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Devoto, simples e estrategista: as facetas de Vítor Pereira, do Corinthians

Vítor Pereira, novo técnico do Corinthians, nos tempos de Shanghai SIPG - Etsuo Hara/Getty Images
Vítor Pereira, novo técnico do Corinthians, nos tempos de Shanghai SIPG Imagem: Etsuo Hara/Getty Images

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

26/02/2022 04h00

O sol se ergue até seu ponto mais alto e volta a se esconder acima da estrada. No acostamento, um homem solitário acompanha todo o movimento solar, do início ao fim, andando parte dos 170 km em direção ao seu destino. Escondido pelo capuz que é proteção contra o calor e das lentes dos fotógrafos, Vítor Pereira, novo técnico do Corinthians, faz sua peregrinação até o santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Portugal.

Nascido em Espinho, cidade no litoral de Portugal com cerca de 30 mil habitantes, o treinador é católico praticante e devoto assumido. Não foram poucas as vezes que ele fez a peregrinação da cidade natal até Fátima, percurso que leva cerca de três dias a pé. Já na primeira vez que foi flagrado no caminho, logo após o título nacional do Porto em 2012/13, ele fez questão de dizer que a atitude não tinha relação alguma com o futebol.

Aquele havia sido o primeiro título da carreira de Vítor Pereira. O português era auxiliar do compatriota André Villas-Boas na temporada anterior em que o Porto fez a tríplice coroa e já naquela ocasião era visto pela imprensa portuguesa como "o estrategista" da dupla — enquanto Villas-Boas tinha o domínio de vestiário e imprensa.

Quando Villas-Boas partiu rumo ao Chelsea, Vítor Pereira assumiu o comando. Logo em seu primeiro ano venceu a liga. Na segunda temporada, deixou Jorge Jesus de joelhos na vitória que lhe rendeu mais um título nacional. Autor do gol da conquista, Kelvin contou ao UOL Esporte como o português o fazia se sentir parte do elenco, mesmo jovem e com poucas oportunidades.

"Cheguei em 2011 e fiquei um ano emprestado. Na outra temporada, ele me deu a oportunidade de ficar no elenco, que na época era muito forte. Na minha posição era Hulk, James Rodríguez, Varela... Só jogador de seleção. Eu não tinha uma sequência de jogos, às vezes ele nem me levava para as partidas, mas sempre cobrava a mesma intensidade dos demais nos treinamentos, conversava comigo e me colocava para cima", disse.

Uma rápida passagem pela Arábia Saudita, quando discutiu com o xeque dono do Al-Ahli mostrou o traço de personalidade forte para conduzir seu vestiário. No entanto, segundo o meia Oscar, que trabalhou com o Vítor Pereira na China, o técnico também tem seu lado brincalhão.

"É um cara que sabe montar muito bem o time e organizar muito bem. Ele cobra bastante para correr até o final, tem treinos muito bons e fez isso muito bem na passagem na China. Tem uma relação muito boa com jogadores, cobra muito nos treinos, mas também é engraçado, brincalhão. Sabe a hora certa de cobrar, de brincar, de apoiar o jogador e estar com o time nos momentos que derrota", contou o meia do Shangai em entrevista ao UOL Esporte.

Gosta de jogar no 4-3-3. Um time que joga sempre para frente, com a bola, passes rápidos e chegando ao gol. No último ano aqui jogou no 3-4-3, jogando mais aberto, com bastante cruzamento. Ele varia bastante. O torcedor do Corinthians pode esperar um treinador que joga com o time e com a torcida. Ele gosta bastante do apoio do torcedor. É um cara que fica ativo o jogo todo, joga junto. Vão ver um treinador em campo que vai brigar até o último minuto para ganhar os jogos."

Origem humilde

Nascido em um bairro pobre majoritariamente de pescadores em Espinho, Vítor Pereira nunca teve luxos na infância. Seu pai era porteiro em um hotel e a mãe era costureira. Até hoje o técnico mantém um estilo de vida simples. Certa vez, em entrevista ao "Jornal de Notícias" de Portugal, disse:

Vi os meus pais trabalharem toda a vida e o dinheiro não dava. Eu, hoje, não consigo comprar um porsche panamera, nem andar nesses carros. Não consigo! Mas tenho dinheiro para isso."

E dinheiro continuará longe de ser um problema. A operação para trazê-lo da Europa, assim como a sua comissão técnica, deve custar algo em torno de 300 mil euros mensais (cerca de R$ 1,7 milhão na cotação atual). Por conta das altas cifras, o Alvinegro estuda buscar um patrocinador.

Vítor Pereira não estará no comando do time diante do Red Bell Bragantino, mas estreia na rodada seguinte, logo no clássico contra o São Paulo, no Morumbi. No clube conhecido pelo "bando de loucos", o português pode ganhar até companhia para próxima peregrinação se encher, ainda mais, a sala de troféus do Timão.

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