Por um mundo melhor

Quem ajudou a construir um mundo melhor em 2021? Ecoa listou 8 nomes que "causaram" o bem neste ano

Marcos Candido De Ecoa, em São Paulo Fernando Morais/UOL

O ano de 2021 se aproxima do fim sob a esperança de que a pandemia da covid-19 acabe, ainda lamentando mais de 600 mil brasileiros que perderam suas vidas, milhões de desempregados e em insegurança alimentar. Mas há muita gente no meio da turbulência buscando uma maneira para melhorar a vida do próximo a partir de muito trabalho coletivo, iniciativas e narrativas inspiradoras.

Para homenagear quem fez a diferença nesse ano, Ecoa listou algumas das pessoas que "causaram" ao sacudir as estruturas de seus territórios para inspirar, incentivar e lutar para um futuro melhor em que haja mais justiça social, sustentabilidade ambiental e cidadania para todos.

Txai Suruí

Paul ELLIS / AFP

Justiça para nós

Estou aqui [na COP] para trazer a mensagem de que não existe justiça climática sem justiça social para os povos indígenas. E que continuaremos resistindo independentemente dos resultados que saírem daqui

Txai Suruí, coordenadora do Movimento da Juventude Indígena

Walela Txai Suruí é filha do cacique Almir Suruí, liderança do povo Suruí, e da ativista Neidinha Suruí, responsável pela Kanindé - Associação de Defesa Etnoambiental. É estudante de direito na Universidade Federal de Rondônia, tem 24 anos e usa as redes para denunciar os ataques aos povos originários de Rondônia, bem como os impactos climáticos que atingem diretamente os modos de vida indígenas. Na Conferência das Nações sobre as Mudanças Climáticas (COP) em 2021, chamou atenção para a vida e a importância dos povos originários no planeta — e foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e atacada por seus aliados nas redes.

Ler mais

Carmen Silva

Fernando Moraes/UOL

Morar é direito

A moradia é um direito básico, assim como a educação, a alimentação, a acessibilidade. Estamos falando de uma capital que tem 190 mil imóveis desocupados, entre prédios, casas, terrenos, galpões, e uma população de quase 400 mil pessoas sem ter onde morar

Carmen Silva, líder do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC)

Carmen Silva é professora de urbanismo no Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), líder do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro) e, agora, vencedora do 1º Prêmio Ecoa na categoria Causadores por sua luta pelo direito à moradia digna para famílias na região central da cidade de São Paulo. Seu movimento coordena cinco ocupações, sendo a maior delas a 9 de Julho, que abriga mais de 120 famílias. "Quando nós ocupamos prédios vazios, abandonados, nós ocupamos porque estamos cansados de ver a hipocrisia da falta efetiva de políticas públicas", diz.

Ler mais

Família Schurmann

Divulgação/Família Schurmann

Navegando pelo oceano

Quando paramos o barco, você não podia imaginar a quantidade de lixo que encontramos em uma praia de apenas 150 metros. Enchemos um inflável inteiro só com plástico para ser compactado no nosso barco

Vilfredo Schurmann, capitão da Família Schurmann

A primeira família brasileira a navegar num veleiro ao redor do mundo em 1984 repetiu a missão em 2021. Desta vez, com objetivo de liderar um movimento mundial de combate à poluição plástica nos oceanos. Estima-se que 11 milhões de toneladas de plástico cheguem aos oceanos todo ano - número que deve saltar para 29 milhões de toneladas até 2040. Os Schurmann saíram do Brasil em direção às ilhas do Caribe, a costa atlântica dos Estados Unidos e o arquipélago das Bermudas, de onde retornarão ao Caribe para cruzar o canal do Panamá até Galápagos. Em seguida, pelo sul do Oceano Pacífico, partem para a Polinésia para finalmente, em 2023, encerrar a expedição na Nova Zelândia. Ufa!

Ler mais

Daniel Munduruku

Divulgação

Bem viver

Não há nenhuma necessidade de se acumular bens porque o que importa para o indígena é o bem viver, é como ele vai viver a vida, em sintonia e harmonia com todos os outros seres. Para o indígena, trabalhar não é uma escravidão. Trabalhar não tem nada a ver com o tempo que vou produzir

Daniel Munduruku, escritor

Autor de mais de 50 livros publicados no Brasil e no exterior, Daniel é um dos nomes mais importantes da literatura indígena no país. Doutor em educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em linguística pela Universidade Federal de São Carlos, o escritor compartilha saberes tradicionais e nos ajuda a repensar o tempo e o trabalho na busca pelo bem viver. Em 2021, mais de 110 escritores assinaram uma carta pedindo que Daniel fosse reconhecido como imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL). Seria o primeiro autor indígena da instituição centenária. O clamor foi ignorado pelos membros da ABL, mas Daniel deixou registrada a importância de sua obra na história brasileira e o perfil branco da elite literária.

Ler mais

Tamara Klink

Arquivo pessoal

Cruzei o mar

Eu parti com uma dúvida se seria capaz de velejar sozinha, e cheguei com a certeza de que era capaz

Tamara Klink, navegadora

Em novembro, a velejadora Tamara Klink, 24, chegou no Recife a bordo do pequeno barco Sardinha, após atravessar sozinha o Atlântico. O objetivo dessa viagem foi estimular outras pessoas, especialmente as mulheres, a buscarem seu sonho e testarem seus limites. "Adoraria servir de inspiração para elas, assim como outras mulheres também serviram de inspiração para mim", diz. A viagem também inspira a escrita de um livro de poemas e, claro, palestras sobre educação ambiental para crianças e adolescentes sobre cuidado com o futuro dos nossos oceanos e da vida no planeta.

Ler mais

Em memória: Toni Edson

Amanda Bambu/UOL

O mestre

As pessoas dizem que, se não tem registro escrito, se perde. Aí eu penso que, poxa, algumas das histórias que eu conto têm mais de 700 anos. Eu não li nenhuma delas, todas foram passadas para mim pela contação falada. Com elas, eu construí meu caminho na literatura, fiz canções e poemas... Mergulhado na oralidade entendi que muita coisa fica registrada em nós de forma muito latente e não vai embora.

Toni Edson (1979 - 2021), ator, dramaturgo, cantor, professor, contador de história

Toni Edson foi um professor, ator, cantor, dramaturgo, poeta, pai, amigo e, como gostava de dizer, um contador de histórias. Tornou-se mestre em literatura brasileira pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e doutor em artes cênicas pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), depois foi professor na UFSC. Como bom contador, era habilidoso em ensinar e criar canções, o que parecia fazer com extrema facilidade. Neste ano, indicou histórias, pessoas e ideias para a equipe de reportagem de Ecoa como curador de conteúdo. Em dezembro, morreu vítima de um enfarte. Deixou filhos, saudades, contos, músicas e centenas de alunos que lhe conheceram no teatro de rua, na universidade, na vida.

Ler mais

João Diamante

Lucas Seixas/UOL

Mãos à obra

Hoje eu nem me vejo como chef, me considero alguém que usa a gastronomia para ajudar a mudar e a dar oportunidade a uma parcela da população.

João Diamante, chef de cozinha e ativista social

João Augusto Santos Batista - o João Diamante - liderou uma das cozinhas da delegação espanhola nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, foi chefe do restaurante no Museu do Amanhã e de uma cozinha intinerante e reconhecida. Estudou gastronomia em Paris e não quis ficar por lá. Diamante voltou para o Rio de Janeiro, e deu o pontapé no projeto Diamantes na Cozinha, no qual ensina gastronomia no Complexo do Alemão. "A gastronomia é a melhor ferramenta de transformação e inserção social: eu consigo falar de cultura, história, arte, educação, até gênero. Além de saúde e nutrição. É um meio de dar acesso e abrir oportunidade", diz.

Ler mais

Christiane Torloni

Marcelo Faustini

Esperança

Muita gente boa já morreu, mas tem uma juventude aí que pode e deve entrar numa ação, porque a gente não vai durar para sempre. É preciso que cheguem outros para pegar o bastão dessa corrida. Essa é a esperança que tenho

Christiane Torloni, atriz e vencedora do Prêmio Ecoa

Christiane Torloni foi escolhida por votação popular como vencedora da categoria Vozes que Ecoam, no 1º Prêmio Ecoa por seu trabalho como ativista pelo meio ambiente. Ela é conselheira e representante da ONG Fundação Amazônia Sustentável (FAS), fundada em 2008 para a conservação ambiental da Amazônia com a valorização da floresta e biodiversidade; da melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas associada à implementação e disseminação do conhecimento sobre desenvolvimento sustentável. "A urgência que me levou para o caminho do ativismo", diz.

Ler mais
Topo