Aos olhos do mundo e do VAR, Neymar é o vilão perfeito
Mauricio Stycer
Mauricio Stycer
https://noticias.uol.com.br/colunas/mauricio-stycer/Jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 29 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o "Lance!" e a "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Adeus, Controle Remoto" (editora Arquipélago, 2016), "História do Lance! ? Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo? (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011). Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Colunista do UOL
03/07/2018 15h15
É significativo que a principal novidade da Copa na Rússia, até agora, não seja uma seleção, um jogador ou um esquema tático, mas o VAR. O chamado árbitro de vídeo vende a promessa (ilusória, é claro) do futebol limpo, purificado, sem erros de arbitragem. E ajuda a Fifa a tentar convencer o mundo de que deixou para trás a sujeira da corrupção, dos contratos escusos e das negociatas.
Se vai funcionar, não sei. Mas está claro que já fez vítimas. E a primeira delas foi justamente um brasileiro, o maior jogador do país. O “gesto artístico” de Neymar, como definiu muito bem Galvão Bueno, na segunda partida da seleção, contra a Costa Rica, se tornou o maior troféu que a Fifa poderia desejar nesta sua campanha de marketing.
Por seu histórico de simulações na Espanha e na França, Neymar já tinha o seu rosto estampado em imaginários cartazes de “procura-se”, pendurados nos vestiários de árbitros de futebol. A anulação do pênalti marcado, após consulta ao vídeo, foi o "flagrante" que faltava. Ao dobrar o corpo, levantar os braços e cair lentamente na área da Costa Rica, se tornou o exemplo mais visível do que o VAR pode capturar.
Neymar apanha muito e sempre. Com o tempo, passou a usar a dramatização exagerada como uma espécie de arma de contra-ataque – uma tentativa de convencer os árbitros da necessidade de punir os seus agressores.
Mas o jogador não atinou para os impactos do VAR em meio a uma Copa do Mundo e, ao invés de evitar os “gestos artísticos”, ao contrário, elevou o tom da representação. Já rolou dramaticamente em campo três vezes, fora as caretas, reclamações e xingamentos que distribuiu nos quatros jogos do Brasil.
Aos olhos do mundo, Neymar virou o vilão perfeito, a encarnação viva da trapaça. Lógico que ele não é o primeiro nem o único a simular faltas ou exagerar dor ao ser atingido por zagueiros truculentos. Mas errou o timing. E timing é tudo. A antipatia que já existia contra o jogador cresceu de forma exponencial.
É natural que, em tempos de Copa do Mundo, as críticas ao jogador sejam vistas no Brasil como uma campanha contra o país e a seleção. E que os torcedores brasileiros tenham a tendência a defender o seu maior craque.
Não enxergo, porém, campanha alguma. Foram as circunstâncias que colocaram Neymar no centro da tela do VAR. Acho que, independentemente do resultado final, com o Brasil campeão ou não, Neymar perdeu a guerra de imagem. E perdeu justamente para uma tecnologia baseada em vídeo.