ter aquele clamor. Mas eu lembro que eu entrava focado no ringue e escutava apenas o que meu técnico gritava", recorda o treinador, que foi um excelente pugilista, com uma carreira de 48 vitórias e apenas um empate.

Campeão de Boxe Patrick Teixeira treina durante a pandemia de COVID-19

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