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Ela foi demitida por vídeo e com bebê no colo; hoje muda isso nas empresas

Mariana Ventura, da Pomar Imagem: Paola Viana

Luiza Souto

Colaboração para Ecoa

04/09/2023 06h11

Um a cada 5 brasileiros sofre com a síndrome do burnout, esgotamento emocional causado pelo excesso de trabalho, segundo uma pesquisa da Gattaz Health & Results junto ao Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq - USP).

Mariana Ventura, de 39 anos, entrou para essa estatística após ter sido demitida no retorno de seu período de licença-maternidade. E foi a partir desta experiência que ela resolveu criar uma empresa que ensina líderes a proporcionar a felicidade no trabalho. Isso é feito por meio de tarefas como meditação, plantio e palhaçaria.

Paraibana de João Pessoa, quando tinha 21 anos, Mariana trancou a faculdade de publicidade para estudar inglês no Canadá, onde morou por um ano. Casou-se, foi trabalhar com marketing na Califórnia, nos Estados Unidos, e ainda passou pelo Oriente Médio até decidir voltar para São Paulo, em 2010.

As pessoas estão adoecidas, e isso realmente virou uma preocupação, porque está se refletindo na produtividade.

Mariana Ventura, idealizadora da Pomar

No Brasil, escolheu se formar em design de interiores, mas seguiu atuando na área de marketing, passando por grandes empresas, como Facebook e Netflix.

Foi pouco antes da pandemia de covid-19 que ela ouviu falar sobre o burnout, porque a síndrome estava afetando seus amigos de trabalho.

"Estávamos em um ambiente de alta performance, numa empresa grande, e isso gerava competitividade e ansiedade", descreve ela.

E, no meio desse cenário, quando Mariana teve seu primeiro filho, hoje com 4 anos, ela foi dispensada do trabalho por chamada de vídeo.

Fui demitida com meu filho no colo. A diretora falou que não precisava mais dos meus serviços. Foi muito objetiva.

Mariana Ventura, idealizadora da Pomar

Como ser feliz no trabalho?

Demitida, ela conta que chegou a procurar estudos sobre felicidade no trabalho, mas logo se reposicionou no mercado e passou a trabalhar como executiva numa produtora holandesa. Mesmo trabalhando em casa, Mariana tinha pelo menos 15 reuniões por dia.

Atividade da empresa Pomar Imagem: Paola Viana

"Comecei a ter algumas crises de ansiedade, a tremer e a suar. Acabei com o diagnóstico de burnout."

Mariana, então, pediu demissão e se dedicou mais aos estudos de meios para ser feliz no trabalho.

Viajou para a Dinamarca para aprender design de experiências, e conheceu os modelos 5E e PERMA, programas que promovem relações e sensações positivas por meio de atividades que nos fazem pensar e resolver problemas.

Foi assim que nasceu a Pomar, em 2021, nome inspirado numa área frutífera atrás de sua casa, em Cotia, na Grande São Paulo.

Astrólogos e psicólogos

O público que busca a empresa criada por Mariana para ajudar a melhorar a qualidade de vida no trabalho é, em sua maioria, líderes de empresas. No primeiro contato, ela tenta entender os problemas que o grupo está atravessando junto a suas equipes, e monta um programa específico.

Pergunto sempre a dor da equipe, se ela é muito competitiva, se não se escuta. Depois, trago um time de talentos, como astrólogo, psicanalista que é também palhaça, ceramista, neurocientista e, juntos, criamos experiências que vão trabalhar essas emoções.

Mariana Ventura, idealizadora da Pomar

Entre os ensinamentos, ela detalha, está a segurança psicológica. O objetivo é ensinar o funcionário a se expressar sem temer julgamentos. "Esse é dos problemas que mais escuto."

O programa pode durar um dia ou semanas, dentro ou fora da Pomar. Até a comida, feita por uma chef vegana, ela proporciona.

No total, são 12 funcionários cuidando dessa logística, além dos parceiros, o número pode chegar a 30 pessoas envolvidas em cada experiência.

Mais respeito nas equipes

A psicóloga Raquel Cardoso da Silva, 42 anos, é diretora de pessoas e facilities na Gerdau Brasil e levou para a Pomar 15 profissionais da área de recursos humanos para passar dois dias. Eles fizeram relaxamento, discutiram sobre suas rotinas, falaram de suas carreiras em meio a atividades de improvisação, pintura, meditação e jantar.

O que mais mudou na equipe é que a gente conseguiu respeitar mais a identidade de cada um.

Raquel Cardoso da Silva, psicóloga

Daniela Noyori, 44 anos, jornalista e membro da Pomar, reforça a importância de conhecer as pessoas "além do CNPJ" para se ter um ambiente mais produtivo.

Mas ela, que levou cerca de 20 funcionários da área de Ad Sales (responsável pela venda de espaços publicitários) da Meta para a Pomar, vê que ainda falta muito empenho de gestores para promover um ambiente saudável.

Ainda seguimos muitas cartilhas, realizamos sessões em que não há troca, indicamos links para que os funcionários leiam e oferecemos programas de plano de saúde por e-mail.

Daniela Noyori, jornalista

Para o futuro, Mariana Ventura quer que a Pomar atue também com cursos de capacitação dos métodos aplicados na empresa. Além disso, ela se prepara para um MBA em ESG, sigla americana que, em português, significa boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.

"A gente está agora numa fase de remediar o que aconteceu depois de uma pandemia, quando muitas pessoas tiveram esgotamento e crises de ansiedade. Precisamos de mais programas para prevenir com que isso aconteça", conclui.

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