Topo

Campeão pelo Botafogo, W. Goiano trilha carreira como advogado e revela calote do Fla

Wilson Goiano atuou pelo Botafogo por cinco anos e conquistou o Brasileiro de 1995 - Reprodução/Arquivo pessoal
Wilson Goiano atuou pelo Botafogo por cinco anos e conquistou o Brasileiro de 1995 Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Pedro Ponzoni

No Rio de Janeiro

11/07/2011 12h01

Wilson Goiano iniciou sua carreira no Goiás, mas ficou conhecido nacionalmente após uma passagem vitoriosa pelo Botafogo. No Rio de Janeiro, em cinco anos, conquistou entre outros títulos o Campeonato Brasileiro de 1995 e o Torneio Rio-São Paulo de 1998. O ex-jogador, hoje com 41 anos, trabalha como advogado e pretende seguir carreira na área como juiz ou no ministério público.  No momento, ele se prepara para concursos públicos e relembrou com carinho de sua carreira.

  • Reprodução/Arquivo pessoal

    Wilson Goiano atuou por oito clubes na carreira, mas acabou se identificando com Goiás e Botafogo

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o ex-lateral-direito, entre outros assuntos, relembrou uma história no mínimo curiosa. Antes de se apresentar ao Botafogo, clube que defendeu durante cinco anos, ele quase foi parar no Flamengo. Wilson disse que chegou a treinar na Gávea por quase uma semana e quando estava prestes a estrear, precisou retornar para Goiânia porque os dirigentes rubro-negros tinham passado um cheque sem fundo para seu ex-clube.

“Minha chegada ao Botafogo foi conturbada. Cheguei a treinar pelo Flamengo, mas alguns fatores impediram que eu continuasse por lá”, revelou.

Nessa conversa, Wilson também conta da falta de estrutura encontrada no Botafogo e revelou que guarda mágoa por algumas pessoas que trabalharam no clube porque até hoje ainda cobra uma dívida do alvinegro carioca.

Confira a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: O que você fez após encerrar sua carreira como jogador de futebol?

Wilson: Eu estudei e me formei como advogado. No momento, estou me preparando para passar em algum concurso público. Quero seguir carreira na magistratura ou no ministério público. Porém, como um dos pré-requisitos é estar advogando por pelo menos três anos, vou fazer as provas no segundo semestre do ano que vem.

UOL Esporte: O fato de você ter sido jogador de futebol abriu portas para você?

Wilson: Sem dúvida. O futebol abre portas que você nem imagina. Caso a pessoa queira trabalhar em qualquer área a chance de ter sucesso é grande.

UOL Esporte: Você sempre planejou estudar após parar com o futebol?

Wilson: Sempre tive essa vontade, porém, tive que parar quando tive minha primeira oportunidade no Goiás. Na época tinha 16 anos e recebi um bom dinheiro de “bicho” (prêmio por vitória). Minha mãe me deu todo o apoio para eu seguir meu sonho.

UOL Esporte: Em sua carreira, você passou por apenas oito clubes. Com algum deles você tem mais identificação?

Wilson: É difícil apontar um. Com certeza os clubes que mais marcaram minha carreira foram o Goiás e o Botafogo. O Goiás foi o começo de tudo e atuei por dez anos nesse clube. Já o Botafogo, foi o clube que me deu projeção nacional e eu sempre sou lembrado pelo fato de eu ter jogado lá. A identificação que eu tive era grande e eu coloquei na minha cabeça que não atuaria pelos rivais desses clubes. Achava que só poderia atuar em um clube por estado. E eu tive propostas. Em Goiás, recebi convite para atuar pelo Vila Nova e pelo Atlético-GO. No Rio, o Vasco e o Fluminense me procuraram.

Saiba mais sobre Wilson Goiano

Data e local de nascimento: 9/11/1969, em Trindade (GO)
Clubes na carreira: Goiás, América-MG, Botafogo, Inter de Limeira-SP, Coritiba, Rio Branco-SP, Matonense-SP e Gama
Principais títulos: Campeonato Goiano (1986, 1987, 1989, 1990 e 1991), Campeonato Brasileiro (1995), Troféu Teresa Herrera (1996), Campeonato Carioca (1997), Torneio Rio-São Paulo (1998) e Campeonato Paranaense (1999)

UOL Esporte: Como foi a sua chegada ao Botafogo após dez anos atuando pelo Goiás?

Wilson: Minha chegada ao Botafogo foi conturbada. Era para eu jogar pelo Flamengo e eu cheguei a me apresentar na Gávea. Na época, o Jornal dos Sports chegou a estampar em sua capa: "Flamengo contrata lateral desconhecido". Porém, alguns fatores impediram que eu continuasse por lá.

UOL Esporte: O que acabou acontecendo?

Wilson: Eu cheguei a treinar uma semana pelo Flamengo e minha estreia seria contra o Sport. No entanto, na sexta-feira o Isaías Tinoco (supervisor), Paulo Angioni (gerente de futebol) e o Edmundo Santos Silva (departamento financeiro) disseram que o Goiás estaria atrapalhando minha regularização. Na mesma hora liguei para o diretor de futebol (Raimundo Queiroz) e ele disse que não teria negócio com o Flamengo porque eles tinham passado um cheque sem fundo. Além disso, falou para eu retornar para Goiânia no mesmo dia. Cheguei sábado em Goiânia e na segunda estava me apresentando ao Botafogo. Isso acabou irritando os dirigentes do Flamengo porque eles entenderam que foram atropelados na negociação, assim como tinha ocorrido com o Carlos Alberto Dias anteriormente.

UOL Esporte: Você acha que o acerto com o Túlio facilitou para você ser contratado pelo Botafogo?

Wilson: Com certeza. O Carlos Augusto Montenegro (presidente) foi esperto porque quando assistiu os gols do Túlio percebeu que em vários lances eu dei a assistência. O Montenegro se interessou por mim e acabou acertando esse “pacote.”

UOL Esporte: Como era a estrutura de trabalho do Botafogo? Na época, os jogadores só treinavam em Caio Martins, correto?

Wilson: Exatamente. Para falar a verdade eu me assustei quando cheguei ao Botafogo. Eu vinha do Goiás que era um clube organizado. Fiquei chocado. Era uma verdadeira várzea. Faltava bola para treinarmos, por exemplo, e os salários atrasavam com frequência. Nossa pré-temporada antes do Brasileiro de 95 foi atrás de um dos gols de Caio Martins para você ter uma ideia.

UOL Esporte: Como explicar que mesmo sem estrutura o grupo tenha conseguido ser vencedor dentro das quatro linhas?

Wilson: O grupo se fechou porque vários jogadores que chegaram precisavam de projeção. Nosso vestiário era um puxadinho e não tínhamos sala de musculação ou um departamento médico. O trabalho regenerativo era um trabalho leve no campo e contávamos com a boa vontade do doutor Lídio Toledo.  Acho que todo o grupo merece uma estátua porque nos superamos e atingimos um feito histórico.

UOL Esporte: Após um período vitorioso no Botafogo por que você deixou o clube? Achou que seu ciclo tinha acabado?

Wilson: Acho que é por aí mesmo. Após cinco anos de clube já tinha conquistado tudo e mesmo com uma proposta para renovar optei por sair. Só fiquei um pouco chateado porque precisei entrar na Justiça para ir atrás dos meus direitos.

UOL Esporte: Você ficou magoado com o Botafogo?

Wilson: Do Botafogo instituição jamais. Se hoje eu sou conhecido eu devo ao Botafogo. Só fiquei um pouco magoado com algumas pessoas. Eu cobrei meus direitos e me mandaram procurar a Justiça. É complicado porque sempre honrei meus compromissos. Após 12 anos ainda não recebi o que mereço. Não sei quanto seria o valor que me devem, mas o valor é alto.

UOL Esporte: Você se destaca da maioria dos ex-jogadores porque se planejou e vem conseguindo trilhar uma carreira após pendurar as chuteiras. Por que você acha que muitos ex-atletas passam por dificuldade quando se aposentam?

Wilson: Nesse meio as coisas mudam de uma hora para outra. Uma pessoa que não tinha nada começa a aparecer na mídia com frequência. Mulheres que mal olhavam para você começam a te achar bonito e artistas passam a aparecer com o jogador em lugares públicos. Muitos jogadores não têm noção que aquilo vai acabar um dia. O complicado é que quando alguém fala sobre isso eles consideram a pessoa chata. Por outro lado, consideram que o grande parceiro é aquele puxa-saco.

UOL Esporte: Você pretende auxiliar na carreira de alguns atletas? Tem planos para trabalhar novamente no futebol?

Wilson: Seria uma mudança radical para mim. Somente trabalharia no futebol se fosse para dar uma assessoria jurídica aos jogadores.