Opinião

Será que Sean Strickland está preparado para ser um grande ídolo no UFC?

Por anos, Sean Strickland foi um lutador, digamos, coadjuvante no UFC. Sempre agressivo e capaz de apresentar grandes shows, ele figurou no top 15 da divisão dos rankings, mas nunca foi visto como um possível campeão entre os pesos-médios (84 kg). No entanto, após uma temporada perfeita em 2023, ele quebrou a banca ao vencer Israel Adesanya e se tornar o dono do cinturão.

O curioso é que tudo isso foi muito rápido, tanto dentro quanto fora do octógono. Ao encerrar o ano de 2022 com duas derrotas seguidas, Strickland começou a temporada seguinte assumindo o posto que era pertinente ao seu momento. Ou seja, ele aceitou lutas em cima da hora, "tapou buracos" em cards e agradou aos promotores do show. Assim, conquistou a chance de encarar Adesanya, substituindo o lesionado Dricus du Plessis.

Fora do cage, a velocidade com que sua popularidade crescia também impressiona. Em 2022, Strickland teve perfis em redes sociais bloqueados devido aos seus posts polêmicos e controversos. Um ano depois, ele passou a ter contas verificadas, viu seu número de seguidores aumentar em quase dez vezes e chegar a 1,4 milhão apenas no Instagram.

Agora famoso, o campeão é constantemente abordado nas ruas para dar autógrafos e tirar fotos, e imagino que ele já tenha percebido que suas frases e atitudes reverberam muito mais do que antes. Se antes ele atirava pedras no telhado dos rivais, agora ele é a vidraça.

No mês passado, ao ver o rival Du Plessis cruzar a linha e ironizar o abuso físico e psicológico que ele sofreu quando criança, Strickland perdeu a linha. Primeiro, na hora da encarada, quando precisou ser contido por seguranças, e depois nos bastidores do UFC 296, quando agrediu o rival na frente de milhares de pessoas.

E isso foi apenas o começo. Uma semana depois, durante participação em um podcast, o lutador foi às lágrimas ao relembrar sua infância conturbada enquanto explicava o motivo de ter atacado o sul-africano. Agora, nas primeiras semanas do ano, Sean já virou manchete em duas oportunidades.

Primeiro ao afirmar que esfaquearia o oponente caso ele voltasse a falar de sua infância. Agora, na semana da luta, Dricus revelou uma mensagem clara de ameaça de morte do americano como aviso para que ele pensasse diversas vezes antes de voltar a ironizar seus traumas.

"Se eu falasse sobre a questão da infância dele de novo, ele disse: 'Eu vou matar você e arruinar a sua vida e a minha antes mesmo de entrarmos no octógono'", afirmou Dricus durante coletiva de imprensa em Toronto, no Canadá, palco do evento que terá justamente o duelo entre eles como luta principal da noite.

É claro que tal postura vai gerar engajamento e, possivelmente, ajudará a vender pay-per-views do evento. No entanto, a falta de controle de suas emoções pode colocar em xeque seu futuro como campeão em jogo. Afinal, quanto mais vencer e maior destaque tiver daqui para frente, ele será um alvo ainda maior.

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Como consequência, tudo o que foi dito e publicado no passado pode e será usado contra ele. Você lembra dos comentários apontados como machistas e transfóbicos que fizeram com que algumas de suas contas em redes sociais fossem apagadas? Nesta semana, o assunto foi relembrado por um jornalista na coletiva de imprensa, o que irritou o atleta a ponto de ele ofender o repórter.

Quando combinamos a intensidade com que ele reage quando incomodado à ausência de filtros em suas declarações e ao crescimento exponencial de sua visibilidade, Strickland pode ter se tornado uma bomba-relógio. Espero estar enganado.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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