PF prende Coaracy e mais 2 em desvio de verbas públicas no esporte aquático
Bruno Thadeu, Demétrio Vecchioli e Luiza Oliveira
Do UOL, em São Paulo
06/04/2017 08h54Atualizada em 06/04/2017 15h50
A Polícia Federal prendeu três pessoas e encaminhou outras cinco de forma coercitiva para unidades da polícia no Rio de Janeiro e São Paulo. A Operação Águas Claras investiga desvio de verbas públicas que foram repassadas para a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).
Os presos são Coaracy Nunes Filho, que deixou a presidência da entidade há duas semanas, depois de encerrado seu mandato, o diretor financeiro da entidade, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga, e o coordenador de polo aquático, Ricardo Cabral. O gerente de natação, Ricardo de Moura, considerado o braço-direito de Coaracy, é o alvo do quarto mandado, mas está foragido.
Todos os detidos estavam no Rio de Janeiro e integravam a cúpula da entidade que rege a natação, polo aquático, nado sincronizado, saltos ornamentais e maratona aquática. Com Coaracy afastado, a CBDA é presidida interinamente pelo interventor judicial Gustavo Licks.
Coaracy responde a processo 0020642-46.2016.4.03.6100 na Justiça Federal por ter supostamente desviado R$ 42,3 milhões em recursos públicos.
Empresa de fachada e contratações suspeitas
As investigações, iniciadas pelo Ministério Público de São Paulo, apuram o destino de cerca de R$ 40 milhões em recursos públicos repassados à CBDA e que não teriam sido devidamente aplicados nos esportes aquáticos. Entre as fraudes, estão licitações para aquisição de equipamentos de natação no valor aproximado de R$ 1,5 milhão, pagos com recursos de um convênio com o Ministério do Esporte.
Há indícios de que a empresa vencedora seja apenas de fachada, pois em seu endereço na capital paulista funciona um pet shop. A CBDA sempre alegou que os equipamentos comprados foram entregues.
A Justiça investiga os últimos 5 anos de repasse de verbas para a CBDA.
“Foram analisados 3 convênios, um no valor de R$ 5 milhões de reais, para o polo aquático, mas não houve elementos que comprovassem a aplicação no polo”, informa Rodrigo de Campos Costa, delegado Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado.
Também é objeto da Operação Águas Claras, a contratação com suspeitas de irregularidade de agência de turismo, que venderia passagens aéreas e hospedagens para os atletas com preços superfaturados.
“Foi constatada que a mesma agência trabalha há mais de 10 anos para a CBDA. Na licitação participavam três agências de turismo, mas tinham mais duas empresas de fachada, o que dava aparência de legalidade na concorrência. As empresas de fachada só participavam e a mesma empresa sempre sagrava-se vencedora. Os sócios dessas empresas moram em comunidades, não declaram imposto de renda, não têm funcionários”, disse Rodrigo de Campos Costa.
A operação ainda apura uma suposta apropriação de premiação de US$ 50 mil dólares que deveria ter sido repassada a atletas após torneio na Itália.
A acusação ainda incluiu a ausência da seleção brasileira masculina júnior para o Mundial do Cazaquistão, no ano passado, sob o argumento de falta de recursos. Mas o convênio com o Ministério do Esporte incluía essa competição.
Coaracy comandou a CBDA por quase 30 anos
Coaracy Nunes assumiu o comando da entidade em 1988. Ele chegou a ser afastado em setembro do ano passado, depois de o Ministério Público Federal de São Paulo ter concluído que a atual diretoria da CBDA cometeu ilícitos e gestão temerária de recursos públicos.