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Despedida de Maradona no Barça, contra o Flu, teve até "La Mano de Dios"

Romerito, ídolo do Fluminense, e Maradona, no Barcelona, conversam com o árbitro após pênalti marcado Imagem: Reprodução

Alexandre Araújo, Bruno Braz e Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

27/11/2020 04h00

Antes de ser "canonizado" pelos torcedores do Napoli, da Itália, Maradona vestiu o azul e grená do Barcelona, da Espanha. A despedida do clube catalão, após curta e conturbada relação, aconteceu em 1984, em uma partida amistosa contra uma equipe do Fluminense que havia entrado para a história pouco antes.

Campeão do Campeonato Brasileiro daquele ano, competição que à época era disputada no primeiro semestre, o Tricolor embarcou para os Estados Unidos para disputar um torneio organizado pelo New York Cosmos, juntando-se a Barcelona e Udinese, da Itália.

Desfalcado por conta da seleção brasileira (Paulo Victor, Jandir, Deley, Assis e Tato foram convocados), acabou perdendo para a Udinese nos pênaltis e, na disputa de terceiro lugar, teria o Barcelona de Maradona, que havia perdido para os anfitriões, pela frente.

Dhaniel Cohen, coordenador do Flu-Memória, lembra do episódio e que, inclusive, houve um lance dois anos antes da famosa "La Mano de Dios", quando o craque argentino usou a mão para fazer irregularmente um dos seus gols na vitória sobre a Inglaterra por 2 a 1, pelas quartas de final da Copa do Mundo do México, em 1986. Contra o Tricolor, porém, o lance acabou anulado.

Maradona marca gol de mão em duelo com o Fluminense, em torneio amistoso, em 1984 Imagem: Reprodução

"O Flu empatou com a Udinese e perdeu nos pênaltis. Depois, encarou o Barcelona, na disputa de terceiro lugar. Fluminense tinha cinco jogadores na seleção e foi um jogo de altíssimo nível, com chances para os dois lados. Curiosamente, o Maradona fez um gol de mão, em uma jogada semelhante àquele da Copa, mas não foi validado", disse ao UOL Esporte.

"Foi, realmente, um jogo com dois grandes times do mundo na época. A diferença entre [times] sul-americanos e europeus não era como hoje. O Fluminense tinha um grande time. Não tinha nem uma semana que tinha sido campeão brasileiro, com meio time reserva, e jogou de igual para igual com o Barcelona. O Romerito teve grande destaque, Aldo e Paulinho foram muito bem também", recorda.

Sem chuteiras apropriadas

Um dos nomes do jogo, como apontado por Dhaniel, foi Aldo, que participou ativamente dos lances que acabaram em gols do Fluminense. Ele lembra, inclusive, um fato curioso sobre a disputa daquele quadrangular.

"O gramado lá era sintético e não levamos chuteiras adequadas. Através do Carlos Alberto Torres [capitão do tri e ex-jogador do Cosmos], conseguimos com o [Franz] Beckenbauer, que disponibilizou o material adequado", lembra ele.

Aldo ressalta a dificuldade que era parar "El Pibe", mas salientou a boa atuação do time das Laranjeiras:

"Foi um prazer disputar aquele torneio. O Maradona era o astro, mas fizemos um jogo de igual para igual. O Maradona era o astro, tínhamos de marcar ele, mas ele era muito rápido. Ele fez jogadas que desequilibraram. Era difícil de marcar (risos), mas empatamos o jogo".

De olho em Romerito?

Imagem: Reprodução

Dhaniel Cohen acredita que o confronto em Nova York possa ter ajudado a despertar o interesse do Barcelona em Romerito, então estrela do Fluminense. No fim de 1988, o ídolo tricolor foi contratado pelo clube catalão, onde atuou na temporada 1988/1989.

"Acho que algo que deve ter chamado a atenção do Barcelona foi o Romerito. Apesar de ter perdido a cobrança na disputa de pênalti, ele jogou muito bem, como sempre. Ele era um dos maiores jogadores, não apenas sul-americanos, mas do mundo em 84. E era querido nos Estados Unidos, já tinha jogado no Cosmos. Inclusive, atuou na despedida do Pelé. E aconteceu que, anos depois, ele saiu do Fluminense e foi para para o Barcelona. Acho que, ver o Romerito in loco, pode ter despertado algo nos dirigentes. E ele também fez uma grande Copa de 86, pelo Paraguai", salienta.

"O verdadeiro Fluminense x Barcelona"

Anos depois da partida, os tricolores passaram a tratar este jogo como "o verdadeiro Fluminense x Barcelona". Isso porque, ainda no começo da era das redes sociais, em 1999, um áudio de uma partida fictícia entre as equipes — feito pelo humorista Pul Barreto — ganhou a internet e ficou conhecida como "gol do Barcelona".

A narração mostrava um jogo desigual, com diversos tentos para os catalães, mesmo quando, por exemplo, era pênalti para o Fluminense ou depois do jogo já ter terminado.

Tetra uma década depois

Técnico do Fluminense em 1984, Carlos Alberto Parreira esteve com o time tricolor nos Estados Unidos, país onde, uma década depois, conquistou a Copa do Mundo, comandando Romário, Bebeto, Taffarel, Dunga e cia. Parreira iniciou nas Laranjeiras em 1975 e, posteriormente, teve mais três passagens pelo clube, em 1984, 1999 e 2009.

Uma curiosidade é que, pouco após essa excursão, Carlos Alberto Torres virou treinador do Tricolor e se sagrou campeão do Carioca no fim do ano.

Ficha técnica:
Fluminense 2 x 2 Barcelona (ESP)


Competição: Torneio Transatlântico de 1984 - disputa de terceiro
Estádio: Giant Stadium
Árbitro: Robert Evans (EUA).
Gols: Estella e Mágico González para o Barcelona; Paulinho e Romerito para o Fluminense.
Cartões amarelos: Olmo, Clos e Husillos (Barcelona); Renê, Duílio e Paulinho (Fluminense).
Pênaltis: Barcelona 5 x 4 Fluminense.

Fluminense: Ricardo Lopes; Aldo, Duílio, Vica e Branco; Leomir, Renê e Romerito; Wilsinho, Washington e Paulinho. Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Barcelona: Amador; Oswaldo, Migueli (Canizares), Valor e Leiva (Giménez); Olmo, Estella, Husillos e Maradona; Clos e "Mágico" González. Técnico: César Luis Menotti (Argentina)

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