Desafogo do elenco e valorização do Estadual: o Atlético-PR de Tiago Nunes

O Campeonato Paranaense de 2018 marca o início de uma nova etapa na gestão de futebol do Atlético. Desta vez o clube colocará em campo um time secundário, mas não apenas como forma de lançar seus jovens jogadores. O elenco de “aspirantes” se assemelha mais ao modelo dos times “B” europeus, como fazem Real Madrid e Barcelona, servindo como desafogo e transição para o time principal. E o comando da equipe será de Tiago Nunes, a partir do jogo deste sábado, 17h na Arena da Baixada, contra o Maringá.
Aos 37 anos, formado em preparação física, o gaúcho de Santa Maria chegou ao Atlético em 2017 para participar do projeto de formação de profissionais idealizado por Paulo Autuori, hoje no Fluminense. Já dirigiu o São Paulo-RS e o Veranópolis em competições profissionais. No Gauchão do ano passado levou o Veranópolis às quartas de final.
“É um momento importante pra mim, é uma competição de bom nível”, contou Tiago, “Eu vou representar o Atlético, mesmo com uma segunda equipe, mas com um time profissional. É um momento bom de projeção de carreira, mesmo já tendo experiência antes, por que o Atlético tem como características não só revelar atletas, mas também treinadores.” Ele já esteve no comando do time Sub-20 no Brasileiro da categoria em 2017.
A equipe será um apêndice do time de Fernando Diniz, servindo de ponte para a subida de jovens e recuperação e oportunidade para veteranos. “Principalmente por que o clube está valorizando mais essa competição, e principalmente criar um cenário em que os jogadores de mais idade possam colaborar com os mais jovens. Talvez a gente sofra um bocado com os princípios de jogo, entrosamento, questões que são particulares desse tipo de projeto. Quando você entra numa equipe B onde existe uma troca contínua da equipe principal para a B, acaba perdendo um pouco de entrosamento, que é um dos pontos fundamentais. Mas a esperança é grande, de fazer um time de bom nível”, projetou.
Formatação de modelo de jogo é palavra-chave
Tiago Nunes é um entusiasta da proposta de futebol do Atlético, que desde 2017 passou a falar publicamente em “protagonismo” nos jogos. Mais do que um rótulo, significa criar equipes e formar jogadores que possam atuar criando jogadas, de maneira a despertar o interesse dos torcedores e do mercado, especialmente o Europeu.
“Temos uma ideia muito disseminada aqui. A gente entende o jogo com uma exigência coletiva, mais atual. Talvez caminhando, logicamente, no que o futebol europeu preconiza. Em termos coletivos o futebol brasileiro está ainda atrás de outras escolas. E aí a gente cai num debate sobre o que tem que ser mais valorizado: a individualidade ou o coletivo. Naturalmente que a qualidade individual é o que mais chama a atenção do mercado europeu, por que o que eles não conseguem produzir genuinamente lá, vem buscar aqui, por mais que estejam formando muitos bons jogadores fora do país. Penso que a gente está no caminho do que o futebol de vanguarda está fazendo. Não que estejamos formando para o futebol europeu, mas sim para o desporto em geral.”
O trabalho no CT do Caju projeta esse padrão. “O jogo de posse, de aproximação, ele requer jogadores que tenham a capacidade de ocupar os espaços em tempo integral, de compreender matematicamente o jogo, sobre mobilidade... e são todos aspectos treináveis. Você pode evoluir individualmente na questão do trabalho analítico, dos passes, o trabalho orientado, que podem fazer o jogador evoluir individualmente. Mas a tomada de jogo coletivo é que é o grande problema, por que muitas vezes quem está operando isso (o treinador) não tem a noção de como fazer.”
Pedido aos torcedores é por paciência
“A maior dificuldade está em fazer com que o torcedor entenda e acredite nisso”, pondera Nunes, “É muito mais fácil formar um atleta mais qualificado nesse modelo de jogo, diferente de um atleta que só transita, só contra-ataca, e que a questão física é muito mais importante.” Os torcedores atleticanos cobraram muito os técnicos de 2017 (Paulo Autuori, Eduardo Baptista e Fabiano Soares) por que a equipe tinha mais posse de bola, mas não obtinha resultados. Historicamente, o clube sempre jogou em velocidade e no contra-ataque.
“A questão defensiva toma uma proporção maior que a ofensiva. A gente tem muito o que evoluir ainda, não só no Atlético, mas no futebol nacional. Mas estamos no caminho certo, o Atlético independente do adversário tenta propor o jogo. Eu tenho convicção que um dos pontos mais difíceis de construir no futebol são as organizações ofensivas, por que exige uma complexidade muito maior que defender”, disse Nunes.
O grande exemplo são as equipes comandadas pelo técnico Guardiola. Em uma entrevista recente, o meia Xavi – um dos ex-comandados do atual treinador do Manchester City nos tempos de Barcelona – criticou equipes que atribuem a falta de iniciativa no jogo ao elenco mais simples, mais barato. “Concordo com o raciocínio de que quando se enfrenta equipes maiores não tem como tentar propor o jogo, por que naturalmente enfrentamos equipes mais qualificadas e que acabam que te superando. Mas isso acontece quando também quando se enfrenta equipes menores e você não propõe o jogo. Você a hora que tem a oportunidade do protagonismo, acaba não fazendo. E isso vai muito da capacidade de organizar a produção ofensiva”, afirmou o técnico do Atlético-PR.
Nunes defende o modelo que o clube quer implementar. “Aqui no Atlético nós temos uma ideia muito clara do que queremos como proposta de jogo, a questão ofensiva. Lógico que os pormenores ficam nas particularidades de cada treinador. Mas o Paulo (Autuori), por exemplo, era um treinador que tinha muito clara essa ideia de protagonismo, de criar superioridade, e fazia muito bem, com um jogo mais posicional, sem tantas trocas, diferente por exemplo do Fernando (Diniz), que acredita muito nas trocas, na movimentação. Mas o intuito principal, no final das contas, é a busca pelo protagonismo. Não só a posse pela posse, mas a posse para desequilibrar o adversário. E isso está muito enraizado em todas as equipes do Atlético.”
Autonomia dentro da proposta do clube
Tiago Nunes garante que terá autonomia no comando da equipe: “A ideia do Diniz, como a ideia da formação, como a ideia da equipe que eu vou trabalhar é de ser protagonista nos jogos. A nossa categoria sendo uma extensão do trabalho dele a gente vai receber influencias das ideias dele. Mas ele mesmo me deixou muito à vontade para que eu colocasse em prática o que eu mais entenda de futebol. Em nenhum momento ele quer tirar o essencial de cada treinador, que é a capacidade de criar. É natural que eu esteja buscando captar o mais rápido possível as ideias dele, para implantar no nosso time, para que a gente tenha facilidade de transição entre as duas equipes. Mas eu tenho autonomia em escalação, questões estratégicas... e com uma relação muito próxima com o Diniz, com muita tranquilidade.”
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