Do pau-de-sebo à cerveja: Luxa inicia coletiva bravo, mas termina aos risos

Vanderlei Luxemburgo saiu do "inferno ao céu" em entrevista coletiva após a vitória do Corinthians sobre o São Paulo por 2 a 1, em jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil disputado na Neo Química Arena. Ele iniciou a sessão incomodado com uma pergunta sobre análise do jogo e, mais tranquilo, terminou brincando ao falar que tomaria cerveja no vestiário.

O que ele disse?

Pergunta sobre análise do jogo irrita. "Respeito toda pergunta, mas se toda a vez que chegar aqui, precisar fazer análise do jogo... não tem os analistas que falam para vocês? Vou ter que ficar igual no pau-de-sebo, venho aqui no sobe e desce... você viu o jogo, a interpretação é de vocês. Sei o que fiz no jogo. A estratégia foi criada e vocês analisam. Vocês estão aí jogo para poder prestar atenção nisso aí. Toda pergunta procede, mas 'o que aconteceu no jogo?'. Tem uma porção de gente pra analisar. É importante para você, mas mais do que isso é vocês terem uma análise do jogo que vocês viram. Não vou bater boca contigo. Estou respondendo: a análise do jogo está aí para vocês criticarem e elogiarem. 'O que você falou para o Adson?', 'por que você fez isso?'... É muito mamão com açúcar."

Renato Augusto. "É um jogador diferente, como tem jornalista diferente, uma porção de coisas diferentes em cada profissão. O Renato é um jogador diferente. Já comentei algumas vezes que tenho uma experiência do que é jogador diferente: no Real Madrid, quando tirei Ronaldo e Zidane e os caras foram para cima de mim. Um jogador como o Renato você não tira do jogo, ele pode estar de bengalinha, mas decide o jogo pra você. Deixa ele no jogo, daqui a pouco ele pega uma bola e decide. Quando faltava cinco minutos para terminar, ele e o Róger estavam mortos, mas ele pediu."

Vantagem para decidir fora de casa. "Decidimos contra o Universitario com vantagem em um clima hostil. Já decidimos em casa e fora, temos que estar preparados. É um jogo de 180 minutos, é a primeira etapa, vamos para a segunda com a vantagem, mas não acabou. São seis jogos: cinco vitórias e um empate. Isso é preciso valorizar. Tenho um elenco e precisei dividir. Jogadores que tinham saído como o Maycon voltaram. Eu dividi o elenco. Eles têm que valorizar essa vitória, não é subestimar o São Paulo, é degustar uma vitória sobre um time bem montado como o do Dorival."

Bate-boca com Luciano. "A discussão faz parte. Tentei entrar lá porque não podemos ser prejudicados por uma ação da torcida. Temos que parar com essa coisa, essas provocações... as equipes que estão sofrendo, como Vasco e Santos, passam problemas e, de repente, vão ladeira abaixo. A torcida é fundamental, como hoje esteve aqui incentivando o tempo todo. O torcedor tem que ter muito cuidado porque o tribunal não está dando moleza, e jogar com campo vazio é complicado."

Vanderlei Luxemburgo, técnico do Corinthians, durante jogo contra o São Paulo
Vanderlei Luxemburgo, técnico do Corinthians, durante jogo contra o São Paulo Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Mudança no ambiente. "Falei para os jogadores para comemorarem porque ninguém deu pra nós esta condição. Há dois meses, a gente não podia sair no hotel, no restaurante... ninguém podia fazer absolutamente nada porque o momento era muito difícil. Estávamos privados de ser um cidadão. Estes jogadores têm que comemorar e saber o que aconteceu há dois meses, quando não podiam sair. Ninguém pediu licença para chegar onde chegaram. Eles se uniram e estão de parabéns por terem chegado com seis jogos e cinco vitórias."

Comparação entre comemorações de Ryan e Luciano. "Não quero entrar no mérito do São Paulo, eu discuti o meu problema com o meu jogador. Me deram pancada por eu ter pedido desculpa [contra o Universitario]: eu estava em um ambiente hostil e complicado, não sabia o que estava acontecendo fora do estádio. Quando fui na coletiva, eles sacanearam meu espanhol. Eu tinha que me comunicar de alguma maneira para poder jogar água, e não álcool, para amenizar o problema lá. Meu jogador [Ryan] se equivocou porque o ambiente era hostil e não tinha que comemorar com a torcida deles, e com a nossa torcida que estava lá. Ele só aumentou o clima hostil.

Racismo x provocação de Ryan. "Aí falaram que mostraram racismo: o futebol não é a mola mestra para mudar o mundo, não. Querem fazer dentro do futebol a mudança do mundo? Ele fez errado, não podia fazer aquilo, poderia criar um clima muito complicado para nós sairmos de lá. Mas não crucifiquei meu jogador, eu só repreendi. Ele vai voltar para cá e pertencer ao elenco porque é bom jogador. Mas que sirva de aprendizado, porque ele expôs a gente de maneira desnecessária."

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Críticas. "Isso não faz a diferença, temos que conviver com elas. Mas quantas vezes cheguei aqui e falei que conseguia ver coisas boas mesmo no momento de críticas? Não posso fazer meu elenco crescer por causa da crítica. A análise pertence a vocês, temos que saber o que estamos fazendo internamente. Tenho confiança, vejo jogadores trabalhando e fazendo as coisas acontecerem. Nos baseamos não nas críticas, mas no nosso trabalho para reverter a situação, não dependendo de vocês, nós revertemos para vocês poderem elogiar a gente."

Histórico em Copas do Brasil. "Nossa vida é constantemente cobrada para ganhar o próximo campeonato. Você ganha ano passado e não adianta nada. A conquista abastece. Estamos sujeitos a elogios e críticas, mas pegando o retrospecto, quem ganhou cinco Brasileiros? As pessoas esquecem muito rápido e acham que você tem que ganhar todo título, você não consegue. O importante é a longevidade, e isso falta respeito no Brasil. Ainda está dando aquela 'piscadinha' e aquele friozinho na barriga. O dia que isso acabar, não quero mais estar disputando jogo de futebol, quero estar em casa tomando meu vinho e vendo meus netos.

Mudanças táticas no 1° tempo. "O São Paulo acertou mais tecnicamente do que a gente no 1° tempo. Tivemos mais a posse, mas erramos o primeiro e o segundo passe. Não conseguimos jogar o São Paulo para trás. O time não estava legal tecnicamente, a gente fechava, mas faltou ter o passe preciso. Houve uma mudança no 1° tempo. Faltou falar que eu defini que o Ruan ficasse, com 20 minutos, pelo lado direito para inibir o Caio Paulista. Aí mudei a posição do Renato. Foi uma mudança estratégica."

Momento da carreira. "Estou igual pinto no lixo. Chegar numa semifinal da competição é difícil para caramba. A gente fica feliz, mas tenho os pés no chão e sei que nossa vida é abastecida por isso: por decisões. A gente está acostumado com essa coisa de decisão. Fui contratado pelo Corinthians em um momento difícil, mas foi uma honra muito grande. Você não pode dizer não ao Corinthians, é um clube muito grande, que projeta e faz as coisas acontecerem. Estou muito feliz, não tenho resposta para ninguém."

Próximos jogos. "Está com pressa, né? Vou tomar uma cerveja lá dentro agora, tem uma cervejinha para aliviar a tensão. Vamos pensar na recuperação dos jogadores. Tivemos um jogo muito tenso na Bahia, temos que valorizar aquele empate, se não estaríamos em uma situação na tabela ainda mais complicada. Por isso fui com o time principal lá. A equipe que jogou lá contra o Bahia treinou 15 dias para jogar em dois finais de semana. Temos que entender que quero ganhar a Copa do Brasil, mas temos a obrigação profissional de trabalhar olhando o Brasileiro, porque o Corinthians não pode pensar [em queda], temos que ter um crescimento na tabela. O Brasileiro é muito importante."

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