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Jornalista argentina que perdeu marido em 2014 evita jogo em SP: "Trágico"

Verónica Brunati trabalha em jogo na vitória da Argentina sobre o Qatar na Arena do Grêmio Imagem: Reprodução/Instagram

Diego Salgado, José Edgar de Matos e José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/07/2019 04h00

O dia 9 de julho de 2014 mudou a vida da jornalista Verónica Brunati. Hospedada em um hotel na cidade de São Paulo, enquanto cobria a Copa do Mundo, ela recebeu uma das piores notícias da vida: o então marido Jorge "Topo" López, também colega de profissão, morreu em Guarulhos em um acidente automobilístico, após o táxi do repórter ser atingido por um carro roubado por dois homens que fugiam de uma perseguição policial. Cinco anos depois, as feridas seguem abertas, ainda mais pelo retorno dela ao Brasil.

Verónica Brunati atuou na cobertura da seleção argentina durante esta Copa América. De volta a Buenos Aires depois da queda da equipe de Lionel Scaloni na disputa pelo título, a jornalista que trabalhou para a Telemundo, dos Estados Unidos, está aliviada. Seria doloroso demais pisar em São Paulo e na Arena Corinthians, palco do jogo de hoje (6) entre Argentina x Chile, às 16h (de Brasília), válido pelo terceiro lugar da competição.

"Não estava preparada para voltar a São Paulo, emocionalmente falando. Seria muito difícil voltar à Arena Corinthians, onde vivi a última partida com o meu marido. Além disso, seria muito difícil para os meus filhos [Agustín, nove anos, e Lucía, oito], que ficaram em Buenos Aires e estavam preocupados. Não queriam que eu fosse a São Paulo, tinham medo", contou, em conversa exclusiva com o UOL Esporte.

"Estive muitas vezes em São Paulo para cobrir jogos de Libertadores antes do acidente do meu marido, mas a recordação agora é muito trágica para os meus filhos; eles vivem com medo de que aconteça algo comigo", acrescentou Brunati, que verá a Argentina pela TV e terá outro colega na cobertura da disputa pelo terceiro lugar no torneio da Conmebol.

As lembranças sobre a tragédia retornaram de maneira mais forte, principalmente, com o desembarque em Belo Horizonte e a chegada a Salvador para o primeiro jogo argentino. A ansiedade de voltar pela primeira vez ao país em que perdeu o marido se transformou em lágrimas, mesmo com a companhia da mãe e dos filhos; estes, frutos do relacionamento com "Topo" López, que trabalhou no Mundial de 2014 para a rádio La Red e o jornal Olé, da Argentina, e o diário Sport, da Espanha.

Brunati no Maracanã depois da vitória argentina sobre os venezuelanos Imagem: Reprodução/Instagram

"Chegamos ao Brasil por Belo Horizonte e imediatamente desembarquei com muitas recordações. Foi muito forte. (...) Voltar e estar naquele aeroporto foi muito difícil. Chorei, revivi muita coisa. Estava com uma sensação estranha de reviver o que vivi nos primeiros dias neste retorno. E não era só eu, colegas que estiveram na Copa do Mundo de 2014 também tinham esta mesma sensação. Não foi fácil", contou.

Cinco anos depois, Verónica Brunati diz que está se "reencontrando" como mulher. As lembranças duras por esta nova passagem pelo Brasil ainda machucam, mas os filhos surgem como combustível para a cicatriz se fechar e a vida prosseguir sem o companheiro morto durante a Copa. A jornalista desembarcou anteontem (4) na capital argentina.

"Vivi uma dor que não conseguia se encontrar comigo mesma. Eu me sentia desamparada, porque planifiquei minha vida com um companheiro. Ficou um vazio muito grande. Estava só para ajudar os meus filhos, todos nós precisaríamos aprender a viver com o que aconteceu. Aos poucos, estou me reencontrando pessoalmente", assegurou.

O processo

Verónica posa com "Topo" López durante viagem do casal Imagem: Arquivo Pessoal

Verónica Brunati segue em busca de Justiça. A jornalista, sob orientação do advogado brasileiro Carlo Frederico Müller, processou Rodrigo Fonseca e Marcelo Cavalcanti, presentes no carro que atingiu o táxi de "Topo", e o Estado de São Paulo por negligência em todo o caso. Fonseca e Cavalcanti acabaram condenados e seguem presos por homicídio culposo.

Já a ação contra o Estado, aberta há dois anos segundo o advogado, está em fase de conhecimento. Carlo Frederico Müller cobra uma indenização de R$ 2,4 milhões por danos morais para Verónica e os dois filhos, além de R$ 2,8 milhões por danos materiais, que serviriam como uma pensão para as crianças.

"A cobrança de uma indenização do estado ocorre pela falta de segurança pública e do direito do cidadão, mesmo sendo estrangeiro. Foi uma negligência completa a prestação do serviço de segurança. Ocorreu imprudência dos Policiais Militares que perseguiam os criminosos e entendemos que isso levou fatalmente à morte do "Topo"", afirmou Müller ao UOL Esporte.

"A perseguição se alongou por muitos quilômetros. Sabemos que no mundo inteiro, depois de certo tempo, a polícia prefere deixar o criminoso fugir, porque a distração e o cansaço no volante geram acidentes maiores. O criminoso estava cercado, poderia ser preso depois com análise de semáforos ou câmeras de segurança. Foi um absurdo o que aconteceu", acrescentou o advogado que representa a jornalista argentina no Brasil.

Solidariedade de Messi e Guardiola

"Topo" López conheceu Messi em Barcelona e criou relação de amizade com o craque Imagem: Arquivo Pessoal

Jorge López era um dos repórteres mais respeitados e queridos da Argentina. Um dos membros da imprensa mais próximos a Lionel Messi, com quem conviveu entre 2000 e 2005 em Barcelona, "Topo" criou uma relação de amizade com o craque do Barça e com Pep Guardiola. Das duas grandes figuras, Verónica recebeu apoio durante os últimos anos.

"Tenho um carinho enorme com a família de Messi, que vai além do que se sucedeu. Não posso pedir mais do que fizeram. Com Guardiola e família, a relação é ainda mais fluída. Ele [Guardiola], Cristina e seus filhos me receberam este ano em Manchester; eu tive a chance de agradece-los pessoalmente", disse a jornalista argentina sobre o caso que comoveu o futebol do país.

Messi posa com os filhos de Topo López e Verónica Brunati Imagem: Reprodução/Instagram

"Foi um momento muito emotivo para mim, porque sua mulher e filhos me deram muito carinho. Sobre Messi e Guardiola, sou eternamente agradecida. Também tenho que falar de [Diego] "Cholo" Simeone e sua família; Fernando Redondo; família Messi; todo mundo da seleção, como o então técnico Alejandro Sabella. (...) Só tenho que agradecer a todo carinho que recebemos", encerrou.

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