Empresa de condomínios cria laboratório verde com ações sustentáveis
Maiara Marinho
Colaboração para Ecoa, em São Paulo
21/04/2022 06h00
Áreas verdes são importantes na regulação do "microclima" de centros urbanos, e a troca dessa cobertura pelo concreto e o asfalto contribui para aumentar as temperaturas e as chances de ocorrerem enchentes, já que promovem a impermeabilização do solo. A fim de diminuir os impactos causados pelo adensamento da cidade de São Paulo, cada vez mais quente, cinza e cheia de prédios, uma empresa de condomínios criou um laboratório verde para levar soluções sustentáveis para o dia a dia dos moradores.
"O uso racional dos nossos recursos é algo que eu venho calcando desde que cheguei aqui, há 18 anos. Mas a gente vê de uns cinco anos para cá que isso está cada vez mais na berlinda", comenta a engenheira civil Raquel Tomasini, gerente de produtos e parcerias da administradora de condomínios Lello.
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Há alguns nos, Raquel observou uma iniciativa de síndicos, que procuravam soluções sustentáveis por conta própria. "Mas era difícil, porque cada condomínio tem a sua especificidade, a sua estrutura, suporte e adequação técnica", relembra. Ela resolveu, então, arregaçar as mangas e buscar saídas que funcionassem para o maior número possível de moradores.
Sua primeira ação foi a coleta seletiva. O projeto, em parceria com o Instituto Muda — empresa que faz gestão de resíduos para condomínios em São Paulo —, procurou resolver o problema da separação do lixo nos prédios. Além disso, os resíduos transformados em matéria-prima eram revertidos em receita para catadores e associações do entorno.
Segundo Raquel, outras pequenas, mas importantes atitudes foram acolhidas ao longo do tempo, como trocas por lâmpadas de menor consumo e demais substituições e cuidados para ter um uso racional de água e energia. Com isso, foi possível ajudar o meio ambiente e reduzir a conta no final do mês.
Em 2017, com essas ações e debates em andamento, a diretora de marketing da administradora, Angélica Arbex, fundou o Lellolab para reunir essas e outras iniciativas futuras. O objetivo, segundo ela, era elaborar metodologias que ajudassem a compreender as especificidades de cada condomínio e bairro, bem como aprimorar os processos. "Trabalho há 24 anos com a vida vertical nos condomínios e sou uma entusiasta da vida melhor na cidade", diz.
Ações do laboratório
Em 2018, o laboratório intensificou os trabalhos. O projeto Tesouros do Bairro, com caráter de economia circular, é responsável por criar uma rede de empreendedores de diferentes áreas presentes na região dos condomínios. Dessa maneira, fortalece os laços comunitários e valoriza a economia local.
Além deste, a horta urbana e a coleta seletiva nos prédios têm um perfil mais pedagógico, pois são estratégias construídas a médio prazo, com diálogo e traçando um perfil de comportamento em cada condomínio. "O lixo em condomínio é água mole em pedra dura — você precisa falar, no mês seguinte tem que colocar aviso no elevador, colocar vídeo na assembleia", explica Angélica, destacando que a persistência é fundamental.
Segundo ela, os projetos geralmente são elaborados e colocados em prática através de colaborações com startups especializadas, como é o caso do uso do Piipee, "um produto para borrifar no vaso sanitário sem precisar acionar a descarga quando você fizer xixi e tem a calculadora de quanto você economiza de água". Angélica conta que o Lellolab distribuiu o produto para mais de 50 mil pessoas no primeiro uso, "para conviverem com essa solução e depois virarem promotoras dela".
A startup foi uma das beneficiadas pelo programa de aceleração que o Lellolab mantém desde 2021 para empresas que promovem inovação e sustentabilidade. Além de receberem mentoria, algumas delas têm seus produtos ou serviços oferecidos para os condomínios atendidos.
Tecendo relações de confiança
Além disso, a própria Lello procura dar o exemplo na adoção de práticas sustentáveis. A empresa adota a política de papel zero e só envia boletos, multas e avisos de forma digital. "A adesão para essa nova vida não é orgânica", comenta Angélica. Apesar disso, "quando você começa a tecer relações de confiança com aquela comunidade, é muito incrível a participação das pessoas".
Com mais de três mil prédios, cerca de 50 condomínios abraçaram a ideia nesses quatro anos de laboratório. Mas a expectativa é alcançar 150 até o final deste ano. "Temos cerca de mil condomínios participando das lives e dos simpósios de ações macro, então há potencial", conta ela. Uma dessas "ações macro" foi o fórum de sustentabilidade realizado no ano passado, que convidou especialistas para falar sobre temas como energia renovável e economia de recursos naturais.
Além disso, o trabalho do laboratório tem uma preocupação com a valorização do bairro e o bem-estar dos moradores, e pensa em soluções que sempre tenham potencial de se converter em consciência sustentável. Por sua experiência com vida vertical e fortalecimento de laços comunitários, Angélica assegura: "existe amor em São Paulo, sim".