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Por que Alisson ainda leva a melhor sobre Ederson e Weverton na seleção

Alisson faz defesa em treino da seleção na Granja Comary Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/06/2021 04h00

Não se discute a qualidade dos goleiros da seleção brasileira. O debate em torno do primeiro nome da escalação de Tite se dá não por conta de uma crise na posição, mas diante do alto nível dos três convocados: Alisson, Ederson e Weverton. Para os dois jogos das Eliminatórias e a Copa América que se aproximam, é possível contar com uma opção melhor do que Alisson?

Pelo que se viu na Granja Comary nesta semana, a balança continua pendendo a favor daquele que mais acumulou experiência na meta da seleção nos últimos anos. Se Tite não surpreender de última hora, Alisson será o titular contra o Equador, amanhã (4), em Porto Alegre. Referência no Liverpool, ele soma 45 partidas pelo Brasil, com 17 gols sofridos.

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A concorrência é muito forte. Ederson é o xodó de Pep Guardiola no Manchester City. A capacidade de jogar com os pés — somada ao básico, que é defender — o transformou em um goleiro único, mas seu potencial ainda não foi explorado em alta escala na seleção: fez só 11 jogos.

Weverton, por sua vez, brilha em território nacional. Foi crucial no Palmeiras campeão da Libertadores e exibe uma regularidade notável. Apesar de ter entrado em campo pela seleção principal em apenas quatro jogos, Weverton é o preferido para, assim como em 2016, ser o goleiro do Brasil na disputa dos Jogos Olímpicos.

Em um olhar mais genérico, a sensação é que se Tite trocar um por outro, o Brasil não passará sufoco de jeito algum.

Por que Alisson segue com moral

A seleção brasileira não vai na contramão dos conceitos modernos sobre o papel dos goleiros. Eles, inclusive, participam dos treinos nos quais a comissão técnica quer aperfeiçoar os movimentos de construção de jogo.

"Muitas vezes a participação é mais determinante com o pé do que com a mão. Mais do que nunca, o próprio treinador quer que o time jogue, saia jogando, não quer mais a bola rifada. Quando a equipe está bem equilibrada, confiante, a saída de jogo é fundamental. Tu não dá a bola. Tu constrói o jogo", disse Taffarel, antes da Copa América 2019, quando a disputa entre os goleiros já era acirrada.

Mesmo assim, Ederson, na prática, é mais importante para Guardiola do que para Tite. Ainda que o goleiro do City tenha sido titular nos dois últimos jogos do Brasil pelas Eliminatórias, contra Venezuela e Uruguai, em novembro de 2020.

É que Alisson está longe de ser uma negação com os pés. Apresentou evolução nesse fundamento ao longo da passagem pela Roma e, sobretudo, quando chegou ao Liverpool. Para a demanda da seleção, ele cumpre bem o papel.

Os ajustes táticos recentes se concentraram mais em achar alternativas na fase ofensiva, como a adoção de uma espécie de linha de cinco na fase de ataque (uma distribuição 2-3-5). A seleção raramente é pressionada a ponto de ter campo livre para se valer de um passe longo. Em geral, é o Brasil quem propõe o jogo.

Taffarel tem voz ativa junto a Tite na definição dos goleiros. Faz observações ao longo do ano e participa da tomada de decisão sobre convocações e titularidade. E o tetracampeão do mundo vê em Alisson um semelhante. Não se trata de clubismo, já que ambos vieram do Internacional. O que pesa, na cabeça do preparador, é o que a formação no Colorado acarreta para o goleiro.

De forma direta ou indireta, todos são discípulos de Luiz Carlos Schneider. Goleiro do Inter nos anos 1970, ele se tornou preparador na década seguinte e iniciou uma linhagem na formação da base e do profissional no clube. Taffarel foi aluno de Schneider, cujos conceitos permaneceram lá e chegaram a Alisson. Para resumir, a escola preconiza gestos técnicos nos movimentos de defesa. Taffarel vê essa tecnicidade em Alisson mais do que em Ederson, embora não desdenhe da qualidade do goleiro do City.

Sempre que indagado, o discurso do treinador é que a briga pela titularidade é constante. E a temporada passada deu elementos para não considerar absurda uma oportunidade para mudanças.

O que rolou em 2020-2021

Com Ederson no gol, o Manchester City foi campeão da Premier League mais uma vez e ficou muito próximo do título da Liga dos Campeões — a queda foi na final, frente ao Chelsea. Ederson teve participação crucial na fase mais aguda da competição europeia. Todo mundo viu, por exemplo, a precisão do passe longo que desencadeou o primeiro gol na vitória sobre o PSG de Neymar na semifinal. A capacidade de construção de jogo foi além: a estatística do Campeonato Inglês terminou com uma assistência para o goleiro brasileiro, na vitória por 3 a 0 sobre o Tottenham.

Segundo números do Wyscout, Ederson encaixou um percentual maior de passes certos no terço final do que Alisson. Weverton também se destacou nesse item ao longo de 2020, sobretudo com a chegada de Abel Ferreira, que demandou do goleiro um papel mais participativo na saída de bola. O esquema do campeão da Libertadores valoriza a bola longa para explorar a velocidade dos pontas. Por vezes, o time se posiciona de forma a dar campo para o goleiro arriscar os lançamentos.

Defensivamente, Ederson também cumpriu um bom papel na meta do City. Teve mais minutos do que Alisson em ação — 4.788 contra 4.234 — e levou menos gols: 33 a 45. O goleiro do Liverpool teve momentos de instabilidade durante a temporada. Contra o próprio Manchester City, pela Premier League, cometeu falhas grotescas jogando com os pés. Foi a origem de dois gols na derrota por 4 a 1.

Em fevereiro, Alisson sofreu um baque na vida pessoal por conta da morte do pai, que se afogou em uma represa no Rio Grande do Sul. O momento coincidiu com o hiato de jogos da seleção em decorrência de obstáculos causados pela pandemia. Mas, já na reta final do Campeonato Inglês e com motivos para sorrir por causa do nascimento do terceiro filho, Rafael, a proposta de se arriscar na área rendeu a Alisson um gol. A cabeçada certeira nos instantes finais do jogo contra o West Bromwich proporcionou ao Liverpool, ao fim das contas, a vaga na Champions League.

Ser goleiro da seleção atualmente envolve perfeccionismo. Alisson ainda segue como o cara da posição. E não é uma questão de beleza.

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