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Cruzeiro: crise faz jogadores pagarem faculdade de filhos de funcionários

Luxemburgo apoia movimentos do jogadores, que lutam por melhorias e pagamentos em dia no Cruzeiro Imagem: Bruno Haddad

Guilherme Piu

Do UOL, em Belo Horizonte

27/10/2021 04h00

A crise financeira do Cruzeiro faz com que a atual diretoria tenha enorme dificuldade para pagar despesas básicas, como salários para jogadores e funcionários do clube. Com uma dívida global que beira R$ 1 bilhão, a Raposa tem sobrevivido nos últimos anos por aportes de empresários. Algumas pendências mais urgentes, mas que não encerram tudo o que está atrasado, somam R$ 9 milhões. O presidente Sérgio Santos Rodrigues prometeu quitar esse montante até o fim desta semana.

O não pagamento dos salários gera uma reação em cadeia em toda a estrutura pessoal do clube. Sem os vencimentos mensais em dia, há quem tenha dificuldade até de se deslocar para o trabalho pela falta de dinheiro para a passagem no transporte público. Outros ficam em situação complicada até para se alimentar e precisam de apoio de outros funcionários em melhores condições. No centro de treinamento onde ficam os atletas da equipe principal, há um mutirão de ajuda para os que mais precisam.

"No caso dos funcionários que ganham menos, é mais difícil ainda a situação. Nós procuramos ajudar da maneira que dá. Alguns dão cesta básica, outros pagam a faculdade de filhos [de funcionário], porque se vencer [a cobrança] não consegue exercer os estudos e o pai se preocupa com isso. Preocupações de cada um que eles passam para nós. E se está na nossa medida do possível de ajudar, ajudamos com certeza", revelou o meia Giovanni, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Exigência de pagamento

Os atletas no mês passado se mobilizaram, encabeçados pelo capitão Fábio, e iniciaram um princípio de movimento grevista com uma paralisação entre 13 e 17 de outubro. Os jogadores não foram para o CT treinar e pediram uma reunião emergencial com a diretoria.

"Foi uma conversa que nós já tínhamos com o presidente de coisas que tinham de ser acertadas, não só com os atletas, mas também funcionários do clube, não só da Toca II, mas da Toca I. Coisas que estavam acontecendo. Nós também entendemos o momento delicado que vive o Cruzeiro, o clube arrecada um valor em algum lugar, mas tem bloqueios judiciais. Entendemos o lado do presidente também, ele entendeu o nosso lado. Mas as coisas estão sendo acertadas internamente com o presidente, com as pessoas responsáveis, nossos colaboradores, patrocinadores do Cruzeiro, creio que nos próximos dias as coisas vão se acertar", disse Giovanni.

Por causa dos atrasos constantes no pagamento há atletas que não recebem o salário de forma integral desde abril. O clube ora quita parte do que está previsto na carteira de trabalho, ora no contrato de direito do uso de imagem. Sem quitar a pendencia de forma integral acaba entrando em uma "bola de neve".

Há também pendências ainda de 2020. Funcionários não receberam férias e outros benefícios de forma integral, por exemplo.

"Os funcionários são muito importantes. Muitas pessoas não sabem, mas se não fossem eles, o clube não gira. Não gira se não tiver o nosso roupeiro lá para deixar as roupas, não gira se não tiver os fisioterapeutas, não gira se não tiver o pessoal da alimentação. Dependemos muito deles para chegar na parte principal, que são os jogos e dia a dia de trabalho, precisamos demais", reiterou o meia.

"Cada jogador procura ajudar da sua forma. Às vezes as pessoas acham de fora que os atletas ganham muito, então ele está bem. Não é assim que funciona. Os jogadores normalmente vêm de estrutura familiar mais humilde, ajudam pai, mãe, tio, tia. Quando vai ver, até para ele não cai [dinheiro] Ficar sem receber é difícil, porque você planeja o ano inteiro com o dinheiro que você tem"

Algo foi pago?

Apesar das pendências, Giovanni afirma que a diretoria está se esforçando para quitar os salários atrasados. Tanto que parte dos pagamentos para alguns atletas já foi feito.

"Para a maioria dos atletas já fizeram o pagamento, falta um ou outro por alguns erros de digitação, contas que alguns atletas trocaram. Boa parte já está sendo acertada, falta um pouco, mas estão correndo atrás", garantiu.

Apoio de Luxemburgo

Não é qualquer técnico que consegue segurar um rojão do tamanho do vivido no Cruzeiro. Tanto que diversos profissionais estiveram no vestiário e não sustentaram de forma firme os problemas, perdendo o grupo de jogadores. Com Vanderlei Luxemburgo, que conta também com a ajuda do tetracampeão mundial Ricardo Rocha, a história tem sido outra.

"Eles [Luxemburgo e Rocha] têm ajudado bastante em tudo o que está acontecendo. Eles são a ligação entre nós [jogadores] e o presidente. Eles que nos ajudam bastante em tudo o que a gente vem fazendo, não só no extracampo, mas no campo também", explicou Giovanni, que ressaltou a importância do treinador nos bastidores.

"Com certeza [diferente trabalhar com Luxemburgo]. Treinador respeitado no mundo todo pelos lugares em que trabalhou e títulos que já conquistou. Então, não tenha dúvida que é uma motivação a mais. Tudo que ele fala tem convicção, tem um porquê. Explica tudo para nós direto e reto no que ele quer, um cara muito transparente, e para mim está sendo um prazer trabalhar com ele no Cruzeiro", finalizou.

"É uma boa relação, o presidente está mostrando o que ele está tentando fazer e nós o que tem que melhorar em relação ao salário, essas coisas dos funcionários, mas não tem má vontade da parte dele. Sabemos das dificuldades que o clube tem, mas também temos que pensar nas dificuldades de nós atletas, funcionários do clube, das categorias de base, funcionários que limpam à Toca I e Toca II. Foi um movimento geral que foi bom para todos"

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