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Larissa Manoela: o que é macumba e quando se comete intolerância religiosa?

Macumba, de forma geral, é um instrumento de percussão de origem africana e próximo ao reco-reco Imagem: Evelson de Freitas/BOL

De Ecoa, em São Paulo (SP)

23/08/2023 11h36Atualizada em 23/08/2023 12h26

A confusão na família de Larissa Manoela ganhou contornos mais graves com a mensagem revelada pela coluna de Lucas Pasin no UOL, em que a mãe da atriz e cantora se refere à família do noivo da filha como "macumbeiros". Silvana Taques será alvo de uma investigação policial após a exposição da mensagem.

Termos como macumba e macumbeiro são usados, neste contexto, de forma pejorativa. Mas eles também nomeiam cultos religiosos de matriz africana e são ressignificados por praticantes como forma de afirmação. Entenda abaixo:

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O que é macumba, qual a origem e como se usa o termo?

Macumba, de forma geral, é um instrumento de percussão de origem africana e próximo ao reco-reco.

A palavra, no entanto, também acaba sendo usada em tom pejorativo para se referir tanto às oferendas e a entidades religiosas de matrizes africanas, quanto às próprias religiões e seus praticantes (chamados pejorativamente de macumbeiros).

O termo macumba se generalizou por vários motivos. A relação com o instrumento é o menos relevante. De fato, havia um culto com esse nome e alguns pesquisadores defendem que as 'macumbas cariocas' foram tão populares a ponto de denominar todos os cultos de matriz africana por um bom tempo
Rodney William Eugenio, babalorixá, antropólogo, doutor em ciências sociais (PUC-SP) e autor da obra 'Palavras de Axé e Apropriação Cultural'

'Todo brasileiro tem mais de candomblé do que ele pensa que tem.', Rodney William Imagem: Divulgação

Qual a relação do termo macumba com racismo?

A marginalização das manifestações do povo negro torna pejorativo todos os elementos relacionados a essa cultura — da religião ao samba, da capoeira aos bailes funks — e tem relação com o racismo, segundo Rodney William.

Na verdade, o uso da designação macumba ou macumbeiro entre os adeptos das tradições afro-brasileiras sempre foi normal. Havia, entretanto, uma regra: só um macumbeiro poderia chamar outro macumbeiro de macumbeiro. Ao assumir essa identidade, acreditamos que estamos fortalecendo nosso território de resistência
Rodney William

Se quem pretende nos ofender usa a palavra como xingamento é porque atribui a ela o mesmo teor negativo que a palavra negro já teve. Tudo tem sido ressignificado e hoje o povo de terreiro diz com orgulho que é macumbeiro, da mesma forma que o pertencimento à raça negra tem sido exaltado
Rodney William

A demonização de entidades também diz respeito a uma síntese do racismo brasileiro, diz o antropólogo e sacerdote de religião de matriz africana.

Não podemos perder de vista que Exu foi demonizado, mas essa demonização é uma síntese da demonização do povo e da cultura negra. O negro passou por um processo de exclusão e marginalização que o colocaram muito próximo daquilo que aconteceu com Exu
Rodney William

Qual a forma correta de se referir aos cultos de matrizes africanas?

Apesar da ressignificação da palavra macumba/macumbeiro, Rodney William alerta que essa não é a forma correta de se referir aos cultos de matrizes de africanas. Para se referir às práticas religiosas, é possível usar termos como candomblecista e umbandista.

A palavra foi e ainda é usada como xingamento e a depender do tom e do contexto se enquadra entre as principais práticas do racismo e da intolerância religiosa. E a palavra só se tornou ofensiva porque tudo que está relacionado ao negro foi desqualificado em nossa sociedade
Rodney William

Samba era coisa de vagabundo, capoeira era coisa de marginal, e macumba [era coisa] de gente ignorante e mal-intencionada. As pessoas devem se referir ao candomblé, à umbanda e a quaisquer outros cultos de matriz africana ou afro-indígena da mesma forma que se referem às demais religiões: com respeito. A palavra macumba já foi ressignificada entre nós, mas é melhor que seu uso para se referir às religiões e tradições de matrizes africanas fique restrito aos adeptos
Rodney William

O antropólogo ainda enxerga como saída a educação na base curricular para que preconceitos do tipo deixem de ser reproduzidos. "É preciso mexer nas escolas e na educação para que se atinjam as famílias e deixemos de reproduzir velhos modelos de discriminação, que obviamente tem a ver com a condição do negro na sociedade brasileira", afirma. O Brasil tem, desde 2003, uma lei que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio.

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