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Jogador ameaçado por vice do Cuiabá foi à Justiça após crise de ansiedade

Luiz Gustavo entrou na Justiça contra o Cuiabá após receber ameaça do vice-presidente Imagem: Cuiabá Esporte Clube

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

03/06/2021 04h00

O zagueiro Luiz Gustavo ingressou com processo na Justiça contra o Cuiabá cobrando R$ 2,5 milhões referentes a verbas trabalhistas e outras obrigações. Ele ainda alega que foi diagnosticado com crise de ansiedade e estresse após ter sido ameaçado e assediado moralmente pelo vice-presidente do clube, Cristiano Dresch, durante uma conversa por telefone há duas semanas.

A informação foi divulgada inicialmente pelo site Globo Esporte e confirmada pelo UOL Esporte, que teve acesso ao processo completo. A reportagem também conversou com Cristiano Dresch e o advogado do jogador, Filipe Rino.

Em nota oficial, o clube confirmou a 'conversa ríspida' entre os dois (que pode ser ouvida e lida no áudio abaixo), mas alegou que "jamais teve a intenção de ameaçá-lo ou assediá-lo" e justifica a atitude do dirigente como um "ato isolado de defesa à honra da instituição".

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Ouça a conversa, também descrita abaixo:

Sr. Cristiano Dresch: Eu sei onde você mora, viu? Eu sei onde "cê" mora viu?

Luiz Gustavo: E daí?

Sr. Cristiano Dresch: "Cê" tá na minha terra.

Luiz Gustavo: E daí?

Sr. Cristiano Dresch: Seu jogadorzinho de bosta.

Luiz Gustavo: E daí?

Sr. Cristiano Dresch: Seu merda. Se você falar mais um "a" aí dentro do clube, você vai vez como é que faz. Fala mais um "a" ai dentro do clube que eu quero ver se você é homem.

Luiz Gustavo: Se eu tiver algo para te falar, falo na sua cara. Vem aqui que falo na sua cara se eu tiver alguma coisa para falar.

Sr. Cristiano Dresch: Seu jogadorzinho de meia tigela.

Luiz Gustavo: Você é um baita profissional.

Sr. Cristiano Dresch: Ruim "pra caralho". Seu bosta. Seu quebrado.

Luiz Gustavo: Valeu, falou, "é nois".

Sr. Cristiano Dresch: Abre essa boca sua aí de novo para você ver, seu vagabundo. Tá? Seu merda.

Como o atrito começou

Luiz Gustavo, zagueiro de 27 anos com passagens por Palmeiras, Vitória, Vasco e Goiás, chegou ao Cuiabá em setembro do ano passado, com contrato de quatro meses. Apenas dois meses depois, ele sofreu uma grave lesão num jogo contra o Luverdense e precisou operar o joelho. A escolha pelo médico que faria a cirurgia iniciou os atritos entre clube e jogador, segundo o advogado Filipe Rino.

"Ele, de fato, optou por fazer a operação com o Rene Abdalla, que é o melhor médico ortopedista do Brasil. Se você fosse um atleta, preferiria ser operado por um médico do plano que você não sabe quem é ou pelo melhor médico do país? Foi o que aconteceu. Ele optou por ser operado pelo melhor médico do país", justifica o advogado do jogador.

Cristiano Dresch, por sua vez, diz que Luiz Gustavo realizou a cirurgia sem autorização do Cuiabá e que o jogador chegou a ofender a médica Lívia Borges de Souza, que trabalha no clube.

"Logo após a lesão, ele fez uma cirurgia por conta própria, sem autorização do clube. Desde esse momento, já criou uma animosidade. Desde dezembro vem ocorrendo situações horríveis dele dentro do clube. Em 25 de janeiro, quando estávamos fazendo os exames admissionais em todos os nossos colaboradores, a médica constatou que ele estava inapto; ele pediu uma cópia do exame, ela não podia dar, e ele começou a xingá-la, a gritar, a chutar a porta, e quase bateu na médica. Se perguntar pra ela, ela achou que ia apanhar", diz Dresch sem explicar a razão pela qual o jogador não poderia ter acesso ao exame.

Jogador acusa clube de não pagar o que deve

No processo, a defesa de Luiz Gustavo alegou que ele teve seu rendimento reduzido em 90%, já que passou a receber pelo INSS. Rino afirma ainda que o jogador não recebeu os valores devidos — inclusive da cirurgia — e alega que o contrato não foi estendido como deveria.

"Ficou afastado pelo INSS, e o clube tinha a obrigação de fazer a complementação do salário dele, e complementaram somente janeiro. Quando acabou o benefício, em abril, notificamos o clube para que eles fizessem a prorrogação do contrato. Disseram que ele ainda estava machucado e que ele deveria permanecer afastado no INSS, só que o benefício já tinha se encerrado. O clube não queria ficar com ele e começou a forçar uma situação", conta. O contrato ente clube e jogador terminou em 31 de janeiro, mas Rino alega que o clube teria obrigação de prorrogá-lo por causa da lesão e do afastamento compulsório.

"E, ao ver que o Luiz não abriria mão da prorrogação, fizeram uma proposta de acordo de R$ 400 mil, que o Luiz não aceitou. Aí, eles partiram para a ameaça", acrescenta.

O clube, por sua vez, afirmou em nota oficial que 'Luiz Gustavo cometeu diversos atos de indisciplina e teve pelo menos três discussões acaloradas com funcionários, membros da comissão técnica e diretoria do clube'. Alega também que 'quitou todas as suas obrigações contratuais, como é praxe desde sua fundação, e que rebaterá todas as acusações na Justiça'.

Em nota no Instagram, a equipe do atleta nega os atos de indisciplina e discussões com funcionários do clube. "Ora, a CLT é bem clara ao tratar sobre a matéria: se há ato considerado como falta grave, deve a empresa advertir por escrito ou dar suspensão. E isso jamais ocorreu, pois o Luiz Gustavo jamais cometeu tais atos."

Luiz Gustavo teve crise de ansiedade após ameaça

Imagem: Reprodução

Filipe Rino disse que o jogador foi dormir em um hotel com medo das ameaças feitas pelo vice-presidente do clube. Um boletim de ocorrência, que está anexado ao processo, foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia Civil de Cuiabá.

"No dia das ameaças, eu mesmo recomendei que ele deixasse o apartamento dele e fosse para um hotel, até para resguardar sua integridade física, e de lá viesse embora. Nós fizemos o BO nesse dia, ele dormiu no hotel e então veio embora para São Paulo", disse o advogado.

Imagem: Reprodução

Na ação, a defesa do jogador destaca 'que as incertezas sobre seu futuro e a diminuição de sua renda bruscamente justo no momento em que mais precisava, somadas aos abalos psicológicos sofridos com o acidente de trabalho, desencadearam avançado nível de estresse', e ainda reproduz o laudo de um psicólogo que diagnosticou o jogador com transtorno de ansiedade, 'desencadeado por elevado nível de estresss em decorrência do ambiente de trabalho'.

Leia a nota oficial do clube:

A respeito do atleta Luiz Gustavo, o Cuiabá Esporte Clube e o vice-presidente Cristiano Dresch vêm a público esclarecer os seguintes pontos:

1) Desde o início do seu contrato, o atleta Luiz Gustavo cometeu diversos atos de indisciplina e teve pelo menos três discussões acaloradas com funcionários, membros da comissão técnica e diretoria do clube;

2) Um dos episódios de violência e insubordinação ocorreu em 25.01.21. Após tentar levar documentos de seu prontuário que deveriam permanecer no clube, o jogador quis rasgar o exame periódico, tentou tirar o laudo à força da mão da médica Lívia Borges de Souza, xingou a profissional e saiu chutando a porta da sala. Após ser contido pelo então supervisor Daniel Freitas, falou em tom de ameaça ao superior: "se você quiser me ver mais bravo do que estou, não chega perto de mim";

3) A conduta antiprofissional e inadequada do atleta pode ser ratificada também por vários de seus ex-companheiros e ex-superiores no clube e resultou em multa por infração disciplinar, conforme documento anexo;

4) Após ver seu clube chamado inúmeras vezes pelo jogador de "time de merda" e "time pequeno", depois de 12 anos de sacrifício para conquistar uma vaga na elite do futebol brasileiro, Cristiano Dresch confirma que teve uma conversa ríspida com Luiz Gustavo. O dirigente, no entanto, afirma que jamais teve a intenção de ameaçá-lo ou assediá-lo e justifica sua atitude como um ato isolado de defesa à honra da instituição. Pouco antes da discussão, Luiz Gustavo havia reclamado na sala de fisioterapia, na presença de 12 pessoas, que havia "muita gente falsa" no clube e incitou seus companheiros a não seguirem os protocolos médicos;

5) Sobre a ação na Justiça, o Cuiabá reitera que quitou todas as suas obrigações contratuais, como é praxe desde sua fundação, e que rebaterá todas as acusações na Justiça.

Leia a nota oficial do jogador:

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