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Abatimento de Lisca era sinal evidente da não permanência no América-MG

Lisca se emociona em despedida do América-MG Imagem: Reprodução TV Coelho

Henrique André

Do UOL, em Belo Horizonte

15/06/2021 04h00

Um casamento feliz que chegou ao fim. Assim pode ser traduzida a relação entre o técnico Lisca e o América-MG, encerrada ontem (15). Contratado pelo alviverde no início do ano passado, o gaúcho de 48 anos colecionou recordes e deixa o clube pela porta da frente, mesmo ocupando a lanterna do Campeonato Brasileiro, após três rodadas disputadas e nenhum ponto somado. Contudo, Luiz Carlos Lorenzi já não estava feliz em Belo Horizonte, apesar de ser querido pela grande maioria dos americanos.

Mesmo com a campanha histórica do Coelho na Copa do Brasil de 2020, quando alcançou a inédita semifinal, e com o vice-campeonato da Série B, que devolveu o time à elite do futebol brasileiro, Lisca percebeu que era hora de seguir a vida fora do Lanna Drumond (Centro de Treinamentos). Abatido, nos últimos tempos havia deixado de ser aquele cara agitado na beira do campo.

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Conforme apurou o UOL Esporte, em conversa com pessoas ligadas ao clube, o desgaste se deu também por motivos que foram além dos resultados recentes dentro das quatro linhas; o América-MG não vence há sete jogos. De acordo com relatos, a situação teria ganhado peso nas semifinais do Mineiro, após despachar o rival Cruzeiro.

Na ocasião, quando comemorava com os atletas, já no vestiário da Arena Independência, Lisca foi flagrado pela reportagem da detentora dos direitos de transmissão do Estadual cantando uma música que provocava Felipe Conceição, então comandante da Raposa. Nela, brincava que o companheiro de profissão e amigo era "freguês". A repercussão com a torcida celeste não foi nada boa e acabou se transformando em ameaças nas redes sociais das filhas e com o vazamento do número de telefone do agora ex-comandante do América-MG.

Entrevistado na noite de ontem pela Rádio 98 FM, Lisca foi perguntado se isso, de fato, teria sido a principal causa para deixar o América-MG. O técnico, de pronto, rechaçou e não quis atribuir a situação como motivo para deixar Belo Horizonte.

"Não pesou. Fiquei chateado. Conversei com minhas filhas, mas nós vamos valorizar muito mais as coisas boas que vivemos aqui. Minhas filhas adoraram. Elas ficaram sete meses aqui e foram para Porto Alegre porque voltaram as aulas presenciais. Ficamos chateados, mas são coisas das redes sociais. Mandaram muita pornografia para minha filha mais nova e para a outra também. Elas choraram, mas entenderam a situação. Isso não pesou em nada pela minha saída do América. Já havia passado por algo parecido em outros lugares, porém, sem o envolvimento das meninas", afirmou.

"Foi um episódio isolado da emissora. Me dou bem com todos os meninos que lá trabalham e serve de lição para ambos os lados. O trabalho aqui não estava andando e, para o bem do América-MG, eu resolvi sair", acrescentou.

Erros de arbitragem

Na fase seguinte do Estadual, veio o Atlético-MG. Com dois jogos sem gol, o time de Cuca, dono da vantagem, acabou ficando com o caneco. Insatisfeito com a arbitragem e se sentindo prejudicado também em outras ocasiões, Lisca se mostrou bastante frustrado pela perda do título, mesmo com todo favoritismo do Alvinegro, que fizera investimento milionário para a temporada.

Durante o bate-papo na rádio mineira, o técnico deixou evidente esta frustração. Ao receber telefonema de Everson, goleiro do Galo, ele brincou com o amigo e disse que ainda não se conforma com a penalidade que não fora anotada aos 49 minutos da partida decisiva.

Mudança de postura

Nos dias seguintes, Lisca já não era o mesmo. E isso era visível. À beira do campo, toda aquela energia não era vista. Ontem (15), na despedida, o técnico deixou claro que já não conseguia mais extrair tudo do grupo, até porque também já não estavam 100% consigo.

"Peço desculpas porque é difícil sair de um clube como o América-MG, o ambiente que tem, o respeito que todos têm com minha pessoa. [Quero] Agradecer a todos os funcionários, aos jogadores, torcida. Na minha avaliação, é o melhor para todos nós, o melhor para o América-MG, uma nova energia, uma nova maneira, um treinador com energia total, coisa que nesse tempo acaba desgastando, tirando energias, e não estou conseguindo mudar esse panorama, essa escassez de vitórias. É uma competição muito dura, precisa estar muito focado para o principal objetivo do América que é a permanência na Série A", enfatizou o treinador.

Vozão no radar?

Apesar de afirmar que não está deixando o América-MG por ter acerto com outro clube, Lisca em breve pode vestir uma camisa que conhece bem. Um possível destino, conforme apurou a reportagem, é o Ceará, clube que treinou até abril de 2019 e que vive momento complicado sob comando de Guto Ferreira.

A situação do atual treinador ficou complicada diante da diretoria e dos próprios torcedores após o Ceará ser eliminado da Copa do Brasil pelo maior rival estadual do Vozão, o Fortaleza, na última quinta-feira. Guto já vinha acumulando alguns fracassos e passou a ser questionado no cargo. Mesmo com investimento recorde de R$ 8 milhões para a temporada, a equipe não tem conseguido performar dentro de campo. Anteontem, o Vozão não passou de empate sem gol com a Chapecoense.

Nas duas passagens pelo clube cearense, Lisca conseguiu evitar dois rebaixamentos dados como quase certos. Em 2015, com nove rodadas a serem disputadas para o fim da Série B, o Alvinegro garantiu 20 dos 27 pontos possíveis, fugindo da terceira divisão do Brasileiro.

Em 2018, após um início ruim na Série A, o Ceará o chamou novamente, na 10ª rodada, quando ainda não havia vencido na edição. Depois da chegada do agora ex-técnico do América-MG, foram 10 vitórias, 11 empates e oito derrotas, terminando a 38ª rodada na 15ª posição.

Números pelo América-MG

Em 1 ano e 4 meses no clube mineiro, o que o tornou o técnico mais longevo do país, Lisca acumulou 82 partidas, com 40 vitórias, 27 empates e 15 derrotas.

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