No início dos anos 2000, quando trabalhava para um dos principais diários da Venezuela, o independente 'El Universal', Yasmín Monsalve conheceu bem o dano que o discurso de populistas pode causar à imprensa que os fiscaliza.
A jornalista fazia reportagens em Caracas, onde nasceu, mas mesmo escrevendo sobre assuntos descontraídos do mundo das artes, populares a atacavam com agressões verbais quando saía às ruas para trabalhar.
Foi a época da reeleição para o segundo mandato do presidente Hugo Chávez, marcada por protestos, greves, golpe e contra-golpe. "Era um risco sair com o crachá de imprensa. Muitos atacavam com xingamentos e ameaçavam os repórteres", lembra.
Yasmín também tinha medo das barricadas violentas da oposição. Os grupos bloqueavam as ruas com móveis, lixo e entulhos e queimavam tudo o que viam pela frente — eram as chamadas "guarimbas", palavra vinda de jogos de infância que significa esconder-se em local seguro para autodefesa em um pega pega.
À noite, havia confrontos frequentes entre a Guarda Nacional e moradores da capital. A polícia disparava diretamente contra prédios residenciais no centro da cidade e os moradores revidavam jogando garrafas.
Mais de 20 anos se passaram. Famílias inteiras cruzaram - e ainda cruzam diariamente - as fronteiras do Brasil em busca de uma oportunidade.
Yasmín agora está do lado de cá, e se dedica a receber e acolher seus conterrâneos que fogem da mesma opressão que a levou a deixar o país.